Por Giuliana Preziosi, Editora do Blog Histórias pelo Mundo
Foto de Maurício Cichitosi / Blog Histórias pelo Mundo
Esta matéria é destaque na Edição 45 de Plurale em revista que está circulando
Na luta contra a extinção, os gorilas das florestas da África central representam uma das espécies mais ameaçadas do Planeta. Atualmente apenas cerca de 600 vivem nas florestas dos vulcões de Virunga, na fronteira de Uganda, Congo e Ruanda, e na floresta de Bwindi, no Sul de Uganda.
Segundo último relatório da UNEP (The Last stand of the Gorilla), é possível encontrar dois tipos de gorilas na África. Os gorilas-das-planícies são os que vivem no Parque Kahuzi-Biega, na República Democrática do Congo, cuja a população estimada é cerca de 5.000 gorilas. E os gorilas-das-montanhas, que ficam Floresta de Bwindi e no Parque Virunga, cuja população gira em torno de 600 gorilas.
Infelizmente, eles estão ameaçados por culpa da ação humana. Um filhote de gorila no mercado negro pode valer até 40.000 dólares. Além disso, a situação de pobreza, carência e falta de informação incentiva a população carente que vive nas proximidades a transformá-los em alimento. Outro problema é o avanço das mineradoras, madeireiras e carvoarias no habitat natural dos gorilas para construção de estradas.
A boa notícia é que segundo as autoridades locais, a população de gorilas aumentou nos últimos anos em consequência do desenvolvimento e aumento do turismo nas áreas protegidas. A aventura na trilha para encontrar os gorilas é cara, custa 500 dólares por pessoa. O dinheiro é usado para preservação da floresta, da espécie e também para projetos sociais com a comunidade local. Tudo é muito bem organizado, mas a trilha é bastante imprevisível.
O Histórias pelo Mundo foi até o sul da Uganda, no Bwindi Impenetrable National Park, para fazer a trilha dos gorilas. É preciso ter uma permissão especial do governo para acessar o parque e fazer a trilha. Chegando lá, fomos alertados sobre alguns pontos relevantes. A trilha pode levar de 1 à 9 horas para encontrar os gorilas, uma vez que eles se movem rápido e estão espalhados pela floresta. Não é permitida a entrada de pessoas com algum tipo de doença porque pode contaminar os gorilas. É preciso estar preparado fisicamente, pois são gorilas-da-montanha, isso significa que a trilha é repleta de subidas e descidas íngremes.
Como não se sabe quanto tempo pode levar a aventura, é aconselhável levar no mínimo 3 litros de água por pessoa e também um lanche e alimentos leves. Além de capa de chuva, repelente e, claro, a máquina fotográfica. Só que para carregar tudo isso em uma trilha que pode ser bastante longa, não seria nada fácil se não fosse uma ideia muito bacana para ajudar a comunidade local. Você pode contratar um carregador para levar sua mochila, por cerca de 15 ou 20 dólares. São moradores da região, que estão habituados a andar na selva e fazem disto sua fonte de renda. Dessa forma, a população da região se vê estimulada a preservar os gorilas, em vez de caçá-los para servirem de refeição.
Ainda, há casos de pessoas que não aguentam a trilha depois de muitas horas de percurso e contratam pessoas para literalmente carregá-las no colo. Já esse “serviço” pode custar cerca de 500 dólares.
A trilha começa às 7h da manhã, em grupos de 8 a 10 pessoas. Cada grupo tem um ponto de início e faz um percurso diferente pela selva adentro. Todos os grupos têm o seu guia e mais 2 guardas florestais ou “rangers” (como eles chamam) para garantir a segurança do grupo pela floresta. Além disso, há rastreadores (ou “trackers”) que vão na frente de cada grupo e que se comunicam por rádio para passarem as coordenadas de qual caminho percorrer na busca aos gorilas.
Depois de todo esse briefing com orientações, eu diria um pouco assustadoras, iniciamos nossa jornada pela selva. Logo de cara, uma super subida na montanha. Quando estávamos na metade da montanha, recebemos a melhor notícia de todas: os gorilas estariam ali no topo da montanha. E não fazia nem 1 hora que estávamos na floresta! Ouvir isso foi quase como uma injeção de energia para chegar ao topo.
Quando há indícios que os gorilas estão próximos, é preciso deixar as mochilas, água e demais apetrechos com os carregadores e seguir o caminho carregando apenas a máquina fotográfica. Isso é para não chamar a atenção dos gorilas com comidas e coisas do tipo, pode não ser seguro.
Andamos mais alguns metros e lá estava uma família inteira de gorilas em cima das árvores.
Embora alguns filmes e histórias em quadrinhos mostrem os gorilas como monstros ferozes, eles na verdade aceitam pacificamente a presença de humanos entre eles. O macho estava comendo frutinhas no topo da árvore, a fêmea descansando em um dos galhos, e um gorila bebê passeando de galho em galho. Ficamos mais de 1 hora observando o comportamento deles, até sermos surpreendidos com uma fêmea grávida passando a menos de 5 metros de distância de nosso grupo. Nisso, o gorila macho grande e imponente (o “silver back”) desceu da árvore, como se quisesse nos cumprimentar e dizer “quem manda aqui sou eu!”.
Tivemos muita sorte em tê-los encontrado tão rapidamente e fomos o primeiro grupo a retornar ao ponto de partida. Observá-los assim tão de perto dentro de seu habitat natural foi uma das experiências mais incríveis que já vivenciamos.
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(*) O Projeto Histórias pelo Mundo é uma expedição de 500 dias pelos 5 continentes que visa compreender os desafios e as oportunidades presentes neste Planeta em que vivemos.
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Fontes:
Nellemann, C., I. Redmond, J. Refisch (eds). 2010. The Last Stand of the Gorilla – Environmental Crime and Conflict in the Congo Basin. A Rapid Response Assessment. United Nations Environment Programme.
Endangered Species International http://www.endangeredspeciesinternational.org/gorillas.html