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Esposição na Filadélfia (EUA) tem foco em imigrantes e refugiados

Por VIVIANE FAVER - De Filadélfia/EUA, Especial para Plurale

Fotos de Divulgação

No dia 4 de julho – a data comemorativa da Independência dos Estados Unidos -, a iMPeRFeCT Art Gallery, localizada na cidade de Filadélfia, inaugurou uma exposição especial, cujo título é “Indivisível: uma celebração de imigrantes, refugiados e da busca da liberdade” (em inglês, "Indivisible: A Celebration of Immigrants, Refugees, and the Pursuit of Freedom",), que fica em cartaz até o dia 3 de agosto.

Com curadoria de Chela Ixcopal - professora, curadora, designer e artista - e de Jasmine Rivera, Diretora Executiva da Coalizão de Imigrantes e Cidadania da Pensilvânia (Pennsylvania Immigrant and Citizenship Coalition), a mostra apresenta obras de arte multidisciplinares de vários artistas imigrantes e migrantes intergeracionais, da região da Filadélfia e de outros estados.


O direito humano de migrar está costurado no DNA de todas as pessoas, enraizado na necessidade de nutrição, lar e futuro. Numa era em que a imigração é criminalizada e que os imigrantes são demonizados diariamente, a migração é um ato de resistência e de empoderamento geracional. As obras expostas na exposição apresentam as narrativas e a expressão artística daqueles que escolheram fazer dos Estados Unidos o seu lar, apesar da hostilidade, da supremacia branca e do sistema fraturado. Os artistas protestam em defesa de um futuro em que a nação esteja verdadeiramente unida, no qual os imigrantes não sejam apenas bem-vindos, mas celebrados.

O poder da arte na luta pelo direito de migrar


Rocío Cabello, diretor executivo da iMPeRFeCT Art Gallery, enfatiza que esta é uma questão importante na vanguarda da situação atual do país, no momento em que a nação enfrenta a decisão de como lidar com a crise migratória. Algumas pessoas, porém, transformaram em armas os desafios incrivelmente difíceis que afetam a vida dos migrantes.

"Esta é uma exposição coletiva, não uma mostra individual; os artistas foram escolhidos pelas duas curadoras convidadas, Jasmine Rivera e Chela Ixcopal, que são ativistas e estão envolvidas com artistas que trabalham pelos mesmos objetivos. A arte é, definitivamente. outra maneira de alcançar e chegar aos corações das pessoas; e vem sendo usada, há muito tempo, como uma ferramenta de mobilização” – reflete. “Eu também posso falar da minha própria experiência, porque venho de uma região do mundo – a América do Sul - que enfrentou muitas revoluções e golpes, onde a arte era usada principalmente para mobilizar a população a partir para a ação.

“Os artistas têm uma maneira particular de lidar com questões difíceis, sejam elas políticas ou não – e atingem a população de maneiras que outras estratégias não conseguem atingir” – diz Rocío. “Acredito que esta é uma maneira eficaz de ajudar as pessoas a considerarem seu papel em nossa sociedade e a importância de sua participação - ou da falta dela", continua Rocío Cabello, ao lembrar também que o país enfrentará, em novembro, uma decisão muito importante, que é a escolha de um novo líder para ajudar a nação a resolver a crise em suas fronteiras.

'Temos que nos concentrar em nossa mensagem; somos uma nação melhor por causa de todas as contribuições dos imigrantes para esta sociedade. É preciso e mudar a narrativa de que eles são os culpados por todos os problemas dessa mesma sociedade. Acho que esta exposição ajudará as pessoas a entender as jornadas difíceis que os migrantes e os artistas migrantes enfrentam" – resume.

Celebração com arte, acolhimento e luta

A outra organizadora da exposição, Jasmine Rivera, é diretora executiva da Coalizão de Imigrantes e Cidadania da Pensilvânia e tem coordenado campanhas na região da Filadélfia desde 2009. Presidente do Projeto Migração Livre (Free Migration Project), Rivera foi a curadora da mostra “Queremos justiça: como derrubamos os estúpidos” (em espanhol e em inglês: "Queremos Justicia: How We Shut Down Berks"), e aconteceu em 2023 na Galeria Vox Populi 2, em Filadélfia, de 5 de março a 11 de junho. A exposição foi contemplada com uma bolsa da Leeway Foundation Art & Change.

De acordo com Rivera, o foco da exposição “Indivisível: uma celebração de imigrantes, refugiados e da busca da liberdade” é celebrar as inúmeras contribuições que os imigrantes oferecem continuamente às comunidades, por meio da lente unificadora da arte.


Na inauguração da mostra, Jasmine Rivera compartilhou a seguinte mensagem: "Nossas comunidades são mais fortes juntas. Não importa se sua família está nos Estados Unidos há gerações ou se você é novo no país; todos são bem-vindos aqui. A arte é uma forma poderosa de resistência; tem o poder de trazer alegria e de construir uma comunidade. E também tem o poder de transmitir uma mensagem importante e inspirar pessoas a agir. Quanto a mim, quero que todos em nossa comunidade comemorem juntos esta exposição, mas que também exijam justiça este ano. Nosso presidente e muitos senadores apoiaram ou implementaram políticas anti-imigrantes prejudiciais, que não refletem os valores de nossa comunidade. Eles podem e devem fazer mais para tornar nosso país acolhedor para todos. E quando nós, as pessoas, nos unimos para exigir o que merecemos, nós vencemos."

Chela Ixcopal, a outra curadora, expõe em seu trabalho histórias visuais centralizadas em comunidades queer, imigrantes e indígenas. Acredita que é preciso ser inflexível sobre a mudança. "Intimide seus políticos para que façam o que deveriam estar fazendo" - recomenda. Os esforços criativos da artista podem ser encontrados em muitos formatos: desenhos, pôsteres, panfletos, placas de protesto e gráficos de mídia social. Suas peças geralmente apresentam caligrafia; e suas linhas expressivas criam retratos e slogans focados na humanidade.

A luta pelo fim das deportações médicas

Há alguns anos, Jasmine Rivera pediu a Chela Ixcopal para ajudar o Projeto Migração Livre. As duas promoveram, com sucesso, a campanha “Queremos o fim da campanha de deportação médica”, por causa de uma pessoa da comunidade, natural da Guatemala, cujo irmão teve que passar por uma cirurgia crítica, com muitos cuidados intensivos, mas foi listado para deportação logo após a cirurgia. Se tivesse sido deportado de volta para a Guatemala, não teria acesso aos recursos que tinha nos Estados Unidos e acabaria morrendo lá.

De acordo com Chela Ixcopal, acabar com essas deportações médicas foi uma vitória para os imigrantes não documentados, que agora podem se sentir seguros se precisarem procurar um pronto-socorro, sem medo da deportação. O problema é que poucas pessoas têm conhecimento da lei que proíbe as deportações médicas; é preciso que essa vitória seja bem divulgada para toda a comunidade.

Além da exposição, as duas curadoras estão planejando fazer mais workshops para orientar médicos e ajudá-los a entender as maneiras de proteger seus pacientes, diante uma possível ordem de deportação.

"Sempre há uma maneira de impedir uma deportação, mas os profissionais médicos precisam ser capazes de contornar a situação. Essas oficinas ajudam os médicos a interferir, quando perceberem que uma deportação médica está para acontecer. Os médicos podem e devem impedir e dizer: 'De acordo com esta lei, este paciente tem permissão para estar aqui, mesmo não sendo documentado'. O objetivo é fazer com que outras pessoas entendam isso e ajudem os imigrantes não documentados a entender o seguinte: 'Você tem todo o direito de permanecer no país, porque você é uma pessoa e não apenas um número'", explica Chela Ixcopal.

A mensagem final que a artista gostaria de deixar nesta matéria é que o imigrante deve questionar tudo e viver para si mesmo. "Entendo as inseguranças e entendo que é assustador o mundo lá fora; mas, ao mesmo tempo, é preciso que os imigrantes tenham essa mentalidade de lutar pelos seus direitos. Será um caminho mais difícil e trabalhoso, porém o retorno não tem preço."

A exposição “Indivisível: uma celebração de imigrantes, refugiados e da busca pela liberdade” fica aberta até o dia 3 de agosto, na Imperfect Gallery (5539 Germantown Ave., Filadélfia, 19144).








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