Por Giane Gatti, Colunista de Plurale
Há alguns anos, eles passavam quase que despercebidos nas COPs, reunião da ONU sobre as mudanças climáticas. Mas hoje em dia, já recebem uma atenção diferente e participam de fóruns mais relevantes. São as ONGs ligadas à valores humanos e representantes interreligiosos, que falam sobre a importância de verdadeiramente reconhecermos quem somos e do poder transformador da meditação.
“O que gerou a crise climática foi a crise espiritual. Quando nos desconectamos da nossa essência original, que é a paz, a bondade e o amor”, afirmou Jayanti Kirpalani (foto abaixo) na COP28, que acontece em Dubai. Ela é diretora-adjunta da Brahma Kumaris (BK), pratica meditação raja yoga da BK há 60 anos e tem uma alimentação à base de plantas. A BK é um movimento mundial espiritual, referência em meditação, e que promove cursos e programas para acessarmos nosso mundo interior e vivermos com mais equilíbrio e leveza. Há cinco anos, o Comitê de Ligação Interreligiosa organiza o Diálogo Talanoa na véspera das COPs.
Segundo Kirpalani, o problema começa quando saímos da consciência elevada de sermos seres espirituais plenos de felicidade, amor e paz. Essas são qualidades inatas que já estão em todas as almas, mas procuro aqui fora, com o consumo e a destruição do planeta. Entramos na consciência do corpo, da matéria. Nos desconectamos de nós mesmos, perdemos o senso de pertencimento de que o mundo é nossa família. Os traços de negatividade: ganância, egoísmo e o ego entram em ação. “Esquecemos que estamos todos no mesmo barco. Se a água começa a entrar por um lado, vai alagar o barco todo”, diz ela.
Quando tenho sentimentos e pensamentos negativos sou o primeiro a sofrer. Eles tumultuam meu corpo e impactam minha mente. E trago tudo isso aqui para fora, criando os problemas geopolíticos que vemos no mundo. Apenas a conexão comigo mesmo e com o Divino (Deus, Ser Supremo...não importa o termo que você use), podem me fazer voltar ao eixo, explica Kirpalani.
Para Golo Pilz, consultor de energia renovável da BK, os mais altos padrões morais e éticos devem ser o princípio orientador de nossas ações e políticas. Ele esteve à frente da instalação do complexo India One, na sede da organização em Mount Abu, na Índia, que produz 35 mil refeições diárias feitas a partir de energia solar, e está levando cozinhas solares aos mais de cinco mil centros no país. Já o projeto Kalp Taruh da BK plantou mais de dois milhões de árvores.
A COP28 trata de temas como a descarbonização da economia, a busca por alternativas aos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão), maiores investimentos em energias limpas, o fundo de perdas e danos para os países que menos poluem, mas são os primeiros a enfrentarem os efeitos das mudanças climáticas, entre outros. Sairemos da COP com os resultados necessários? Com comprometimento ambicioso dos países mais ricos e mais poluentes? Não, mesmo que haja alguns avanços. Falta essa reconexão interna, uma visão do todo. Sentir no coração e fazer aquilo que é correto pelo bem da humanidade. O que vemos são países focando em interesses próprios e muitas empresas divulgando aos quatro cantos práticas sustentáveis que não correspondem à realidade.
"Os políticos acham difícil tomar decisões pelas pessoas. Estamos aqui para lembrá-los de que todos são importantes - que o planeta é sagrado, que a natureza é sagrada", disse Valériane Bernard, coordenadora da BK na Suíça.
Não devemos ficar de braços cruzados assistindo mais de cem mil pessoas entre representantes governamentais, empresariais, cientistas, ONGs e ativistas debatendo e decidindo sobre o futuro da humanidade. Entendemos que há muitas ações que podemos fazer no nosso dia a dia, quando assumimos a responsabilidade de sermos agentes da mudança. Temos a capacidade de gerar grande impacto positivo na família, no trabalho, com amigos, no nosso bairro, e ir além.
Em uma entrevista exclusiva que fiz com Kirpalani à Plurale, quando esteve no Brasil em 2019, ela disse que não é fácil mudar o estilo de vida e que é preciso muita coragem e poder. “E normalmente as pessoas não têm esse poder espiritual para fazer mudanças. Somente uma consciência espiritual nos faz perceber o que precisamos fazer, mas também nos dá poder e capacidade para mudar”. (link da entrevista https://www.plurale.com.br/site/noticias-detalhes.php?cod=17240&codSecao=)
Seguem algumas sugestões para colocarmos em prática e fazermos a nossa parte:
- Verifique a sua alimentação, abra a sua mente e experimente novos pratos e sabores. Comece optando por ficar um dia da semana com uma alimentação sem ingredientes de origem animal. Nas redes sociais da BK, da Sociedade Vegetariana Brasileira, Animal Equality, entre outros, há um universo de receitas deliciosas e fáceis de preparar);
- Apoie produtores locais;
- Como é sua maneira de se locomover? Sempre de carro? Usar etanol como combustível é melhor para o planeta. Vai sozinho no veículo? Poderia dar carona? Poderia usar mais o transporte público?
- Como é o seu nível de consumo de maneira geral? Compra apenas o que precisa ou age por impulsividade? Prioriza empresas com boas práticas socioambientais? Como o produto é fabricado e será descartado?
- Está atento à questão do plástico? Prioriza sacolas reutilizáveis e sacos biodegradáveis? Compra a granel? Faz coleta seletiva?
- Vote em candidatos que dão prioridade às questões socioambientais;
- Assine petições contra a liberação excessiva de agrotóxicos, pelo fim do confinamento extremo de galinhas e porcos, pelo fim da alimentação forçada de patos e gansos na fabricação do patê de foie gras, pela proibição da exportação de Animais Vivos (longas viagens marítimas em péssimas condições), entre outras;
- Apoie financeiramente ONGs confiáveis com foco nas questões ambientais e pelos direitos dos animais, entre outras;
- Participa de ações e campanhas de limpeza de praias, de conscientização sobre os impactos da mudança climática.