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Mulheres independentes escolhem o desafio de ser mães solteiras

Por VIVIVIANE FAVER – Especial para PLURALE - DE NOVA IORQUE

Criar um filho sem pai sempre foi a realidade de milhões de mulheres. Porém a tecnologia. De algumas décadas para cá, porém a tecnologia passou a permitir que elas tomassem as rédeas, na quase inteireza, do processo de gerar um filho.

Segundo dados recentes de um dos maiores bancos de esperma do mundo, o Cryos International, mais de 50% das mulheres que usam doadores para engravidar pretendem criar seus filhos sozinhas.

Os dados do Cryos, que fornece espermas e óvulos de doadores congelados em mais de 100 países em todo o mundo, revelam um aumento constante de mulheres solteiras entre suas clientes. Nos últimos sete anos, esse número cresceu 54%. De acordo com a ONU, existem no mundo mais de 100 milhões de mães solteiras que criam seus filhos sozinhas.

Há diversos métodos hoje em dia, alguns mais éticos que outros, que possibilitam uma gravidez independente. Mas todos partem de um mesmo desejo: mulheres que querem ver seu barrigão crescer, não pensam em adotar e decidem criar seus filhos sem a presença de um parceiro.

Existem diversas maneiras de uma mulher gerar um bebê sozinha. E a que é planejada em uma clínica de fertilização é apenas uma delas. Por um lado, esta opção custa caro; por outro, a futura mãe conta com os cuidados de especialistas. É indispensável lembrar que, antes de começar um tratamento tão definitivo como esse, o ideal é que a mulher busque o suporte de um psicólogo e que tenha o apoio de familiares e amigos.

Três histórias reais e fascinantes

Conversei com três mulheres sobre suas jornadas pessoais de maternidade, para saber como se sentem ao criar seus filhos sem um parceiro.

Anne Marie


Para Anne Marie Vasconcelos, de 44 anos, funcionária pública que vive em Nova Jersey, o caminho para rumo à maternidade foi longo e árduo. Há dez anos, Anne Marie foi diagnosticada com a síndrome dos ovários policísticos (SOP), uma condição comum que afeta o funcionamento dos ovários - e que pode causar problemas de fertilidade.

O diagnóstico, juntamente com a recente perda de seu pai, fez com que ela decidisse mudar sua vida. "A endocrinologista disse que, com base nos resultados de meus exames de laboratório, que eu teria problemas para ter filhos; mas que, se eu quisesse tê-los, deveria seguir em frente” – revela.

Mas para uma mulher solteira de 34 anos, a maternidade parecia uma possibilidade distante. "Eu disse a ela que não era casada. E ela respondeu que não era preciso ser casada para ter filhos. Eu nunca tinha pensado nisso sob este ângulo" - lembra.

Como católica praticante, Anne Marie diz que se tornar uma mãe solteira por meio de inseminação artificial levantou alguns problemas morais, que precisou superar. Falar com um padre ajudou. "Ele me garantiu que, se eu seguisse esse caminho, meus bebês ainda poderiam ser batizados" - recorda. "Então, embora não pudesse apoiar os métodos de fertilidade, assegurou que não me julgaria, nem à minha família."

A carga emocional e o desgaste financeiro surgiram depois de alguns anos tentando engravidar. "Foram necessárias cinco inseminações artificiais e dois tratamentos de fertilização in vitro para ter meu filho mais velho" - conta.

"Tudo isso custou US$ 95 mil, porque meu seguro-saúde não cobria os procedimentos; então gastei todas as minhas economias, fiz empréstimos de aposentadoria e refinanciei minha casa" – revela.

Em 2016 nasceu William, o primeiro filho de Anne Marie; Wyatt, o segundo filho, chegou alguns anos depois. Os dois foram concebidos por meio de fertilização in vitro, com esperma do mesmo doador, e ambas as gestações foram cheias de complicações. Os dois nasceram precocemente, por meio de cesariana.

"William não nasceu vivo", diz. "Teve que ser ressuscitad.o e receber transfusões de sangue imediatas. O nascimento foi muito traumático" – recorda.

Depois de nove dias no hospital, mãe e filho receberam alta para ir para casa.

"Eu sentia que ele era meu mundo, e eu era o dele", recorda Anne Marie, sorrindo.


Sarah

Sarah [nome fictício] sempre quis ser mãe.

"Acho que nunca houve um momento na minha vida em que tivesse dúvidas se ia ou não ser mãe; eu simplesmente sabia", diz a curadora de arte, de 36 anos. Para ela, a pandemia do coronavírus deixou claro que não havia mais motivos para esperar.

"A pandemia permitiu que eu me reconectasse com aquele desejo de ser mãe; então perguntei a um amigo e ele aceitou minha proposta de ter um filho seu" - conta.

Em agosto, Sarah descobriu que estava grávida após a primeira tentativa.

"Eu estava ao ar livre; estava quente. E eu sentia e simplesmente sabia" - diz.

Hoje, grávida de seis meses, relembra como sua infância influenciou sua decisão.

"Cresci no Líbano durante a guerra civil. Nasci em 1985, em meio ao período mais duro da guerra" - conta. "Tive uma infância feliz, mas também repleta de traumas.

Seus pais estão formalmente casados há quase quatro décadas, mas Sarah diz que vivem separados sob o mesmo teto há muito tempo.

"Eles não têm um ótimo relacionamento" - revela. "Eu diria que tiveram um relacionamento bastante tóxico — e isso influenciou profundamente a minha decisão.Acho que o relacionamento dos meus pais me traumatizou", admite.

Sarah diz que a situação de seu país natal e a morte de familiares e amigos queridos tiveram um grande impacto em sua decisão. "Acho que houve um chamado para a vida, após uma série de eventos trágicos que estão acontecendo com meu povo, meu país, minha comunidade nos últimos dois anos. E a pandemia foi apenas a cereja no bolo" - diz.

Para Sarah, ser mãe solteira não é uma decisão corajosa." Acho que não há nada de especial ou heroico no que fiz, porque outras mulheres em relacionamentos, ou mesmo casadas, muitas vezes cuidam dos filhos sozinhas" - reflete.

Mas Sarah diz que sua família foi corajosa, ao abraçar sua escolha não convencional. "Fiquei muito surpresa porque não fizeram perguntas sobre quem era o pai; acho que entenderam que eu não estava pronta para falar sobre isso no começo", diz ela. "Foi algo que só revelei a eles recentemente" – conta. "Mas estavam sinceramente muito felizes por mim; e acho que foram muito corajosos ao dizer isso para outros membros da família", diz, sorrindo.


O número de mães solteiras cresce mais ainda entre mulheres independentes e super bem-sucedidas em suas carreiras – como é o caso, por exemplo, de Maria Aires, a famosa esteticista brasileira radicada em Nova York, que comanda seu consultório no coração de Manhattan, bem em frente ao Bryant Park, e que cuida da pele de várias celebridades internacionais.

Maria

Você sempre soube que chegaria longe, que alcançaria suas metas?

Não, nem sempre. Venho de uma família muito humilde e o caminho até aqui foi cheio de desafios. Mas sempre tive um objetivo claro: mudar a história da minha família. Acreditar que Deus estava comigo e em mim mesma, mesmo quando parecia impossível, foi essencial para alcançar minhas metas.

Você acha que suas escolhas profissionais afetaram o fato de você ter demorado a pensar em ter filhos? Tipo, você colocou sua carreira em primeiro lugar durante muito tempo?

Sim, minhas escolhas profissionais definitivamente influenciaram o momento de pensar em ter filhos. Coloquei minha carreira em primeiro lugar por muitos anos, para garantir estabilidade e sucesso. Foi uma decisão consciente, sabendo que ter filhos é uma grande responsabilidade, requer estabilidade financeira e que, para isso, é necessário preparação.

Em sua opinião, quando uma mulher opta pela produção independente, como saber se está no caminho certo, sem transferir eventuais frustrações amorosas para o filho?

Acho que é fundamental fazer uma introspecção profunda e, se necessário, buscar a ajuda de um terapeuta. Entender suas motivações e sentimentos é crucial. É preciso estar em paz com a decisão e não enxergá-la como uma solução para frustrações amorosas, ou para atender ao que a sociedade exige. Mas se o coração te guiar, esse será o sinal de que está no caminho certo.

Como contar para a família e os amigos que você está no processo de uma produção independente?

Acredito que honestidade e clareza são essenciais. Escolher um momento tranquilo para compartilhar a decisão com os que realmente fazem parte de sua vida, explicar os motivos, pode ajudar. Prepare-se para diversas reações, mas mantenha-se firme em sua escolha; e lembre-se de que é uma decisão pessoal e bem pensada.

Você acha que ainda existe algum preconceito, por parte da sociedade, diante de uma decisão como esta?

Infelizmente, sim. Ainda existe preconceito em relação à produção independente e ao papel da mulher na sociedade. No entanto, vejo uma mudança gradual de mentalidade, com mais aceitação e apoio às diversas formas de construir uma família.

Qual a mensagem que você quer deixar para as mulheres que estão pensando em fazer essa escolha?


Congelem seus óvulos e suspendam o relógio biológico. A nossa felicidade é uma conquista pessoal; não a deleguem a ninguém. Não abdiquem dos sonhos que ocupam seus pensamentos ao dormir e ao acordar.

A produção independente é um verdadeiro altar de realização. Vocês serão agraciadas com os sorrisos mais encantadores e se transformarão nas mulheres mais plenas e felizes que jamais imaginaram ser.







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