Por Márcia Cavallieri, Colunista de Plurale
Mais uma OTC, minha terceira edição na Offshore Technology Conference do Brasil. Em cada incursão, um olhar diferente. Na primeira vez, há uns 10 anos, trabalhava na Petrobras como terceirizada na área de planejamento e pesquisa da gerência de comunicação institucional. A empresa era patrocinadora da conferência - como continua sendo, firme e forte – e promovia o pré-sal, com sua grande perspectiva de produção de petróleo. Na segunda, desenvolvi um job para o IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, o próprio organizador da OTC no País, preparando conteúdos do evento, e entendi melhor a relevância da OTC. Agora, voltei com outra visão, como consultora associada da Caliber no Brasil, e procurei observar o que as empresas ligadas ao setor de Oil & Gas (O&G) vêm fazendo pela sua reputação e perenidade de seus negócios.
A maioria das organizações na OTC 2023 se posiciona como empresa de energia, e não mais de O&G. Na área de exposição, todas buscam mostrar suas iniciativas de ESG / ASG (Ambiental, Social e Governança) - especialmente programas relacionados à diversidade e inclusão, patrocínios de cunho sociocultural ou ambiental - ou iniciativas voltadas à descarbonização e transição energética. Neste tema, assisti a apresentação do experiente Marcio Felix, CEO da EnP Energy (foto abaixo), egresso da Petrobras, que já passou pelo Ministério de Minas e Energia e, entre várias cadeiras, ocupa atualmente a presidência da ABPIP - Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás. Ele explica que transição energética não significa substituição do petróleo, mas eficiência e integração energética. Integrar diferentes fontes de energia, criando soluções para acelerar a neutralidade das emissões de CO2.
Nos deparamos então com o “Energy Trilemma”, expressão que vem se tornando muito popular: como buscar o equilíbrio entre segurança/confiabilidade e acessibilidade energética, com sustentabilidade ambiental? A resposta é di-ver-si-da-de, que pode ser a base da sustentabilidade também no setor de energia. Não precisamos excluir um tipo de recurso natural, se temos pelo menos seis ou sete fontes de energia que podem coexistir e se integrar – petróleo, gás, biocombustíveis, hidrelétrica, solar, eólica (inclusive offshore) e até nuclear. Deveríamos nos orgulhar deste ecletismo de possibilidades no Brasil.
Segundo dados da International Energy Agency (IEA) de 2022, cerca de 775 milhões de pessoas ainda vivem sem eletricidade, mas nos grandes centros urbanos essa realidade é praticamente inimaginável.
Nas redes sociais e em alguns segmentos da mídia, o petróleo parece ter se tornado um vilão. Entretanto, está claro que continuaremos precisando da energia dos combustíveis fósseis e de seus subprodutos da área petroquímica, como plástico, resinas, fibras e outros derivados. Globalmente, a sociedade não tem como prescindir do “ouro negro” tão cedo. Falta pouco para chegarmos em 2030, marco dos preciosos (e ambiciosos) ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nascidos no ambiente da ONU. Mas eu diria que mesmo até 2050, meta estabelecida por várias empresas, o horizonte é deveras desafiador. Afinal, todo mundo quer ruas, rodovias e pistas de aeroportos bem pavimentadas, mas se esquecem que asfalto é um derivado de quê? Começa com Pe...
Projeção da OPEC - Organização dos Países Exportadores de Petróleo indica que até 2045 a demanda mundial por energia vai aumentar em torno de 23% e que as fontes renováveis terão o maior crescimento até lá, mas ainda assim o petróleo terá 30% de contribuição no mix total.
A realidade brasileira é menos crítica. Nossa matriz energética provém 48,4% de fontes renováveis, comparado a apenas 15% no mundo, segundo dados de 2022 da EPE - Empresa de Pesquisa Energética. O maior desafio no Brasil para a transição ou integração energética talvez seja reconhecer onde estamos, nem tão mal quanto “o resto do mundo”, mas entender que devemos continuar buscando inovar e evoluir na descarbonização e na eficiência energética.
Temos sim que repensar a energia. O que vale mais a pena: transição, transformação, integração, diversificação ou preservação? O melhor mix seria “tudo junto e misturado”. Quero então confiar que a energia mais renovável é a que vem da mente humana e prosseguir acreditando que as pessoas, não importa em que grupo de stakeholders se encontrem, colaboram ativamente para a atuação responsável e o compromisso das organizações em prol da sobrevivência do planeta – e das próprias empresas. E estas, se investirem no relacionamento e no atendimento às expectativas de seus públicos de interesse, poderão se manter ativas, saudáveis no mercado e com boa reputação.