Por FÁBIO ROCHA, COLUNISTA DE PLURALE
Quem me conhece ou conhece a Damicos Consultoria, empresa de que sou um dos Diretores-Executivos e que tem mais de 32 anos de mercado completados agora, em maio de 2024, sabe da nossa longa história e larga experiência na área de “ESG”, termo mais atual, desde 1998. E talvez não saiba que já atendemos - através de palestras, treinamentos, consultorias e mentorias - mais de 100 organizações em todo o Brasil. E que, além disto, temos uma caminhada acadêmica neste tema; ensinamos em diversas pós-graduações Brasil afora; e que já idealizamos e coordenamos um MBA em Sustentabilidade Corporativa durante 9 (nove) anos.
Vale dizer também que esta jornada começou na minha vida e carreira antes da minha entrada na Damicos Consultoria, quando trabalhei, de estagiário à ascensão ao nível gerencial na Fundação José Silveira, liderado por Antônio Brito, uma das maiores referências da filantropia local, nacional e internacional, que atualmente é administrador e Deputado Federal.
Posso dizer, com toda certeza, que apesar do nosso entendimento claro de que o ESG vai muito além da filantropia ou do investimento social privado, não podemos perder de vista o impacto econômico e social da filantropia brasileira. E que, de alguma maneira, conceitos-chaves do ESG se conectam com o propósito deste segmento.
Apesar da filantropia empresarial ou corporativa, o foco deste artigo é trazer um pouco da história única das Obras Sociais Irmã Dulce – OSID, uma das maiores instituições filantrópicas da Bahia, do Brasil e quiçá do mundo.
Falar das Obras Sociais Irmã Dulce – OSID é falar de Santa Dulce, primeira e única Santa do Brasil. Uma freira com o espírito diferenciado de empreendedorismo social e com valores únicos, nascida em 26 de maio de 1914, na cidade de Salvador-BA, e que faleceu em 13 de março de 1992.
Acompanho esta instituição desde o início da minha carreira. Visitei-a umas três vezes - a primeira numa espécie de tour reflexivo -, em momentos bem diferentes da minha jornada pessoal e profissional. E sempre fico perplexo com o milagre filantrópico realizado por Santa Dulce e sua presença viva na instituição, mesmo depois de 32 anos de seu falecimento.
Nos últimos quatro anos, a Damicos Consultoria vem realizando grandes projetos na instituição; primeiro um Programa de Desenvolvimento de Lideranças – PDL e, mais recentemente,, um programa na área da disseminação e do fortalecimento da Cultura Organizacional, denominado Dulcismo.
E foi também esta vivência mais próxima, e a convite da minha especial parceira carioca na área de ESG - Sônia Araripe, da Revista Plurale - que me inspiraram a escrever este artigo, no qual tento descrever um pouco de alguns dos aspectos desta belíssima e infinita trajetória de Santa Dulce, continuada por ninguém menos que sua sobrinha e atual Superintendente, Maria Rita Pontes, alguém de uma sensibilidade única para o verdadeiro propósito desta obra, que é transmitir os valores de Santa Dulce em escala nacional e mundial.
Falar de Santa Dulce é, antes de mais de nada, falar de alguém que praticava cotidianamente, em seus pensamentos, atitudes, decisões, relacionamentos, ações, projetos e programas nas mais diversas áreas (saúde, educação, social etc.), valores dos mais nobres e universais - como, por exemplo, amor ao próximo, empatia, acolhimento à diversidade, perseverança e humildade, entre outros.
Atualmente estes valores deram origem ao que se denomina “O Jeito Dulce de Pensar, Ser e Agir”, que tem sido disseminado, inicialmente, para os mais de 7.500 colaboradores. E que, quem sabe, no futuro, poderão ser traduzidos em outros idiomas e espalhados por todo o mundo.
E aqui já cabe uma reflexão: é possível praticar ESG sem a real conexão com valores tão nobres e necessários à sociedade atual? Pode existir alguma prática de gestão de ESG que não passe por pelo menos alguns destes valores, na relação da organização com seus colaboradores, fornecedores, clientes, acionistas ou comunidade?
Estes valores, que vão muito além de palavras profundas, são traduzidos na Obra Social Irmã Dulce – OSID, uma instituição que abriga, em Salvador, um dos maiores complexos de saúde do país, com atendimento 100% gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) - e acolhe, anualmente, mais de 3 milhões de pessoas.
São números impressionantes, que se iniciaram com um simples e pequeno galinheiro e que, hoje, realiza 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano na Bahia, 23 mil cirurgias e 43 mil internações, realizados anualmente no território baiano. Isso além das 2,1 milhões de refeições servidas por ano para os pacientes; e de 1.741 leitos hospitalares oferecidos na Bahia, 10,8 mil atendimentos por mês a pessoas com deficiência em Salvador e 9 mil atendimentos mensais para tratamento do câncer na capital baiana.
E não pense que esta atuação se limita a estes grandes números, pois muitas políticas públicas no Estado da Bahia e no Brasil foram, são e serão impactadas pelo propósito de Santa Dulce e da sua instituição.
Depois destas humildes e simples reflexões, portanto, fica cada dia mais claro que o ESG Raiz na Bahia tem Nome e Sobrenome: Santa Dulce dos Pobres.
E que quem sabe, no futuro, você, que o lê agora, ao tentar praticar estes valores, possa ouvir a frase: “Eu vejo Dulce em Você”.
(*) Fábio Rocha é Colunista Colaborador de Plurale. Especialista em Cultura Organizacional, Carreira, Liderança e Sustentabilidade. Diretor-Executivo da Damicos Consultoria, Treinador Comportamental, Mentor, Professor e Palestrante.