Transição. Essa é a palavra definidora quando falamos na criação, necessária e irreversível, de um novo modelo em que fatores Ambientais, Sociais e de Governança são incorporados ao mundo econômico-financeiro. Esse modelo está sendo construído aqui e agora. Estamos mudando nossa forma de consumir, nos comportar e relacionar, gerir equipes e, claro, fazer negócios. No contexto corporativo, uma força que impulsiona o movimento são os investidores. Ora, se a dimensão econômica ainda predomina, é principalmente por meio dela que faremos essa mudança. E esses atores não têm nos decepcionado, estimulando o avanço da agenda ESG de diferentes formas e estratégias, e há muito tempo. Haja vista o lançamento do CDP e do PRI - Principles for Responsible Investments, organizações de gestores ou detentores de ativos que há décadas se comprometem com princípios de gestão responsável e engajam e pressionam as empresas investidas a irem nessa direção. Nesse contexto, é impossível falar de investidores sem citar a BlackRock, maior gestora do mundo, com cerca de US$ 10 trilhões sob gestão.
As famosas cartas anuais do CEO da BlackRock, Larry Fink, a seus clientes ditam tendências e concretizam o quanto o capitalismo vem se transformando. A mensagem de 2020 foi emblemática: "Sustentabilidade se tornará o novo padrão de investimento da BlackRock", sentenciou Fink para alívio e comemoração de quem, como eu, trabalha há décadas com o tema. Mas, bem antes disso, a BlackRock já mandava sinais. De 2012 a 2015, a ênfase da carta anual foi na boa governança; em 2016 e 2017, na importância dos stakeholders; em 2018 e 2019, em propósito e liderança. Em 2021, cobrou das empresas investidas seus planos de transição para uma economia de baixo carbono e, em 2022, com o título "O Poder do Capitalismo", tratou de novo capitalismo, descarbonização, parceria público-privado, o mundo do trabalho e a importância do engajamento dos acionistas em assembleias. Como todo gigante, BlackRock desperta paixões. A cada novo posicionamento, suas linhas e entrelinhas são avidamente lidas. E polêmicas, claro, acabam sendo inevitáveis.
Nesse sentido, nada melhor do que ir à fonte e perguntar. Por isso, a edição deste mês da Revista RI traz, como matéria de capa, entrevista exclusiva - feita pela especialista em Sustentabilidade, Sonia Consiglio, SDG Pionner pelo Pacto Global das Nações Unidas, com o chairman do Conselho de Administração da BlackRock Brasil, Carlos Takahashi. Cacá, como é mais conhecido, tem mais de 35 anos de experiência no mercado financeiro brasileiro. Antes de assumir o cargo atual de chairman da BlackRock no Brasil, a maior gestora de recursos do mundo, foi seu CEO, inaugurando a posição na operação brasileira. É vice-presidente da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e coordenador do Grupo Consultivo de Sustentabilidade da entidade.