Por Sônia Araripe, Editora de Plurale
Não se iluda com a aparência frágil e a voz suave. Marina Grossi é, sem dúvida, uma verdadeira "leoa" na defesa da Sustentabilidade. Na presidência do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) desde 2010, a economista tem feito diferença nos últimos anos articulando e procurando trazer mais e mais empresas para a agenda da transição para a tão sonhada economia de baixo carbono.
Sempre ativa nas principais rodas de negociação pelo Acordo do Clima, Marina Grossi está envolvida atualmente na divulgação da "Agenda CEBDS para um País Sustentável", uma plataforma com pautas prioritárias para o setor empresarial brasileiro no que se refere ao desenvolvimento sustentável. Os encontros com candidatos à Presidência da República estão acontecendo para compartilhar esta Agenda. "Para esse momento, o CEBDS buscou debater com os associados qual a visão de futuro que queremos para o Brasil, e quais as ações e políticas que precisam ser adotadas para que consigamos alcançar esse ideal", explica. O trabalho é intenso também nos preparativos finais pelo lançamento de mais um evento "Sustentável 2018" - a ser realizado em São Paulo no dia 11 de setembro - com vários especialistas internacionais e nacionais de peso. "Como convidados internacionais, temos Pablo Cardinale, especialista sênior em meio ambiente da Internacional Finance Corporation (IFC), que falará sobre como as mudanças climáticas afetam o acesso ao capital, e Gabriela Wurcel, Vice-Presidente de Assuntos Corporativos para a América Latina e Canadá da Philip Morris International (PMI), que falará sobre inovações da empresa em prol do desenvolvimento sustentável", revela.
Confira a seguir os principais pontos desta entrevista exclusiva para Plurale.
- Qual é a Agenda Cebds para um País Sustentável?
A Agenda CEBDS por um País Sustentável desenvolvido pelo CEBDS em parceria com os CEOs das empresas associadas reúne as pautas prioritárias do setor empresarial brasileiro no que se refere ao desenvolvimento sustentável. Para esse momento, o CEBDS buscou debater com os associados qual a visão de futuro que queremos para o Brasil, e quais as ações e políticas que precisam ser adotadas para que consigamos alcançar esse ideal. Usamos a base de experiências e gargalos de nossas empresas para organizarmos sugestões de políticas públicas capazes de alavancar o crescimento do País em bases mais sustentáveis nos próximos quatro anos. São dez propostas que vão desde eficiência energética, redução de emissões, saneamento, reuso de água, a até mais transparência na igualdade de gênero e raça no ambiente de trabalho.
- Qual a expectativa para a realização de mais um Sustentável?
Para essa edição, optamos por trabalhar a "Agenda CEBDS por um País Sustentável” como bússola para os paineis, e como eixo central para nortear os debates a pergunta: qual é a sociedade que nossos negócios estão construindo?
É fundamental que sejamos capazes de refletir e demonstrar para o público que o futuro dos nossos negócios está ligado ao futuro da sociedade, à preservação e ao uso eficiente dos recursos naturais. Por isso é tão necessário que possamos debater, coletivamente, o que queremos e como tornar isso possível.
- Quais são os principais convidados? Falarão sobre que temas?
O Congresso Sustentável 2018 reúne diversos CEOs de nossas empresas associadas, representantes de organizações que tem atuação alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e especialistas nos temas propostos. Como convidados internacionais, temos Pablo Cardinale, especialista sênior em meio ambiente da Internacional Finance Corporation (IFC), que falará sobre como as mudanças climáticas afetam o acesso ao capital, e Gabriela Wurcel, Vice-Presidente de Assuntos Corporativos para a América Latina e Canadá da Philip Morris International (PMI), que falará sobre inovações da empresa em prol do desenvolvimento sustentável. Também teremos painéis de alto nível com os CEOs da Shell, Vestas, Siemens, BRK, Ambev, Santander, e os principais executivos da Natura, UBS, BID, Itaú. Vamos também falar de precificação de carbono nas empresas e da criação de um mercado de carbono no País, e vamos discutir qual a influência das Mudanças Climáticas no acesso ao capital.)
- É possível acreditar na tão sonhada migração para a economia de baixo carbono? O que as empresas têm feito? O que ainda falta?
Não se trata mais de acreditar ou não acreditar. É um caminho sem volta, e as empresas que não entenderem isso a tempo, correm o risco de desaparecerem. Hoje mais de 1500 governos nacionais e subnacionais já adotam a precificação do carbono, seja por meio de tributação, seja por adoção de um mercado de carbono. No mundo todo as empresas também estão se preparando para essa realidade. No Brasil temos 50 empresas já fazendo sua precificação interna e decidindo investimentos considerando que estamos em transição para uma economia de baixo carbono e que essa variável tem que ser computada agora para que os investimentos das empresas possam continuar viáveis no futuro. O Brasil é o País que mais cresceu em relação a esse tema e é um importante ator nas discussões climáticas no mundo. Temos enorme vantagens mundiais num eventual mercado global de carbono e o setor privado brasileiro tem sido protagonista nesse tema no Brasil. Em julho, o CEBDS entregou ao Ministério da Fazenda estudo que aponta as vantagens da adoção de um mercado de carbono no Brasil, e fomos muito bem recebidos pelo ministro Eduardo Guardia. Acreditamos que esse seja o melhor caminho para a transição energética: a adoção de um mercado, com transparência e flexibilidade entre setores, e valorizando nossas florestas. É preciso usar a velha economia baseada em combustíveis fósseis para financiar a nova economia de baixo carbono. Essa é a transição necessária e urgente.
- A questão da energia renovável também será abordada. De que forma?
A questão da energia perpassa cinco das dez propostas da nossa Agenda CEBDS por Um País Sustentável e será transversal em nossos painéis. Temos entre nossas empresas associadas multinacionais que estão comprometidas com uma economia de baixo carbono, e que abordarão exemplos, dificuldades e oportunidades desta nova economia. Um exemplo é a Shell, investindo na Raízen, ou a Total, que se uniu à Petrobras para buscarem juntas oportunidades de investimentos em energia solar. Ou a Siemens, com quem produzimos um importante estudo sobre ferrovias eletrificadas. Essas empresas estão na ponta das discussões mundiais sobre o tema, o que permite ao CEBDS liderar discussões empresariais voltadas ao desenvolvimento sustentável e propor que soluções práticas de ponta ganhem escala no País. O evento será uma oportunidade para o público debater com executivos de alto nível experiências implementadas e conhecer sua visão de futuro como empresários e cidadãos.
- Em relação à precificação de carbono, muitas empresas comprometidas, mas diversas pequenas e médias ainda "tateando". Como realmente encorajar todas - independente do porte - a abraçar a causa tão urgente?
Um dos principais papeis do CEBDS é reunir as experiências das maiores empresas do País para que possam servir de farol para guiar as demais num caminho pautado pela sustentabilidade. No caso da água, por exemplo, fizemos um guia sobre a economia circular da água, traduzimos e adaptamos do nosso parceiro World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) um guia para CEOs considerarem o uso eficiente da água em sua tomada de decisões, criamos um Compromisso Empresarial para a Segurança Hídrica, assinado por 20 de nossas associadas, e agora estamos desenvolvendo um hub que vai concentrar as informações de nossas empresas sobre o uso da água e monitorar o cumprimento das metas estabelecidas no compromisso assinado por elas, de forma transparente, dando visibilidade sobre o que elas estão fazendo, não somente para a sociedade, como para servir de exemplo e de engajamento para outras empresas. No caso da precificação de carbono, vamos no mesmo caminho. Em parceria com iCS (Instituto Clima e Sociedade), CDP (Carbon Disclosure Project) ou CPLC (Carbon Price Leadership Coalition), do qual passei a fazer parte este ano junto a outros sete representantes mundiais, estamos levando esse debate para empresas e para autoridades. Já fizemos uma carta aberta com a assinatura de 26 empresas em favor da precificação de carbono no Brasil, desenvolvemos o estudo que levamos ao Ministério da Fazenda defendendo a criação do mercado de carbono e estamos sempre buscando ampliar o alcance de nossas mensagens para um público maior, seja por meio de workshops, como os que estamos fechando para ser desenvolvidos em outros estados em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) para falar desse tema, seja por meio de novas publicações. De acordo com o CDP, parceiro estratégico do CEBDS no tema de precificação de carbono, atualmente 51 empresas já praticam ou pretendem praticar em um futuro bem próximo, mecanismos de precificação interna do carbono. É necessário que as empresas entendam que caminhar para uma economia de baixo carbono garante competitividade frente ao mercado internacional, além garantir acesso a financiamentos no futuro. Recentemente o Banco Mundial anunciou que não financiará mais projetos de energia fósseis e essa é uma tendência que dificultará o acesso ao capital para empresas que não sejam preocupadas com as questões climáticas. Em todos os temas que desenvolvemos a preocupação com as pequenas e médias empresas está presente também por meio da atuação das grandes empresas em propagar e estimular sua cadeia de fornecedores com as melhores práticas.
- Este ano temos Eleições e transparência/combate à corrupção tem sido uma bandeira do CEBDS há anos. Muitas empresas estiveram envolvidas nos recentes escândalos de corrupção. O CEBDS tem trabalhado no sentido da maior transparência e combate à corrupção?
A transparência é um dos pilares da sustentabilidade e é explicitada em diversas frentes que atuamos. Temos discutido como aprimorar mecanismos de controle e apoiado movimentos e iniciativas que também tenham esse enfoque.