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Especial Mulher

Evento #mulheresprafrente, realizado pelo Bradesco, emociona plateia de 2 mil convidadas em São Paulo

Fernanda Montenegro e várias mulheres protagonistas compartilham histórias em encontro inspirador

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale / De São Paulo

Fotos de Alexandre Fatori e Maurino Borges (Divulgação/Bradesco) e Sônia Araripe (Plurale)

Eventos costumam acontecer aos borbotões, cada um no seu formato e propósito. Mas poucos - realmente poucos - conseguem não só prender a atenção do público, como ainda inspirar de verdade. Foi este o resultado do #mulheresprafrente, evento realizado pelo Bradesco , no Golden Hall do World Trade Center, em São Paulo, nesta terça-feira, dia 19 de novembro, para seleta plateia de 2 mil mulheres: clientes, parceiras, funcionárias e convidadas puderem ouvir, se inspirar e se emocionar com o time relevante de palestrantes.

A Diretora-Executiva do Bradesco, Glaucimar Peticov, deu as boas vindas, lembrando que este foi o segundo encontro #mulheresprafrente : o primeiro foi realizado no mesmo salão do WTC, em maio. Conclamou para um abraço em quem estava próximo e frisou que mais do que palestrantes, seria um dia para inspiração em torno de testemunhos. "No primeiro, o foco foi mais no comportamental. Ouvimos as convidadas, e, neste agora, procuramos focar no empreendedorismo, no fortalecimento financeiro e na saúde", explicou Glaucimar à Plurale.

Na sequência, o Presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, destacou o protagonismo de mulheres, não só na sociedade, como também nas corporações. Citou Paulo Freire - lembrando que as pessoas mudam o mundo - e frisou que "quanto mais mulheres fazendo melhor, vamos melhorar o mundo". Trabuco alertou para o risco da chamada "síndrome do impostor", quando a pessoa se autoboicota. "Há oportunidades para todos", garantiu, lembrando a força do empreendedorismo feminino.

De MC Sofia à Fernanda Montenegro

A rapper MC Sofia, de apenas 16 anos, fez a abertura, dando o tom do que estava por vir. A moderação foi da jornalista e apresentadora Ana Paula Padrão, engajada na causa feminista e que ajudou a conduzir, como uma prosa o fio desta história. Porque este não foi um evento comum, destes de começo, meio e fim. Não foi mesmo. Que epílogo... épico e grandioso como momentos assim merecem ser. A atriz Fernanda Montenegro, celebrando 90 anos de vida, brindou as convidadas não só rememorando - como em uma prosa - momentos de sua trajetória pessoal e da carreira de premiada atriz, como ainda encerrou com a leitura do epílogo de seu livro de memórias - "Prólogo, ato e epílogo", recém-lançado. Foi aplaudida de pé pelas 2 mil mulheres como em cena aberta. De arrepiar.

Ela contou sobre os projetos em andamento: três novos filmes a serem lançados e o livro sobre a sua trajetória. "Ser atriz é o meu ofício", frisando que nunca foi fácil ser atriz desde os primórdios da História. Deu conselhos para uma jovem atriz, que enviou pergunta pelo celular, reforçando ser preciso sim seguir a vocação, desde que tivesse mesmo certeza, e que ainda "dava tempo de desistir", provocando risadas na plateia.

Ana Paula perguntou sobre o momento mais triste e ela lembrou, emocionada, a partida dos queridos familiares e amigos, como seu companheiro de vida e cena, o ator Fernando Torres e da irmã, cinco anos mais nova, que faleceu, aos 69 anos, do coração. “É preciso enfrentar o acaso", respondeu, admitindo que tem momentos de tristeza e saudades sim, como todos, mas não se deixa abater pelo pessimismo e tristeza.

Fernanda Montenegro falou sobre as dificuldades das mulheres ao trabalhar, como na hora de deixar os filhos com alguém da família, creche ou babá para trabalhar . “Isso é sempre muito sofrido", contando esperar que um dia não exista este sentimento da culpa. Lembrou que na véspera tinha feito uma leitura de trecho de livro sobre o escritor Nelson Rodrigues no Theatro Municipal de São Paulo e uma grande fila do público se formou desde as 7h. "Era só uma leiturazinha ...", contou, lembrando que daria até três atuações para atender a ávida plateia. Defendeu a relevância da cultura e a formação de público, lamentando o que chamou de "tempos atuais difíceis" para a classe cultural.

Modesta, sem perder a grandiosidade da aura de grande dama da dramaturgia brasileira, entremeava suas falas com frases como "isso é o que eu penso" e "não sei se era isso que você estava me perguntando". Comparou o evento à uma peça no teatro e ficou emocionada quando uma convidada da plateia - de ascendência japonesa - a comparou com uma deusa. "Será?", e discorreu sobre o destino, o lado mais espiritual e o que espera ser - "uma longínqua despedida". O grand finale foi, sem dúvida, a leitura do Epílogo de seu novo livro. Celulares registraram o momento único e muitas convidadas, emocionadas, choraram.

A reação do público

"Estou até agora emocionada, chorei", comentou a Chef de cozinha Danielle Dahoui, convidada para o evento. "Uau! Foi incrível estar aqui e poder participar deste dia tão inspirador", disse Danielle, que também veio na primeira edição do evento, em maio. Com 28 anos de experiência profissional, a Chef lembrou não ser fácil para uma mulher empreender e que buscou ajuda profissional em cursos e especialistas para avançar na carreira. "Sou muito boa em gestão de pessoas, na cozinha e em ações criativas. Mas não tinha experiência na gestão do negócio e na parte financeira. Me preparei." Danielle relatou já ter oferecido oportunidades para ex-presidiários, alcolatras e prostitutas. "As pessoas precisam só de oportunidades." Aplaudiu também as outras palestrantes e disse que "é espetacular ver o afroempreendedorismo crescendo forte."

As amigas empresárias Genevieve Junqueira, Solange Leal e Gina Marcocci também comemoravam a oportunidade de terem sido convidadas, como clientes do Bradesco. "Evento emocionante e inspirador", classificou Gina, complementada por Solange e Genevieve, lembrando o cuidado com a escolha das palestrantes e da organização do evento. "Cada detalhe foi pensado", frisou Genevieve, que tem loja de roupas.

Organização, cenografia e curadoria do evento fizeram diferença

A organização, cenografia e curadoria do evento também fizeram toda a diferença. Da delicadeza da fitinha do crachá - cada uma diferente da outra, tecida com uma cor e tons diferenciados - até os detalhes do café natural, com suco detox, muffin de aveia e frutas servidas em grandes tachos de madeira. Sem falar no almoço alinhado com a sustentabilidade sem material plástico servido em potes e copos de mandioca, com garfinhos de madeira reciclada.

Ainda do capítulo de guloseimas, uma instalação oferecia donuts como se fossem tintas na paleta de pintores e carrocinhas encantavam pelo lado lúdico de provinhas de brigadeiro de colher. Mais feminino, impossível. A decoração era complementada por bancos de madeira de demolição e uma entrada cenográfica - com fitas coloridas com mensagens como motivação, força e empoderamento - remetia à mata, até mesmo com cheiro.

Históridas inspiradoras de empreendedoras

Giovana Xavier, professora e historiadora da UFRJ contou sobre a plataforma @pretadotora, que estuda a participação de negras na pós-graducação. "Por que só 0,4% das professoras doutoras na pós-gradução no Brasil são negras?“, questionou. E emocionou a plateia ao lembrar da mãe - professora - que pegava livros emprestados na biblioteca da escola para ler para os filhos. "Ela foi uma traficante de sonhos", resumiu, sendo muito aplaudida.

Falaram a seguir, a fazendeira/dentista Marize Porto e a empreendedora Fernanda Ribeiro . A dentista de formação Marize contou que, da noite para o dia, com a morte do marido, teve que aprender a administrar a fazenda da família. "Tínhamos dívidas e eu não tinha experiência no ramo. Procurei a ajuda de especialistas, me aperfeiçoei e conseguimos nos diferenciar com um modelo de agropecuária sustentável", explicou. Enfrentou o preconceito de fazendeiros e hoje, 13 anos depois, a Fazenda Santa Brígida, localizada em Ipameri (GO), tem sido premiada pela experiência bem sucedida do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. Fernanda falou sobre a Associação AfroBusiness, rede que conecta empreendedores negros e oferece ferramentas para eles se conectarem com grandes empresas da cadeia de valor. "Juntos somos mais fortes", frisou.

A Head da Corretora Ágora, Nathalia Garcia, que integra a Organização Bradesco, falou sobre empoderamento feminino pelo lado das finanças. "Podemos e devemos sim falar e cuidar de investimentos e da gestão de dinheiro", sentenciou. Fez uma apresentação diferente do seu perfil - falando de mulheres nordestinas fortes na sua família - e comemorou o crescimento dos investimentos de mulheres em ações na B3. "Ainda é um percentual relativamente baixo, de 22%, diante do total de homens, mas houve avanço de 91% de 2000 até 2019. Isso é sensacional", afirmou.

Duas jovens protagonistas negras de 25 anos encerraram a parte da manhã do #mulheresprafrente. A baiana Monique Evelle apresentou o seu novo livro - ( “Empreendedorismo feminino: Olhar estratégico sem romantismo”, da Coleção Reflete o Feminino - , que procura desmistificar o tema, trabalho didático como o de Gabriela Chaves, do No Front, que busca ensinar através de raps como investir. "Os jovens de periferia precisam sair de suas comunidades e saberem o que acontece na cidade em termos de cultura, empreendedorismo e oportunidades", disse Monique, defendendo a educação financeira nas escolas e revelando que nos próximos anos quer trabalhar em uma iniciativa inovadora para melhorar a distribuição de renda, transformando cliques em dinheiro no bolso. Gabriela assegurou que "quem tem amigos tem tudo", reforçando que nem sempre dinheiro é tudo. Disse esperar que o sentimento de culpa não deve atrapalhar as mulheres. "A autoestima não é estética. É sobre se sentir capaz. Nós, mulheres, somos múltiplas e muitas. Por isso não podemos falar no singular. Somos mulheres."

Após o almoço, foi a vez da roda de diálogo com a ativista Mafoane Odara - que combate a violência contra mulheres - e a jornalista Mariana Ferrão, sempre com a delicada e decisiva moderação de Ana Paula Padrão. Mariana contou que enfrentou graves crises de depressão, primeiro na adolescência e depois no nascimento do primeiro filho, falando sobre as doenças do século. “Eu precisava saber quem eu era . E a maternidade mudou muito a minha vida . Precisava falar mais de prevenção e saúde do que de doença .” Mafoane contou sobre o seu trabalho como ativista incansável no enfrentamento à violência contra as mulheres e fez uma rápida enquete com a plateia. Constatou que poucas sabiam realmente "o que faziam bem, no que eram boas".

Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva do Bradesco, comemorou os resutados do evento e disse, no encerramento, esperar que, no terceiro encontro, em 2020, este número cresça. "Queremos mais e mais mulheres se encontrando e sabendo empreender no que fazem bem", destacando que o empreendedorismo também pode ser interno, dentro de corporações,o chamado intraempreendedorismo.







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