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Rock in Rio, na trilha da sustentabilidade - Entrevista com Roberta Medina

Roberta Medina, vice-presidente executiva da Rock World, empresa que criou, organiza e produz o Rock in Rio e o The Town, deu entrevista exclusiva para PLURALE e conta sobre os últimos preparativos para marcar pelo compromisso ESG os 40 anos do megaevento

Por Felipe Araripe e Sônia Araripe, de Plurale

Fotos de Divulgação

O ritmo frenético da agenda de Roberta Medina, vice-presidente executiva da Rock World, empresa que criou, organiza e produz o Rock in Rio e o The Town, dá bem o tom da corrida contra o relógio para o lançamento do megaevento que marcará os 40 anos de trajetória. O compromisso desta carioca, com alma de global citizen, que curte rock, mas também é do samba, funk e todos os ritmos, é tentar fazer desta edição a mais engajada na trilha da sustentabilidade.

Neutralização de emissões, compromisso com economia circular, com a reciclagem, com copos reutilizáveis, com acessibilidade e vários outros pontos são checados pessoalmente por Roberta e seu time. Há um diretor e equipe para cuidar da agenda ESG. E Roberta - sempre acelerada - assegura que não é apenas uma ação de marketing.

"A sustentabilidade é uma jornada contínua no Rock in Rio, e ao longo dos anos, temos feito grandes avanços nessa área. Organizar um evento que recebe cerca de 100 mil pessoas por dia naturalmente gera resíduos, mas o que é fundamental é como gerimos esses resíduos. Na edição de 2022, conseguimos garantir que 81% dos resíduos fossem devidamente encaminhados para reciclagem e reaproveitados na cadeia produtiva, um número expressivo que reflete o nosso compromisso com a sustentabilidade", diz.

Nesta entrevista exclusiva à Plurale, Roberta ressaltou ainda o pioneirismo do Rock in Rio ao ser um dos primeiros festivais a compensar sua pegada carbônica, em 2006. E contou que na edição deste ano, essa trajetória de responsabilidade ambiental ganhará um novo impulso com a parceria da Neoenergia. Postes alimentados por painéis fotovoltaicos serão instalados, garantindo que uma parte da energia usada no festival seja limpa e renovável.

Confira a entrevista:

- Eventos como o Rock in Rio são inspiradores e mobilizadores, mas também de uma pegada de carbono e alto impacto. Quais serão as principais ações de ESG previstas para a edição deste ano, 40 anos depois do primeiro festival realizado no Rio de Janeiro?

O Rock in Rio vai muito além do entretenimento e do espetáculo. Ao longo de quatro décadas de história, o festival vem gerando um impacto econômico significativo para o Rio de Janeiro a cada edição, conforme apontam os estudos da FGV. Para se ter uma noção, nesta edição de 2024, a previsão é de que o festival tenha um impacto de aproximadamente R$ 2,9 bilhões na economia da cidade, gerando milhares de empregos diretos e indiretos, além de fomentar o turismo e a cultura local. Isso reflete a força econômica do festival, que se consolida como um motor de desenvolvimento para a cidade e para o país.

No âmbito social, temos tido há diversas edições muito foco nas pessoas – com diversos parceiros plurais e investimentos em acessibilidade e inclusão. Nesta edição, o Rock in Rio, em parceria com a ONG Gerando Falcões, Gerdau, e a Fundação Grupo Volkswagen, conta com o Favela 3D, um projeto transformador que já vem impactando a vida de 250 famílias no Morro da Providência, a favela mais antiga do Brasil. A iniciativa visa revitalizar espaços comunitários com foco em entretenimento, lazer, e bem-estar dos moradores, integrando ações como a instalação de brinquedos, paisagismo, arte, iluminação eficiente, e a organização do descarte de lixo através da coleta seletiva. Além disso, programas de capacitação, empregabilidade e urbanismo sustentável serão implementados, tudo com o envolvimento direto da comunidade.

Vale lembrar que em 2023, na primeira edição do The Town, o Favela 3D atuou na Favela do Haiti, em São Paulo. Recentemente, ao completar um ano, o projeto teve um dos maiores objetivos alcançados: a taxa de índice de desemprego na Favela do Haiti foi reduzida a zero. Enquanto outras ações ainda estão em andamento, com a previsão de conclusão no fim do ano, a iniciativa também já conta com 100% das casas com abastecimento de água e ligação ao esgoto, reforma total da Praça Chicão, pavimentação de vielas, inauguração do museu de arte pública e implementação dos programas jovem do futuro e de aceleração de empreendedores.

Em termos ambientais, o Rock in Rio tem seguido uma trajetória de compromisso com a sustentabilidade. O festival já é carbono neutro há 18 anos e é também o primeiro festival do mundo a conquistar a certificação ISO 20121. A edição de 2024 reforça esse compromisso, destacando a reutilização de materiais e a eliminação de copos descartáveis na Cidade do Rock, substituídos por opções reutilizáveis, com ações específicas para incentivar o reuso. Também continuaremos a parceria com a ANCAT (Associação Nacional de Catadores), garantindo não só a separação dos resíduos, mas também a inclusão social e econômica dos catadores, que recebem treinamento, uniformes, diárias pelo serviço e a renda da venda dos materiais recicláveis.

Essas ações refletem a continuidade de um trabalho consistente e comprometido, que faz do Rock in Rio um exemplo de evento sustentável, com impacto positivo tanto na economia quanto na sociedade e no meio ambiente. O festival segue firme em sua jornada para alcançar as metas estabelecidas até 2030, que incluem oferecer 50% de alimentação saudável e sustentável, garantir 100% de satisfação em relação ao bem-estar e à segurança do evento, formar 100.000 pessoas, envolver 100% dos stakeholders na política de sustentabilidade, garantir eventos 100% diversos, acessíveis e inclusivos, e reutilizar, reciclar e valorizar 100% dos resíduos. Com essas iniciativas, estamos não apenas fazendo história, mas também construindo um futuro melhor e mais sustentável para todos.

- O Rock in Rio tem o projeto Por um Mundo Melhor, que nasceu para usar a força do festival para motivar as pessoas a procurarem melhorias de vida por meio de mudanças cotidianas. O início do projeto aconteceu com o movimento de três minutos de silêncio de 98 oito milhões de pessoas. O que mais de concreto está sendo pensado?

Desde o emblemático momento dos três minutos de silêncio em 2001, o nosso pilar de "Por um Mundo Melhor" tem crescido a cada edição, sempre promovendo campanhas de grande impacto que mobilizam milhões de pessoas. Ao longo desses 40 anos de história, o Rock in Rio se firmou como uma plataforma poderosa para a transformação social, com iniciativas memoráveis como as de antidrogas e "Lixo no Lixo", entre tantas outras. Outros projetos como o Amazônia Live também são marcos que reafirmam nosso compromisso por um mundo melhor.

Além das campanhas, a própria Cidade do Rock se tornou um espaço de convivência harmoniosa, onde o respeito aos detalhes, à limpeza, e à segurança, assim como a oferta de serviços de qualidade, desde o transporte até as experiências dentro do festival, são exemplos concretos que inspiram as pessoas e mostram que um mundo melhor é possível. A Cidade do Rock atua como um verdadeiro laboratório social, provando que, com cuidado e dedicação, podemos transformar a realidade ao nosso redor.

Em 2024, no ano em que celebramos os 40 anos do festival, continuaremos a usar essa plataforma para inspirar e mobilizar. Um exemplo recente é a mobilização de mais de 50 artistas, que já estiveram ou estarão presentes no Rock in Rio este ano, para a gravação do clipe da música inédita “Deixa o Coração Falar”. Essa ação se transformou no maior encontro da história da música brasileira para combater a fome e a pobreza. Os direitos da canção estão sendo direcionados para a ONG Ação da Cidadania, que já doou 1,5 milhão de pratos de comida para famílias do Rio Grande do Sul, e para a Gerando Falcões, que vai transformar a vida de 250 famílias do Morro da Providência por meio do projeto Favela 3D.

E não paramos por aí. A cada edição, o Rock in Rio continua a mostrar que é possível fazer mais. Em 2022, desviamos 81% dos resíduos gerados no festival para a reciclagem, e em 2024 seguimos comprometidos com a redução do consumo de energia. Essas ações não apenas mostram o nosso compromisso, mas também incentivam cada um de nós a adotar práticas mais sustentáveis em nosso cotidiano. Se o festival pode, todos nós podemos. Esta é a mensagem mais poderosa: inspirar confiança e esperança de que um mundo melhor é possível, aqui e agora.

- O RIR foi o primeiro grande evento de música do Brasil a compensar sua pegada carbônica em 2006. A descarbonização será realizada, com apoio da Neoenergia. Como será realizada?

A descarbonização do Rock in Rio é um compromisso que já vem sendo cumprido desde 2016, sendo um dos primeiros eventos no mundo a compensar sua pegada de carbono, antes mesmo da primeira Copa do Mundo que realizou compensação. Desde então, o festival tem feito um esforço contínuo para evoluir seus processos construtivos, adotando regras mais rígidas e capacitando todas as empresas envolvidas no projeto para garantir que cada edição seja mais sustentável que a anterior.

Essas mudanças profundas nos processos de construção incluem a utilização de materiais mais sustentáveis, a redução do consumo de energia, e a otimização do transporte e da logística do evento. Além disso, desde o primeiro inventário de carbono, o Rock in Rio tem se empenhado em criar e seguir normas rigorosas para minimizar seu impacto ambiental.

Nesta edição de 2024, a Neoenergia soma forças com a gente nesta iniciativa que já vem sendo realizado há quase duas décadas no festival. Com o apoio da Neoenergia, 43 postes alimentados por painéis fotovoltaicos foram instalados, garantindo que uma parte da energia usada no festival seja limpa e renovável. Além disso, 65% da energia da Cidade do Rock é ligada à rede elétrica, que no Brasil possui uma matriz energética onde 83,78% das fontes são renováveis.

O Rock in Rio também implementa um planejamento eficiente do parque de geradores, buscando reduzir o consumo de combustível e adotar opções mais sustentáveis. O festival ainda promove ações de conscientização direcionadas ao público jovem, para que as futuras gerações estejam cada vez mais engajadas na luta contra as mudanças climáticas.

Ao final da edição de 2024, assim como em edições anteriores, serão contabilizadas as emissões de carbono equivalentes decorrentes do consumo de energia, deslocamento de pessoas, tratamento de resíduos, e transporte de carga. Em edições anteriores, a pegada de carbono foi de cerca de 60 mil toneladas, com 430 mil toneladas já compensadas através de projetos de reflorestamento, incluindo o plantio de mais de 4 milhões de árvores na Amazônia. A energia limpa e renovável será usada em grande parte das instalações, e as emissões remanescentes serão devidamente compensadas para assegurar que o Rock in Rio continue sendo uma referência global em sustentabilidade.

- Favela 3D no Rio em parceria com o Gerando Falcões - depois do The Town ter feito melhorias na Favela do Haiti em SP via The Town. Agora com o objetivo de tornar a favela mais antiga do Brasil em um lugar mais digno, digital e desenvolvido, vamos levar dignidade a 250 famílias e garantir que elas possam sonhar e traçar metas, fortalecendo o desenvolvimento social e a geração de renda. Como isso será feito?

Sempre realizamos ações socioambientais no Rock in Rio junto a parceiros com expertise e grande experiência em suas áreas de atuação, com entregas robustas dentro da Rock World. Esta iniciativa parte do objetivo de que é possível interromper o ciclo da pobreza de um local com a implementação de uma metodologia escalável e sustentável.

O projeto Favela 3D, em parceria com a ONG Gerando Falcões, Gerdau e Fundação Grupo Volkswagen, visa transformar três regiões da favela mais antiga do Brasil em um ambiente mais digno, digital e desenvolvido. Com foco em 250 famílias, a iniciativa incluirá melhorias na infraestrutura local, acesso a tecnologias digitais, programas de capacitação profissional e geração de renda, além de iniciativas que fortaleçam o tecido social da comunidade. Para que tudo seja realizado da melhor forma possível, é realizado um acompanhamento familiar regular, seguindo uma metodologia também multidisciplinar e intersetorial, que viabiliza a emancipação da pobreza. Uma equipe profissional com atendimento técnico especializado é responsável por promover encaminhamentos das famílias para diferentes setores (público, Terceiro Setor e iniciativa privada) com ações em diversas áreas, como educação, renda, moradia, entre outras.

Vale lembrar que essa é a segunda parceria entre a Rock World, a ONG Gerando Falcões, Gerdau e Fundação Grupo Volkswagen para mostrar como somar forças pode fazer uma grande diferença na vida das pessoas. Por meio do projeto Favela 3D, em 2023, na estreia do The Town, nos unimos aos mesmos parceiros que estão com a gente no Rock in Rio para interromper o ciclo de pobreza na Favela do Haiti, em São Paulo, onde 290 famílias foram beneficiadas e se encontram em situação de dignidade. Com mais de um ano de projeto, a Favela do Haiti alcançou o nível de pleno emprego — concluindo a meta inicial que era ter as 90 pessoas que estavam desempregadas à época do diagnóstico, em 2022, inseridas no mercado de trabalho.

E a nossa intenção é de que, apoiando e dando visibilidade a esse projeto, é que mais empresas se sensibilizem. Se cada média ou grande empresa brasileira assumir a responsabilidade de investir em uma pequena favela do Brasil, sendo elas 80% das favelas do país, podemos fazer a diferença. Isso mostra que a gente pode fazer a diferença juntos.

- Tem funcionado bem a doação de material pós-evento, como banners, displays, material de montagem, e a troca de lixo recolhido pelo público no evento por pontos?

A doação de resíduos é um projeto que já vem há muito tempo e que tem tido grandes resultados e que cresce a cada edição. E queremos que cresça ainda mais. O objetivo com estas medidas é o de transformar mentalidades e comportamentos, servindo de exemplo para o público. Na edição de 2022 foram mais de 250 toneladas de resíduos separados durante os sete dias de festival e encaminhados para reciclagem, número que supera o peso do aço utilizado na cenografia do Palco Mundo. A ação, em colaboração com marcas parceiras, resultou na reciclagem de 89% dos copos plásticos utilizados no festival. Todo o processo era acompanhado pela startup Reutiliza Já que conduziu a operação e assegurou a rastreabilidade. No total, foram recolhidas mais de 311 toneladas de resíduos nos sete dias de festival.

- Acessibilidade - o evento vai avançar nesta agenda?

A acessibilidade é um ponto fundamental do nosso pilar do Por Um Mundo Melhor. Queremos assegurar que cada indivíduo tenha as condições necessárias para desfrutar plenamente do festival e se sentir ainda mais parte da comunidade que criamos, onde todas as pessoas são bem-vindas e representadas. A Cidade do Rock é um lugar plural e diverso, queremos que todos se sintam confortáveis e seguros nela, vivendo uma experiência mágica e única.

Com um olhar atento aos PCDs já há algumas edições, o Rock in Rio conta com uma área exclusiva para acessibilidade na Cidade do Rock. Temos diversas novidades nesta edição, como audiodescrição enquanto o público desbrava a Rota 85, espaço sensorial com terapeutas especializados, e o inédito Espaço Rock in Rio Plural, que fomenta a diversidade e inclusão.

Durante o evento, são instalados pisos e mapas táteis, e os palcos possuem plataformas elevadas, além de empréstimo de kits livres e serviços de audiodescrição. O espaço "Sinta o som" permite que pessoas surdas sintam a vibração da música perto dos palcos, com mochilas vibratórias para o público com deficiência auditiva. A Roda Gigante e a Tirolesa possuem acessibilidade especial, assim como os banheiros. Há transporte dedicado e estacionamento reservado para PCDs e vale lembrar que todos os serviços são gratuitos.

- Edições anteriores tiveram alguns problemas, como denúncia de condições de trabalho para prestadores de serviços e produziu um grande volume de resíduos, como na edição de 2022, que teve cerca de 250 toneladas de material para reciclagem. O que estão fazendo de diferente este ano para garantir que o evento seja ainda mais sustentável do começo ao fim?

A sustentabilidade é uma jornada contínua no Rock in Rio, e ao longo dos anos, temos feito grandes avanços nessa área. Organizar um evento que recebe cerca de 100 mil pessoas por dia naturalmente gera resíduos, mas o que é fundamental é como gerimos esses resíduos. Na edição de 2022, conseguimos garantir que 81% dos resíduos fossem devidamente encaminhados para reciclagem e reaproveitados na cadeia produtiva, um número expressivo que reflete o nosso compromisso com a sustentabilidade.

Em 2024, estamos determinados a ir além. Introduzimos copos reutilizáveis em toda a Cidade do Rock, uma medida que esperamos que nos ajude a alcançar a meta de 93% de resíduos reciclados e reutilizados. Além disso, estamos implementando cláusulas de sustentabilidade em todos os contratos com parceiros e fornecedores, além de uma formação contínua das nossas equipes sobre práticas sustentáveis. Nossa política de transparência e integridade também foi reforçada para garantir que todas as operações sejam conduzidas de acordo com as melhores práticas ambientais e sociais.

Estamos comprometidos em investir em soluções para aprimorar a experiência daqueles que trabalham na Cidade do Rock, como por exemplo, a inclusão de dormitórios próximos ao Parque Olímpico, para que os trabalhadores, especialmente das áreas de limpeza, segurança e ambulantes, possam descansar adequadamente e realizar suas atividades com mais dignidade e conforto.

Essas iniciativas mostram o nosso compromisso de longa data com a criação de um impacto positivo não apenas ambiental, mas também social e econômico. O Rock in Rio é, acima de tudo, um evento que traz benefícios significativos para a cidade, gerando empregos e fortalecendo a economia local, sempre com a missão de ampliar o impacto positivo e reduzir ao máximo os impactos ambientais.








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