Por Giuliana Preziosi, Colunista de Plurale (*)
A ascensão da tecnologia, o mundo globalizado e em rede fazem com que todos tenham acesso fácil e rápido a qualquer tipo de informação, tornando decisões e escolhas cada vez mais difíceis de serem tomadas. O trabalho das empresas em atrair e reter funcionários se torna mais desafiador. Aparecem questões como: “em qual empresa trabalhar?”, ou “em qual empresa não quero trabalhar?”, “o que esta empresa está fazendo em relação a determinado assunto?”, “como é o ambiente de trabalho?”. Ser funcionário de uma empresa passa a ser mais do que receber um salário por fazer um serviço. E neste contexto surge a necessidade de falar em engajamento.
Segundo a Gallup, empresa global que avalia engajamento, em média apenas 30% dos funcionários se sentem engajados no trabalho considerando os últimos 18 anos de pesquisa. De acordo com a pesquisa Panorama Engajamento Brasil, feita em 2018, 64% dos entrevistados afirmaram existir um projeto (ou grupo de ações) para aumentar o engajamento dos colaboradores em suas empresas. No entanto, ao atribuírem uma nota de 1 a 10 para eficácia deste projeto de engajamento, a média geral foi 6,76.
O baixo nível de engajamento no trabalho pode ser considerado um dos problemas econômicos globais mais alarmantes, pois é um fenômeno que reduz performance. Mas, se conduzido de forma assertiva pode se constituir como uma grande vantagem competitiva, trazendo aumento de produtividade, melhoria de clima organizacional e muitos outros benefícios.
Tudo isso fica ainda mais desafiador ao olhar para a geração Z, jovens que estão começando suas carreiras. Há muitas divergências em relação aos recortes específicos de cada geração, no entanto pode-se dizer que a Geração Z compreende as pessoas nascidas a partir de 1995, atualmente com cerca de 18 a 26 anos. Mas o que esta geração tem de especial? É a primeira geração que nasceu no mundo da tecnologia com acesso à internet. Já imaginou o impacto disso?
São jovens questionadores justamente por terem acesso fácil a informações sobre qualquer assunto. Eles querem se sentir ouvidos e valorizados. Buscam prazer no que fazem, tanto na vida pessoal quanto profissional. Trabalhar, para essa galera, tem que trazer algum sentido para suas vidas e por isso deve haver conexão com seus valores. É um jovem muito mais consciente dos problemas globais que enfrentamos, mudanças climáticas, escassez de recursos naturais, desigualdades sociais, preconceito, discriminação, entre vários outros. Podem não saber com detalhes, mas têm consciência destes desafios. E por isso não querem trabalhar em empresas que, na sua visão, provoquem algum impacto negativo para sociedade.
Isso gera um desafio enorme para o mundo corporativo, principalmente ao considerar o futuro do trabalho. Reter esse jovem não é tarefa simples porque eles não têm medo de mudança e vão atrás de sentido, de realização e de propósito.
Uma visão estratégica de sustentabilidade para os negócios traz valores para a cultura organizacional. Valores estes que são percebidos por este jovem que quer atuar em organizações que causem impacto positivo de dentro para fora e de fora para dentro dos muros da empresa. Dessa forma, ter uma gestão para sustentabilidade pode ser crucial para uma visão de longo prazo de qualquer organização.
Além disso, é muito importante para o jovem da geração Z poder ser ele mesmo. E a empresa deve não só dar abertura para isso, mas valorizar e promover um ambiente corporativo, aberto e de troca. Para tal é preciso falar em Diversidade e Inclusão. Este jovem entende o mundo diverso e cobra uma postura aberta e inclusiva das organizações. Pautas como racismo, equidade de gênero, homofobia e acessibilidade, entre outras, precisam ser discutidas e encaminhadas.
Outro ponto é a própria questão intergeracional. Com o aumento da expectativa de vida, temos 4 gerações convivendo no mercado de trabalho, cada uma com características marcantes porque viveram períodos históricos muito diferentes. É preciso haver um olhar focado nas potencialidades de cada geração e não nos problemas. A troca intergeracional pode trazer ganhos muito expressivos se houver uma gestão apropriada.
Mas não basta um posicionamento de marketing raso, sem ações efetivas que comprovem a geração de valor para diferentes partes interessadas. Valores institucionais concretos são percebidos e não apenas escritos em uma folha de papel.
Considerando uma ampla revisão de artigos na literatura acadêmica e também entrevistas com grandes empresas brasileiras que figuram tanto no Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 quanto no ranking das Melhores Empresas para Começar a Carreira da Você SA, foi possível elencar algumas práticas que exercem grande influência na relação entre sustentabilidade e o engajamento da geração Z no trabalho.
- Programa de Diversidade e Inclusão
A Geração Z enxerga a Diversidade como algo natural e característico do mundo atual e isto precisa estar refletivo no ambiente corporativo. Poder ser você mesmo é essencial!
- Treinamento e capacitação
O jovem valoriza a aprendizagem, seja de questões relacionadas à sustentabilidade ou de maneira mais geral.
- Programa de Voluntariado Corporativo
O voluntariado pode ser uma incrível oportunidade para uma atuação protagonista visando impacto positivo na sociedade.
- Programa de Qualidade de Vida e maior flexibilidade no trabalho
O balanço entre vida profissional e pessoal é fundamental, além disso ter maior flexibilidade no trabalho são práticas importantes para que esse jovem permaneça na empresa.
- Ações de impacto positivo para a sociedade
São várias as possibilidades! Cabe um mergulho no tão falado ASG, promovendo ações com foco Ambiental, Social e de Governança. Precisa ser estratégico e trazer uma relação de ganha-ganha para as diferentes partes interessadas.
- Ações de fomento à inovação e tecnologia
A inovação é importante e está tanto na forma de fazer através de metodologias ágeis, grupos de trabalho multidisciplinares e estratégias de colaboração, como na entrega de produtos e serviços diferenciados.
Sustentabilidade passa a ser requisito para sobrevivência de muitas empresas, caso contrário podem ter dificuldade de lidar com uma geração que está entrando no mercado de trabalho disposta a contribuir com soluções e não aumentar os problemas já existentes. O desafio para as empresas está em canalizar essa energia dos jovens para promover inovação, potencializar uma troca intergeracional, gerar mudanças e conectar pessoas. Sustentabilidade entra como motor transversal que gera valor de longo prazo e direção para uma estratégia mais colaborativa, coletivista e inclusiva.
(*) Giuliana Preziosi é Colunista Plurale, Sócia na Conexão Trabalho Consultoria e Mestre em Gestão para Sustentabilidade. Este artigo apresenta parte dos resultados de seu trabalho de mestrado “A Influência da Sustentabilidade no engajamento da Geração Z no trabalho”.