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Dia da Mulher, de novo!

Por Nádia Rebouças, Colunista de Plurale

Já passei dos 70 anos e sou uma testemunha viva da mulher andando e lutando por aí nas últimas muitas décadas! Fui observadora, ativista. Fui vivente desses tempos de muitas lutas!

Ui, dia da mulher!

AI, dia da mulher!

Socorro, dia da mulher!

Viva dia da mulher!

Tantas rosas foram distribuídas nesses dias oito de março. Por que rosas? Ora, porque são frágeis e bonitas! Enfeitam e confirmam o que interessa a essa sociedade machista que nos tratou sempre como sexo frágil. Enquanto isso, reviramos o mundo! Quanta serenata do amor e sonho de valsa! Quantos almoços para as secretárias, a profissão permitida nos negócios.

Ufa, isso quase já passou. As mulheres foram devagar, às vezes no corre, nas surpresas, às vezes no grito. Fomos dispensando os símbolos de fragilidade e doçura que teimavam (teimam) em decorar as comemorações do Dia da Mulher!

O Dia da Mulher se firmou como data importante no mundo todo! Dois eventos foram determinantes para existir o dia 8 de março: o incêndio na fábrica de roupas Triangle Shirtwaist, em Nova York, em 1911, que foi uma tragédia! Esse fato expôs as condições de trabalho a que as mulheres eram submetidas. Outro marco foi a marcha das mulheres russas por pão e paz em 1917 (foto acima). Só em 1977 o dia 8 de março passou a ser a data para que as feministas marcassem sua luta. A data foi decretada oficialmente pela ONU: Dia Internacional da Mulher.

Fechei meus olhos. Deixei imagens de mulheres dos dias de hoje desfilarem pela minha mente. Quantas e quão diversas mulheres comecei a ver de olhos cerrados. Mulheres de todas as cores, de todas as roupas, de todos os tamanhos, largura e altura, diferentes idades, algumas meninas. Olhos pretos, castanhos, azuis, esverdeados. Cabelos lisos, muitos cachos de todos os tipos, cabelos de todas as cores, dos pretos aos cor de rosa, verde, azuis e muitos brancos. Todos, sem vergonha, de ser cabelos! Os cabelos delas. Apareceram escondidos, lenços negros e outros lenços e mulheres tirando os lenços e queimando num ritual de libertar seus cabelos. Lenços queimando lembrando os sutiãs que foram queimados, quando eu chegava à vida já como mulher, um pouco antes da mini saia e logo depois dos gritos a favor do aborto. Que aliás continua em muitas partes como grito! As mulheres defenderem terras e sementes, na Índia na América Latina. As mulheres dos povos originários e quilombolas apareceram para a sociedade com seus cantos e encantos. Suas roupas, suas músicas.

Apareceram mulheres jogando futebol, mulheres maquinistas de trem, profissionais do sexo, professoras, costureiras imigrantes quase no trabalho escravo, mulheres pilotando jatos, lutadoras de boxe, agricultoras, skatistas, artistas de todas as artes, lutadoras de box, artesãs, líderes empresariais, domésticas, modelos, cineastas, lixeiras, cineastas, donas de casa, surfistas. Mulheres sendo o que elas conseguem ser, nem sempre o que querem ser! A desigualdade desfilou para mim mostrando diferentes roupas, sapatos e moradias.

Mas desfilaram para mim sem medo, por toda parte. Foram as que mais trabalharam, em todo mundo, para salvar suas comunidades durante os duros anos da pandemia. No entanto a luta tem que continuar! De acordo com o Banco Mundial cerca de 2,4 bilhões de mulheres no mundo ainda não têm os mesmos direitos econômicos que os homens. No Brasil apesar de muitos avanços, especialmente de mulheres negras e nas lutas LGBTQIA+, morrem três mulheres por dia por feminicídio. Muitos crimes bárbaros. Centenas de meninas estão sendo envenenadas com gás nas escolas do Irã. Isso hoje.

Por isso o dia da mulher de 2023, 46 anos depois de ter sido oficializado pela ONU, continua não tendo espaço para bombons e rosas. Continua sendo um dia para luta! Para ouvir vozes femininas e harmonizar essas mulheres várias. Acabar com a Casa Grande e a Senzala, dentro das nossas casas, nas ruas, nas escolas, nas universidades e por toda parte! Deixar de verdade a mulher ser em paz.

Ser mulher hoje é mais complexo do que quando por aqui cheguei.

As lutas são tão diversas quanto as mulheres. Importante lutar contra a invisibilidade da mulher que envelhece! Deixar que a mulher envelheça com dignidade, gerar políticas públicas para que essa mulher não dependa das famílias. Depois de tanta luta para chegar ao final do caminho, é absurdo ver mulheres envelhecendo no sofrimento.

Desculpem, não é tempo de comemorar é tempo de registrar os avanços e continuar a luta!







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2 comentários | Comente

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10/03/2023 13:05
Nádia, mas vale comemorar a existência da resistência de mulheres como você! Adorei o artigo. ;0)

Paulo Gramado |
Querida equipe Plurale. Meu comentário hoje se resume a destacar um trecho do próprio artigo que considero bem simbólico para tratar do Dia Internacional das Mulheres e pouquíssimas falam.... Segue....."As lutas são tão diversas quanto as mulheres. Importante lutar contra a invisibilidade da mulher que envelhece! Deixar que a mulher envelheça com dignidade, gerar políticas públicas para que essa mulher não dependa das famílias. Depois de tanta luta para chegar ao final do caminho, é absurdo ver mulheres envelhecendo no sofrimento".....

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