POR MAURETTE BRANDT, ESPECIAL PARA PLURALE
Fotos de Bernardo Jardim/ Bloomberg Philanthropies
Atual líder do Programa Ambiental da Bloomberg Philanthropies, Antha Williams iniciou sua trajetória como ativista e organizadora. Dirigiu esforços para proteção de eleitores em grande escala e atuou, por cinco anos, em cargos de liderança no Green Corps, programa de treinamento para aspirantes a organizadores ambientais. Possui sólida trajetória de liderança em campanhas ambientais e organizações filantrópicas, como a Atlantic Philanthropies e o Beldon Fund.
Antes de integrar a Bloomberg,Philantrophies, foi vice-presidente sênior da Corridor Partners, empresa de consultoria de doadores, com foco no clima e na energia limpa. Foi também Diretora de Programas do Beldon Fund, no qual conquistou apoio para questões ambientais, com o concurso de formuladores de filantropias, por meio de organizações de base em nível estadual.
Antha Willians integra atualmente o Conselho do C40 Cities Climate Leadership Group e é conselheira de Michael R. Bloomberg em esforços climáticos. Atua em diversos Conselhos de ONGs ambientais, como a ClimateWorks Foundation, a European Climate Foundation e a Oceana.
Nesta entrevista exclusiva, fala a Plurale sobre economia verde, iniciativas brasileiras para o enfrentamento da desigualdade, alternativas de financiamento social e também sobre o enfrentamento das migrações compulsórias pelo mundo.
Plurale – Você disse, recentemente, que cidades como o Rio de Janeiro poderiam gerar até 900 mil empregos verdes. Pode dar alguns exemplos de empregos com este perfil? Pode citar algum exemplo prático dessas oportunidades?
Antha Williams – Iniciativas locais, como os ônibus expressos BRT e um aterro sanitário ressignificado que, depois de transformado, gera energia solar suficiente para abastecer 45 escolas, são alguns exemplos. Outros projetos de desperdício zero, gerenciados no Rio de Janeiro, são potentes geradores de empregos e de crescimento econômico – e que também podem melhorar a qualidade do ar, a saúde pública e, de modo geral, a qualidade de vida dos moradores locais. Estas são apenas algumas possibilidades que o Rio tem para ajudar a fortalecer as comunidades e melhorar o planeta.
Plurale - Quais seriam os meios e maneiras de atrair capital para projetos verdes, levando em conta o papel dos financiamentos, internos e externos?
Antha Williams - Na Cúpula do U20, quase 60 prefeitos, entre os quais vários líderes do C40 Cidades e do Pacto Global de Prefeitos, pleitearam $ 800 bilhões em investimentos públicos anuais, provenientes dos governos nacionais e dos bancos de desenvolvimento até 2030, para dinamizar projetos voltados para o clima no nível das cidades.
Em geral, as cidades não estão preparadas para apresentar, efetivamente, esses projetos aos investidores privados, ainda que tenham grande empenho em enfrentar as questões climáticas. Investimentos estrategicamente focados poderiam transformar as cidades em verdadeiras fábricas de crescimento verde, liberando retorno de até 23,9 milhões de dólares até 2050 – e, ao mesmo tempo, gerar empregos e reduzir a poluição.
Os prefeitos vêm pressionando os governos nacionais, assim como as instituições de financiamento e de desenvolvimento, no sentido de priorizar iniciativas climáticas urbanas por meio de financiamentos concedidos, tais como subsídios e empréstimos a juros baixos, para atrair investimentos privados. Os financiamentos subsidiados reduzem o risco dos investimentos e geram projetos financiáveis, particularmente em cidades que normalmente recebem poucos investimentos, em mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento. Os bancos de desenvolvimento multilaterais podem dar maior suporte às cidades por meio de consultoria de políticas públicas e aproveitar o financiamento privado para melhorar o ambiente financeiro, no que toca aos projetos climáticos.
Plurale - Que setores da economia seriam mais impactados positivamente, com a criação desses empregos verdes?
Antha Williams – Diante das preocupações e pressões econômicas, as ações climáticas oferecem um alívio econômico real, ao cortar os custos de energia, incentivar a geração de empregos e melhorar os benefícios da saúde pública. Investir em medidas climáticas agora vai custar muito menos do que retardar as ações necessárias. Investir num futuro sustentável vai gerar empregos verdes em vários setores, como construção, transportes, energia, gerenciamento de resíduos, no setor de saúde e em outras áreas que estão surgindo.
Plurale - Como você vê o papel das mulheres em liderar estas questões? E, no campo do ativismo, de pessoas como Greta, que é uma figura proeminente e emblemática neste campo?
Antha Williams - Como a primeira-dama Janja Lula da Silva revelou, no U20, as mulheres e seus filhos são, em geral, os mais afetados pelos eventos climáticos. As mulheres estão duas vezes e meia mais propensas a exigir que seus governos tomem atitudes e duas vezes mais propensas a se engajar, civicamente, na questão do clima. As mulheres têm sido fundamentais para o progresso do movimento climático – que requer soluções variadas, inclusivas e efetivas. Precisamos encontrar novas abordagens para cooperar, agir e liderar; e eu sei que as mulheres continuarão na linha de frente, impulsionando mudanças transformadoras.
Plurale - Considerando as cidades e as emergências climáticas, quais seriam algumas das estratégias mais eficazes que se mostram aplicáveis neste momento?
Antha Williams – Os desafios das mudanças climáticas – temperaturas extremas, desenvolvimento urbano, fome e financiamento – estão profundamente interconectados. E as cidades estão na linha de frente de cada um desses desafios. As estratégias são aquelas que investem nas pessoas, ao mesmo tempo em que reduzem as emissões e promovem resiliência.
Ao se concentrar em soluções como transporte sustentável, prédios com eficiência energética e infraestrutura verde, as cidades podem melhorar a qualidade de vida, criar empregos e reduzir as pegadas de carbono. Essas abordagens não se referem somente aos impactos climáticos, mas também atingem as desigualdades sociais, garantindo que as comunidades vulneráveis se beneficiem de um ar mais limpo, energia a custo acessível e ambientes mais seguros e mais resilientes. Por fim, integrar a ação climática e o progresso social é algo essencial para construir cidades sustentáveis para o futuro.
Plurale - Você mencionou que a cooperação entre cidades gera resiliência urbana. Como isto funciona na prática?
Antha Williams – Por meio da colaboração e da comunicação, as cidades podem compartilhar conhecimentos, melhores práticas e mais possibilidades de gerar resiliência. A crise climática requer que as cidades trabalhem e aprendam umas com as outras – e também com parcerias fortes com seus governos, para simplificar as soluções para os cidadãos.
Plurale - De que maneiras você acha que as mudanças climáticas já vêm afetando, e continuarão a afetar, a agricultura verde e a produção de alimentos saudáveis para alimentar o máximo possível de pessoas, no futuro próximo?
Antha Williams - As mudanças climáticas já estão impactando a agricultura e a produção mundial de alimentos, o que tem implicações significativas sobre a segurança alimentar global. Eventos climáticos extremos, secas e inundações podem desestruturar a produção de alimentos.
O Plano Brasileiro de Transformação Ecológica inclui o foco no combate à derrubada das florestas, à implementação de práticas agrícolas sustentáveis e de soluções com base na natureza. Para dar suporte a este esforço, a Bloomberg Philanthropies, a Aliança Financeira Glasgow para Net Zero (zerar as emissões líquidas de gases do efeito estufa), o Banco Brasileiro para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Fundo Verde para o Clima (GCF) firmaram parceria com os ministérios brasileiros para anunciar o lançamento da Plataforma Brasileira de Investimento e Transformação Climática e Ecológica (BIP), que vai escalar e otimizar investimentos para uma transição justa, que atravessa setores-chave e apresenta um exemplo para outros países, no sentido de integrar suas transformações ecológicas e metas climáticas, para transformá-las em mapas de investimento concretos.
Plurale -Você acha que é possível chegar a uma solução que garanta comida, água e abrigo para os refugiados que vêm sendo expulsos de seus territórios e não são aceitos em lugar nenhum? Existe alguma forma de abrigá-los e protegê-los?
Antha Williams - Uma colaboração global é essencial para ampliar o investimento e dar suporte aos migrantes do clima, que continuarão a precisar de ajuda. Uma pesquisa conduzida pelo C40 Cities e pelo Conselho de Migração dos Prefeitos (Mayors Migration Council) reafirma que a crise climática, sozinha, é uma grande propulsora da migração global - e que mais de 8 milhões de pessoas vão, provavelmente, migrar para as seguintes cidades: Bogotá, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Amman, Karachi, Dhaka, Accra e Freetown até 2050, exclusivamente em consequência da crise climática.
Plurale - Como as mulheres podem colaborar, cada vez mais, para o esforço de combater as mudanças climáticas?
Antha Williams - As mulheres e as meninas são desproporcionalmente impactadas pelas mudanças climáticas – e devem, portanto, estar no centro das soluções. E em posições de liderança, para priorizar políticas que dêem suporte às mulheres e que ajudem a construir um mundo mais igualitário e justo. Empoderar mulheres em papéis com poder de decisão garante que as soluções climáticas sejam mais eficazes e equitativas. As crises climáticas e de equidade de gênero estão interligadas; as políticas e iniciativas voltadas para a primeira devem levar em conta a segunda, para que tenham mais impacto positivo.
Governantes femininas do mundo inteiro debatem justiça social e climática
No G20 Social, Antha Williams mediou, no dia 16 de novembro, no Armazém da Utopia, o painel Liderança feminina nas linhas de frente da justiça social e climática.
O painel teve a participação de Janja Lula, Primeira-Dama do Brasil; Kate Gallego, prefeita de Phoenix (EUA); Carolina Basualdo, prefeita de Despeñaderos (Argentina); Yvonne Aki-Sawyerr, Prefeita de Freetown (Serra Leoa); Francineti Maria Rodrigues Carvalho, Prefeita de Abaetetuba (Pará, Brasil); Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation e arquiteta-chave do Acordo de Paris (economista, professora e diplomata francesa); Elizabeth Sackey, prefeita de Accra (Ghana); e Anne Hidalgo, Prefeita de Paris.