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Entrevistas

Marcos Palhares pode ser o próximo astronauta brasileiro

Palhares é engenheiro e pesquisador ligado à Virgin Galactic, do bilionário Richard Branson

Por Hélio Rocha, Especial para Plurale

Marcos Palhares pode ser o próximo astronauta brasileiro. Depois da viagem de Marcos Pontes, em 2006, realizada em parceria com a Agência Espacial Federal Russa, desta vez a façanha pode ocorrer graças às novas expedições da iniciativa privada. Palhares é engenheiro e pesquisador ligado à Virgin Galactic, do bilionário Richard Branson. A expedição do brasileiro deve ocorrer entre 2023 e 2026, e, enquanto não levanta voo, ele realiza atividades preparatórias como simulações de gravidade e voos controlados em caças supersônicos. Firme defensor do legado de Santos Dumont, faz frente aos colegas americanos na velha polêmica sobre a invenção do avião. Palhares conversou com Plurale e falou sobre todos esses assuntos.

Plurale - Vamos ver nos próximos anos um crescimento da chegada das pessoas ao espaço, via empresas privadas. Você imagina que isso possa contribuir, num futuro de médio prazo, para o surgimento de uma economia não só de turismo espacial, mas também de pesquisa científica e desenvolvimento de tecnologias, com mais experimentos e trabalhos desenvolvidos no espaço?

Palhares - Sem dúvida, o que o espaço precisa é de abertura, democratização das atividades, livre acesso, com mais alternativas, com foguetes que levem pessoas ao espaço, com novas atividades, seja pela exploração, seja pelo turismo, que possam desencadear novas cadeias produtivas.

Plurale - A questão ambiental, de monitoramento da terra e preservação do meio ambiente, pode se beneficiar da ampliação ocupação espacial com as empresas privadas?

Palhares – Também. Aqui no Brasil, com o lançamento do Amazônia 1, um satélite totalmente nacional com foco na supervisão de queimadas e outros problemas na Amazônia, pode-se monitorar o meio ambiente em tempo real, de forma a criar mecanismos de segurança para essa região. Isso aumenta a segurança, melhora a atuação policial, servindo à preservação desse ecossistema. É apenas um de muitos exemplos.

Plurale - Apesar de ocorrer um aumento no número de expedições à órbita da terra, ainda estaríamos distantes da conquista de outros corpos celestes, como luas e planetas, não é? Porém, tecnologias mudam tão rápido, que é muito imprevisível. Alguém pensava em conquista do espaço quando Santos Dumont inventou o avião?

Palhares - É um ponto interessante. Quando Santos Dumont inventou o avião, ele já havia lido o Júlio Verne, muitos anos antes, quando era criança. E o escritor francês já tinha livros de ficção sobre isso, como o livro Da Terra à Lua, em que Verne descrevia foguetes muito similares aos que existem hoje, em forma de projétil, em que o homem ganharia o espaço. Cem anos se passaram e chegamos ao espaço. O homem mal tinha descoberto a energia elétrica, mas já sonhava com isso. A ficção científica pode ser o futuro da própria ciência, já que ativa as mentes criativas de gênios como Santos Dumont. Por isso a viagem interplanetária pode estar logo ali.

Plurale - Prosseguindo o assunto: você pretende levar um livro pessoal de Santos Dumont ao espaço, e é um pesquisador da vida e legado do, talvez, mais importante cientista brasileiro. Este legado, no entanto, encontra-se perdido pela propaganda americana e desvalorização por muitos brasileiros. Como você pretende ajudar a reconstruí-lo? Há realmente uma injustiça na questão Dumont x Wright?

Palhares - Sim, eu acredito que há injustiça. Para solucionar isso, eu acho que ele deveria ser grade obrigatória nas escolas do ensino fundamental e médio. Inventar o avião não foi só fazer voar o 14-Bis. Dumont foi um precursor de toda a navegação aérea, com o primeiro dirigível, o primeiro voo mais pesado que o ar, em 1906, e a primeira aeronave replicável e possível de ser pilotada por outras pessoas que não o próprio inventor: o projeto 19, mais conhecido como a Demoiselle, de 1909. Essa pesquisa completa tornou a aviação, de fato, possível. Por isso o título “Pai da Aviação”. Isso para não entrar especificamente na questão dos Wright, que é longa, mas também pesa a favor do brasileiro.

Ele, inclusive, realizou coisas que não temos até hoje. Com o seu dirigível número 9, ele se locomovia sozinho pelas ruas de Paris, para frequentar os lugares que ele desejava. Hoje, somente no século XXI, estamos avançando para aeronaves individuais, algo que Dumont fazia em 1903.

Eu pretendo contribuir nisso levando esse livro, que realmente pertenceu a ele, de forma a criar um significado para isso com a minha expedição.

Plurale - Quando você vai e que trabalhos pretende desenvolver?

Palhares - É a pergunta que mais me fazem: “quando você vai?”. E também é a pergunta de um milhão de dólares. Eu não tenho uma data, como ninguém tem. Na atividade espacial, essa coisa de data fica por previsões por aproximação. Eu já passei por diversos anos em que poderia acontecer e não se realizou. A expectativa é de que ocorra entre 2023 e 2026. Se for em 2026 vai ser interessante, porque vai ser o aniversário de 120 anos do voo do 14-Bis.

Com relação aos trabalhos que eu pretendo desenvolver, tenho alguns trabalhos que me foram pedidos, como um do Instituto Monitor, de engenharia. Também tem um grupo de robótica do SESI, que é um grupo de crianças de ensino médio, que desenvolveu um projeto para eu levar para testes no espaço. Como são pesquisas, não posso falar mais detalhadamente.

Plurale - Sua preparação até aqui envolveu câmaras especiais de gravidade e até um voo com um Mig-29 até a estratosfera, não é isso?

Palhares - Já passei por diversas simulações de força G, também em voos de microgravidade, como voos em caça supersônico. Testes em centrífuga. Missões de simulação de exploração da NASA, o que me coloca em constante contato com atividades científicas.

Plurale - Qual a sua trajetória com a aviação, anteriormente a essa experiência com o Mig-29 e a ida ao espaço?

Palhares - Foi a experiência russa, apenas. Meu trabalho ligado à aviação é mais com a pesquisa e as preparações para a expedição espacial. Não servi à aeronáutica nem à aviação civil, porque vou ao espaço como pesquisador. O voo com um Mig-29 fez parte da preparação para a viagem, já que ele é um avião capaz de se aproximar do limite da estratosfera. Não tem efeitos práticos e termos de habilitação para voo. Os russos instruem por um tempo sobre como pilotar o Mig e você faz um voo.

Plurale - Por fim, você também trabalha como agente da empresa, intermediando o contato de quem quer viajar ao espaço, não é isso? Como as pessoas interessadas podem procurar o serviço?

Palhares - Eu sou consultor comercial da Virgin Galactic no Brasil. Pessoas interessadas em realizar experimentos científicos no espaço, assim como em turismo espacial, devem entrar em contato comigo, já que a gente acena com essa possibilidade real de um foguete que já está pronto, em fase de testes, com voos previstos para os próximos anos. Hoje, existe um ambiente privado em que as coisas podem acontecer, sem as amarras da atividade pública. Quem quiser, pode agendar reuniões presenciais, se for o caso.







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