Por Maurette Brandt, Especial para Plurale
O jornalista Sandro Rego foi meu vizinho por algum tempo, em Barra Mansa, e companheiro da imprensa, em Volta Redonda. Natural de São João de Meriti (Baixada Fluminense), residia em Três Rios (RJ) e veio para nossa região por uma oportunidade de trabalho. Como estava sempre nas coberturas da CSN, virou amigo, presença constante. Era um tempo interessante, porém feroz: crises trabalhistas, questões sindicais, a trágica greve de 1988 na Usina Presidente Vargas, que marcou a vida de todo mundo por aqui. De modo geral, a chamada imprensa local era, na verdade, uma galera. Como a CSN era basicamente a maior fonte de notícias, sempre lidávamos com uma série de receios – como o de vazarem informações de maior ou menor gravidade. Mas os colegas, em geral, entendiam nossas limitações. O respeito e a ética eram a regra.
Foto do Time da Comunicação da CSN em 2000 durante entrega do Prêmio Aberje. Maurette Brandt é a primeira em pé do lado esquerdo e Sandro Rego está na fila detrás, no meio, o sexto da direita para a esquerda, sorrindo, camisa azul, sem terno. Arquivo pessoal de Mônica Pinho.
Era fácil gostar do Sandro, com seu jeito de meninão, sempre sorrindo e rindo. Sim, era engraçado. E também solidário. Não me lembro de ter botado pressão em momento algum. Muito ao contrário, estava sempre pronto a apoiar os colegas.
Quando veio para a equipe, só agregou. A velha camaradagem ficou mais forte. Foi sempre um ótimo colega, uma pessoa cativante e sincera. Lembro que, quando a CSN lançou ações pela primeira vez na Bolsa de Nova York, Sandro estava lá. Por coincidência ou sina de jornalista, o lançamento ocorreu na mesma época do atentado às Torres Gêmeas.
- Na tarde da véspera tive um tempo livre – me contou depois. – Então pensei: vou subir logo nesse negócio! – pensou.
E foi. Pegou o elevador, foi até o topo do World Trade Center, como qualquer turista acidental. – Você acredita? – me dizia. – Eu fui lá tranquilamente, olhei tudo, admirei a vista e desci -rememorava. – E no dia seguinte, a tragédia estava nas ruas, os quarteirões cercados, o mundo em choque. Pode imaginar? – me descrevia, impressionado
As palavras, aqui, não são exatas; mas são as que ficaram na memória. Sandro era esse cara que se emocionava por ter tido a chance de fazer parte da história e de contá-la.
Tivemos incontáveis momentos de alegria no nosso dia-a-dia na empresa. Encontros, prêmios Aberje, celebrações e saias justas também, porque faz parte. Mas estávamos sempre prontos a nos apoiar mutuamente. Era mesmo uma equipe incrível.
Sempre admirei seu senso de responsabilidade, o cuidado enorme com a filha Lara e com a família, de modo geral. Espirituoso, não perdia uma chance de nos fazer rir. Era pessoa de riso largo e forte presença.
Quando alçou voo rumo a novas oportunidades, sempre se lançou de asa-delta, sem pára-quedas, com toda sua energia e vontade. Foi assim no Boticário, no Safra e em todas as frentes. Nunca nos perdemos de vista.
Anos mais tarde, quando eu fazia assessoria do Pier Mauá pela Meio e Imagem Comunicação, estava cobrindo uma edição da Fashion Rio nos galpões do Pier quando escutei uma voz familiar, que preenchia quase o galpão inteiro: - Maurette Brandt! Você por aqui????
Veio então o abraço largo, a risada solta e a alegria do encontro, próximo ao stand do Boticário. Nessa época, Sandro respondia pela Comunicação da marca. Foi uma festa, gente, diante de uma plateia enorme: afinal, era o Fashion Rio! Foi um momento incrível, felicidade pura.
Sandro sabia ser feliz. Ah, isso sabia. Quando decidiu seguir seus sonhos e partir para Portugal, acompanhei com carinho pela amiga comum Sônia Araripe. Lembro da foto da despedida, que compartilhou comigo. Eram sorrisos cheios de expectativa e de vontade de viver.
Sandro era esse cara: carinhoso, brincalhão, alegre e sempre disposto a explorar o que a vida lhe oferecia. Viajante por vocação, preenchia as páginas da alma com tudo de novo que vivenciava, sempre com a alegria de uma criança diante da menor descoberta. Pai jovem, foi criança com a filha e sempre exibiu uma disposição infindável para curtir e colorir a infância da Lara. Por muito tempo, acompanhei a admirei esse seu lado paizão, que as palavras da filha hoje refletem.
Nosso meninão amoroso e profissional brilhante sempre soube aproveitar a vida. Pena que o destino tenha decidido levá-lo de nós tão cedo. Mas sempre seria cedo para alguém que tinha tanto a fazer, a oferecer e a compartilhar. Nós jamais abriríamos mão da sua ternura, do seu carinho e da boa companhia. Só nos resta, mesmo, é dizer: Obrigada, Sandrão! Que a vida espiritual lhe seja farta, rica e infinita como o tempo maravilhoso que passou com a gente aqui!