Por Elizabeth de Oliveira, Especial para Plurale
FOTOS DE DIVULGAÇÃO/ Ambiens Sociedade Cooperativa, Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR) e Prefeitura de Rio Branco do Sul (PR).
Rosângela é uma das 18 integrantes ativas que estão prestes a se formar, em setembro, no Curso de Capacitação de Melhorias Habitacionais, realizado pela Ambiens Sociedade Cooperativa, que desenvolve projetos de planejamento territorial com enfoque na geração de impacto socioambiental positivo. Nessa iniciativa, com duração de sete meses, a organização está atuando em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR), a partir da seleção em um edital específico para esse tipo de ação aplicada, e com a Prefeitura de Rio Branco do Sul. “Antes de aparecer essa oportunidade para a gente, eu trabalhava como diarista e cuidava das crianças e da casa”, conta a entusiasmada participante, que se declara feliz com os resultados alcançados em uma missão sobre a qual nunca tinha pensado antes.
A dona-de-casa relata que “sempre teve vontade de ser independente” - e que, ao conhecer os integrantes da equipe envolvida com a organização do curso, a quem chama de anjos, ficou muito entusiasmada com a possibilidade de deixar a casa mais bonita e organizada a partir da sua própria contribuição, com o aprendizado que estava por vir. “Quando a gente começou a marcar presença no curso, todo sábado era sagrado para nós. Foi bem importante ter mais conhecimento nessa fase. Pra mim, foi como uma página virada na minha vida e na minha história”, conta Rosângela, afirmando ainda o orgulho que sente de si mesma e das outras mulheres participantes dessa iniciativa.
Impactos positivos vão além das famílias diretamente envolvidas
A arquiteta urbanista Adriane Nunes Ferreira, coordenadora do projeto e presidente da Ambiens, ressalta que essa iniciativa dirigida às mulheres teve uma alta adesão, já que, das 20 vagas disponíveis, 18 foram ocupadas por participantes que tiveram mais de 70% de frequência ao longo da capacitação, envolvendo aulas teóricas e práticas. Adriane explica também que, além das 72 pessoas diretamente impactadas pelas melhorias residenciais, há uma estimativa de outras 300 pessoas impactadas indiretamente, considerando que o projeto gera uma nova dinâmica na economia local - como a utilização de mão-de-obra de outras pessoas que participam das ações pontualmente, por exemplo.
Com investimento em torno de R$ 300 mil, Adriane destaca que serão realizadas reformas e outras melhorias significativas na comunidade envolvida, como construção de fossas ecológicas, banheiros, muro de contenção (também chamado de gavião) e até de uma nova casa para uma família que estava vivendo numa área de alto risco e precisará ser relocada. “Estamos tentando explorar ao máximo algumas soluções mais específicas e trabalhar de forma sustentável, em uma área que não conta com rede de esgoto”, explica.
A arquiteta reforça que a Prefeitura local tem sido “uma grande parceira”, participando da iniciativa com a oferta de materiais para as intervenções e apoio às ações de campo. Da mesma forma, contribuiu com a participação de uma pedagoga que vem acompanhando as crianças, filhas das mulheres integrantes da capacitação. “Ela tem relatado como as crianças estão orgulhosas de suas mães”, observa.
Para Adriane, que já vislumbra o potencial de replicação do projeto, as conquistas imateriais proporcionadas por essa intervenção são muito significativas e perceptíveis no comportamento das participantes da capacitação. “Elas se sentem mais poderosas e se posicionam de outra maneira. Essa compreensão do ser é muito importante. Agora se percebem mais como mulheres capazes. É uma quebra de paradigma”, observa a arquiteta, que também ressalta o fortalecimento de uma rede que vem sendo formada pelas mulheres, a partir dessa iniciativa que as uniu.
Gisele Aparecida Cordeiro de Almeida, mãe de três filhos, é uma das integrantes da capacitação cuja residência será completamente reformada, em razão das inúmeras demandas urgentes acumuladas. A habitação familiar tem apenas 18 metros quadrados. Gisele relata, orgulhosa, a contribuição que deu para a instalação elétrica bem-sucedida da casa de uma amiga. “A gente aprende muito e se ajuda também”, afirma a dona-de-casa, que também faz questão de ressaltar que as mulheres não representam “o sexo frágil”, considerando a capacidade que têm de tantas realizações.
A dona-de-casa Rosângela também gosta de recordar o que aprendeu durante a capacitação e o que a faz se sentir orgulhosa: “Eu não sabia nem tirar medida de nada corretamente. Mas com a capacitação aprendi a colocar forro, a fazer instalação elétrica e reboco, além de assentar azulejo e cerâmica. Agora estamos trabalhando no gavião, que é muito show”, explica. “A gente vai ficar triste quando acabar o curso e vai sentir muita falta dos fins de semana que passamos juntos”, conclui.