Lagoa Santa (MG), 17 de junho de 2024 – Com caráter sociocultural, histórico, gastronômico e de preservação das tradições populares, o Projeto NONAGENÁRIAS, em atividade desde 2021, ganha agora um viés científico. Sim. Pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, de São Paulo, e do Laboratório de Imunobiologia (LIB), do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, em Belo Horizonte, deram início à coleta de DNA de centenárias já homenageadas pela iniciativa.
Os cientistas da USP estiveram em Belo Horizonte e Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana, para conhecer duas centenárias: Raymunda Luzia da Conceição, de 112 anos, e Orádia Almeida de Jesus, de 117 anos. O foco do estudo é a contribuição da genética para a longevidade saudável e a qualidade de vida, integrando esses dois aspectos.
“Em uma busca por participantes, tive a grata surpresa de encontrar o Instagram do Projeto NONAGENÁRIAS (@projetononagenarias) onde ouvi vários relatos e homenagens a idosas que estão muito bem, tanto do ponto de vista físico quanto cognitivo: levam uma vida independente, são ativas e autônomas”, explica o pesquisador Mateus Vidigal, um dos participantes do estudo que é coordenado pela geneticista Mayana Zatz.
Geriatra Vivian Romanholi coleta DNA de Raymunda Luzia, 112 anos, em Belo Horizonte. Foto do Projeto Nonagenárias.
Os relatos das NONAS, alegres e repletos de sabedoria, chamaram a atenção dos pesquisadores. Eles conheceram as idosas, coletaram amostra de DNA e ouviram um pouco de suas histórias de vida. Tudo com a devida autorização das famílias.
Para Mateus Vidigal, é muito importante esse tipo de divulgação. Primeiro porque é um conjunto de dados extremamente rico, com informações qualitativas a respeito dessa população tão rara e especial no Brasil.
“E, segundo, a gente fica feliz de ver tudo isso registrado na forma de textos, imagens e vídeos compilados. Pretendemos dar continuidade a essa parceria do ponto de vista científico. Vamos buscar desvendar, a partir do DNA, qual é a contribuição da genética na longevidade e qualidade de vida das participantes. E compreender, assim, o diferencial genético das pessoas que envelhecem com boa saúde”, ressalta Vidigal.
Nona Raymunda Luzia, 112 anos, em Belo Horizonte. Foto do Projeto Nonagenárias.
CONHECIMENTO CIENTÍFICO – Os pesquisadores da UFMG já estão programando novas coletas de DNA para os próximos meses. As famílias estão sendo consultadas para autorizar a participação de suas NONAS e centenárias. De acordo com a professora Ana Caetano, a equipe do LIB /UFMG está muito entusiasmada em iniciar a parceria com a equipe da Dra. Mayana Zatz, da USP, ao lado do Projeto NONAGENÁRIAS.
“O projeto é uma iniciativa lindíssima por valorizar as histórias de vida dessas mulheres excepcionais, que comparecem cheias de vida, saúde e sabedoria nos seus vários depoimentos. Juntos com a equipe de São Paulo – que pretende entender a contribuição genética para a longevidade dessas mulheres – temos a intenção de entender as características do sistema imune delas para acrescentar mais uma camada de conhecimento científico sobre a pergunta que sempre surge quando conhecemos nonagenárias e centenárias tão autônomas e saudáveis: qual o segredo biológico da longevidade?”, explica.
CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS – Segundo a professora Ana Caetano, a biologia não explica tudo e a riqueza do NONAGENÁRIAS é exatamente explorar os aspectos culturais e os estilos de vida delas. “Acreditamos que o entendimento das características especiais do sistema imune e da genética dessas mulheres brasileiras pode trazer muitos dados interessantes para a ciência e para a população em geral, porque a maior parte dos estudos sobre indivíduos nonagenários e centenários foi feita na Europa e Estados Unidos. A nossa população é muito diferente em termos genéticos, biológicos e culturais”, ressalta.
Para a diretora do Projeto NONAGENÁRIAS, a jornalista mineira Luciana Morais, essa parceria com a USP e a UFMG eleva o projeto a novos patamares, comprovando sua relevância também do ponto de vista acadêmico e científico. “Temos grande interesse em aproximar nossas ações de estudos sobre os fatores que contribuem para a longevidade e a saúde da mulher nonagenária e centenária. Em três anos de Projeto, já são quase 90 mulheres homenageadas. Elas são exemplo de resiliência, de superação e de muita fé. Esses elementos certamente contribuem com que elas vivam mais e melhor”, conclui.