Por Malu Fernandes, Colunista de Plurale (*)
Recebi um whatsapp da professora do município, Tânia Chagas, que conheci na luta do Movimento SanitaRIO, cujo manifesto de lançamento assino como cofundadora, em busca do sonho de um saneamento melhor no Rio de Janeiro. Moradora de Campo Grande, já formou alunos que hoje fazem mestrado e doutorado na França, Canadá e outros países. A Tânia é gente que faz acontecer através da educação. Eis que ela me fala sobre o lindo trabalho de um casal em busca de reflorestamentos no Morro da Posse, em Campo Grande. Ele é produtor audiovisual, e ela, Bióloga, professora de Ciências do município de Itaguaí. Thiago Neves e Marcela Fonseca moram no bairro há oitos anos, a idade da Isabela, a filha mais velha. O outro é o Bento, de três anos.
Ele morava em Cosmos, ela cresceu no pé do morro e, juntos, criaram a organização Nosso Bosque, há cinco anos, quando se tocaram do potencial ambiental gigantesco que a Serra da Posse tem para virar floresta e começaram a trabalhar na mobilização dos moradores do entorno já que seriam os maiores beneficiados com a preservação do meio ambiente. Há mais de 70 espécies de aves fora os anfíbios, mamíferos, repteis, borboletas neste “pequeno espaço verde cercado de gente por todos os lados”, como eles próprios pontuam no instagram do movimento, @nossobosque. Nem tão pequeno assim porque eles, a Tânia e outros engajados na causa querem que a Floresta da Posse tenha cerca de 200 hectares, ou seja, 2.000.000 de m2, isto é equivalente a 200 campos de futebol, entre a Serra do Mendanha e o Maciço da Pedra Branca, onde se localiza a maior floresta urbana do mundo e que leva o seu nome. Lá são 12.500 hectares. Isso sim é bastante!
Hoje, 100 hectares da futura Floresta da Posse já foram reflorestados com 20 espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica, principalmente Anda Açu, Aroeira, Cajá-mirim, Embiruço, Guarajuca, Ingás, Ipês, Mamão-do-maro, Mutambo e Tarumã. Faltam cerca de 100. Não importa o tamanho. A floresta urbana pode criar ou restaurar a biodiversidade ao conectar a cidade com área verde existente no entorno e as 70 escolas públicas entre municipais e estaduais em um raio de 5 km podem usar a cidade, ou melhor, a floresta como sala de aula. “Já fizemos plantios com os filhos dos professores”, orgulha-se Marcela, contando sobre a importância do engajamento da sociedade civil no sonho. “Só assim teremos verdadeiros fiscais da natureza”, complementa Thiago. “Queremos trazer os pais agora”, antecipam.
O casal pode ser chamado de Major Archer do século XXI. O Major Gomes Archer comandou o replantio da Floresta da Tijuca entre 1861 e 1874 e hoje ela é este pulmão verde para toda a cidade com seus 4,2 mil hectares, referência nacional e internacional. Ao todo, os moradores do bairro já conseguiram plantar mais de 15 mil mudas entregues graças à compensação ambiental, mecanismo legal de contrapartidas das empresas que causam danos ao meio ambiente. Estes bolsões verdes são importantes para oxigenar a cidade. Funcionam como refúgio para a biodiversidade numa área rodeada por 60 mil pessoas onde a pressão por ocupação é muito grande. Há duas semanas o secretário de meio ambiente, Eduardo Cavaliere, esteve no local e comentou com os moradores sobre os estudos para a Floresta da Posse sair do papel. Como gestor público, certamente ele sabe que há uma agenda transversal que faz a floresta “dialogar” com as secretarias de Saúde, Educação, Desenvolvimento Econômico, Lazer, Envelhecimento Saudável, Esportes, Juventude, Cidadania, Cultura, Turismo e outras. E pensar que isso tudo era um depósito de lixo..
*Malu Fernandes é jornalista premiada, consultora de Comunicação, membro da Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais, cofundadora do Projeto Vale Encantado e do Movimento SanitaRIO, além de sócia do Projeto Rio Amazonas do Gelo ao Mar.