POR SÔNIA ARARIPE, FELIPE ARARIPE E MAURETTE BRANDT
FOTOS DE FELIPE ARARIPE / PLURALE
Pela primeira vez na história do G20 - reunião global das principais economias do mundo - houve a participação da sociedade civil. A inovação brasileira, que tem a presidência do G20, foi lançada hoje, no Rio de Janeiro, o G20 Social, com grande afluxo de representantes de movimentos sociais e ambientais, assim como de pessoas apenas com vontade de acompanhar e participar deste momento. De acordo com cálculo divulgado nesta tarde pelo Ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República e coordenador-geral do G20 Social, cerca de 33 mil pessoas estiveram apenas hoje, na estreia do G20 Social, nas atividades previstas para a região do Pier Praça Mauá e Armazéns Culturais.
"Estamos fazendo História. As decisões do G20, se não são imperativas para os estados nacionais, são orientativas para políticas públicas no mundo todo. Já são 33 mil pessoas credenciadas no G20 [Social] que estão aqui, ou circulando. Nunca mais os bacanas vão tomar decisões sem ouvir o povo", disse Márcio Macêdo. Ele participou da solenidade oficial de abertura do G20 Social, realizada no Museu do Amanhã, que também contou com as participações da Primeira-Dama Janja Lula da Silva e de diversos ministros. O Ministro anunciou também que a África do Sul, que presidirá a próxima reunião do G20, já se comprometeu oficialmente a também realizar fórum com participação popular.
O chanceler Mauro Vieira destacou os três principais eixos que guiarão o Brasil durante sua presidência no G20: o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global. “Os três eixos principais da nossa presidência do G20 são a luta contra a fome e a pobreza e todo tipo de desigualdade, desenvolvimento sustentável e transição energética e a reforma da governança global. Não poderia haver uma discussão efetiva sobre esses temas se não houvesse diálogo com a sociedade”, disse o chanceler.
Organizada pela presidência da República, esta cúpula é pioneira na história do fórum, com destaque para a ampliação da participação da sociedade civil. O evento da sociedade civil antecede a reunião dos líderes do G20, programada para os dias 18 e 19, com a presença dos chefes de Estado dos 19 países membros, somados à União Africana e à União Europeia. O documento final da Cúpula do G20 Social vai reunir recomendações da sociedade civil para as tratativas internacionais: será entregue ao Presidente Lula no próximo sábado, que o levará para os Chefes de Estado no âmbito do G20. Apenas nesta quinta-feira (14) foram cerca de 180 atividades autogestionadas, com os mais distintos eixos em discussão, como o Direito das pessoas com deficiência, a centralidade das favelas para soluções internacionais; investidores em economia verde; filantropia para o desenvolvimento social; desafios para o investimento público no enfrentamento ao racismo a partir das juventudes e o protagonismo dos catadores e catadoras de materiais recicláveis na liderança da economia circular.
A Primeira-Dama Janja Lula da Silva destacou o papel da sociedade civil nesta jornada, especialmente de mulheres. "Todos sabem a minha ligação com esta causa das mulheres. Não há espaço mais para a discriminação de gênero", discursou. E comentou em sua fala sobre a decisão da Argentina, já no Governo de Javier Milei, de não aderir ao documento em prol da igualdade de gênero.
O discurso da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, também foi muito aplaudido. "Cultura não é luxo. É como arroz e feijão. Importante aqui no contexto do G20 e para a sociedade civil." Margareth Menezes, afirmou que o G20 Social deixará um legado para a governança global. “São lutas e bandeiras históricas dos movimentos mais populares. O que estamos vivenciando aqui é um legado de transformação, esperança e valorização que o Brasil quer deixar para o mundo com uma proposta de governança global que reconheça a participação da sociedade civil nas decisões que impactam as vidas”, disse a ministra.
Amanhã (15 de novembro) e sábado (16 de novembro) as agendas continuam, com diversas outras atividades autogestionadas programadas, plenárias com autoridades nacionais e internacionais, feiras, intervenções artísticas e festival musical gratuito, chamado "Aliança Global Festival contra a Fome e a Pobreza", reunindo de hoje até sábado 30 atrações musiciais, como Tereza Cristina, Diogo Nogueira, Daniella Mercury e Seu Jorge. O festival tem como objetivo arrecadar fundos para o combate à fome e à pobreza, reunindo grandes artistas da música brasileira.
Edital do PAC atende Catadores e Municípios - No fim do dia, os Ministros Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República e coordenador-geral do G20 Social, e Jader Barbalho Filho, das Cidades, assinaram edital do PAC para tratamento de resíduos sólidos e inclusão de catadores. O programa atenderá 460 municípios e 60 cooperativas de catadores, gerando 33 mil empregos verdes, anunciaram os ministros. O ministro Jader Filho explicou que este PAC beneficiará municípios para que possam fazer a gestão correta de seus resíduos sólidos - encerrando lixões - e também atenderá catadores e cooperativas. Jader Filho citou outras modalidades que envolvem, por exemplo, abastecimento de água, prevenção de desastres, esgotamento sanitário e renovação da frota de transporte público com veículos mais sustentáveis, entre outras. "É uma seleção importante, em que a gente fala do meio ambiente, dos catadores, da economia circular, da coleta seletiva. É um tema fundamental que tem tudo a ver com o G20 e tudo a ver com a mensagem que o presidente Lula quer passar, de responsabilidade com o meio ambiente", afirmou Jader Filho.
Um dos líderes do movimento de catadores, Sebastião dos Santos, do Movimento Eu Sou Catador (MESC), comemorou a iniciativa, mas detacou que a sociedade e as autoridades precisam reconhecer definitivamente o valor do trabalho como agentes de serviços ambientais dos catadores. "Não somos a escória da sociedade. Prestamos um importante serviço para a sociedade."