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Luiz Calainho: “A economia criativa tem a sustentabilidade no DNA”

POR SÔNIA ARARIPE, EDITORA DE PLURALE

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Não se espante se o empresário do ramo de economia criativa Luiz Calainho, 57 anos, der entrevista para Plurale por call, no meio das miniférias com os filhos. Ele vive conectado e antenado. O jovem de alguns anos atrás, apaixonado por música e cultura, transformou-se em um executivo experiente, totalmente hiperlink, 24hs ligado em business - e em cultura, claro!

Seus muitos investimentos nesta área da economia criativa estão reunidos na holding L21 Corp, que traz no nome o código de telefonia do Rio de Janeiro (21), que também é a soma de três vezes o número de sorte do empresário, o sete. Fazem parte desta lista, sempre em parceria com sócios, vários teatros; duas rádios potentes, a Mix e a Paradiso; uma produtora de musicais; franquias da famosa casa de shows norte-americana Blue Note, no Rio e em São Paulo; o parque para crianças EcoVila e muito mais. Calainho é do tipo que, nos minutos iniciais de conversa, já conquista o interlocutor com sua conversa. Coleciona histórias incríveis e é dono de uma verdadeira constelação de amigos artistas, empresários e gente comum, como ele já foi um dia.

Um de seus negócios, a Aventura, está concorrendo agora, na categoria Produção, ao famoso Prêmio Caboré, considerado o Oscar da publicidade brasileira. A fase de votos populares vai até o próximo dia 28 de novembro e a premiação será realizada no dia 4 de dezembro, em São Paulo. “É a primeira vez que uma empresa deste segmento da economia criativa é indicada. Assim como uma TV Globo é importante, a Plurale e várias mídias são relevantes, a posição da Aventura também o é. No final do dia, está claro que Arte e Cultura são muito importantes para que empresas possam investir e apoiar. Considero esta indicação um divisor de águas para o setor de economia criativa. É emblemático. A indicação já é uma gigante vitória. Vencer será muito bom”, resume Calainho.

Perguntamos de que forma a sustentabilidade entra em seus negócios. E ele é rápido na resposta: “A economia criativa é totalmente diversa. Vejo como um DNA meu, dos meus sócios e da natureza de todos os negócios que faço. Diversidade está ligada à lucratividade. Quanto mais diverso for o negócio, mais incrível será”, resume.

Confira, a seguir, os principais pontos desta conversa.

O começo

“Sou publicitário por formação, formado pela PUC-Rio. Trabalhei na agência Standard Ogilvy e uma das contas que atendia era a da Brahma. Depois fui trabalhar com eles direto, com um dos sócios, o Marcel Telles, há quase 40 anos. Sempre fui um apaixonado por cultura, por viagens, pelo mundo. Sou filho de piloto de companhia aérea, do Comandante Calainho, da SwissAir. Nasci fora, em Zurique, na Suíça. E mamãe, psicóloga, sempre foi uma grande entusiasta da arte e da cultura – teatro, dança e música. Cresci viajando, conhecendo outros países e sempre indo com mamãe aos teatros e a muitos espetáculos. Papai faleceu, mamãe é viva. Tive o privilégio de conviver muito com o Roberto Menescal, que considero o meu segundo pai: foi diretor artístico da gravadora Poligram, era vizinho da Nara Leão. Conheci, nos anos 70, toda esta turma incrível da Bossa Nova, da MPB. Trabalhei em gravadora e, em 1991, recebi um convite para trabalhar no Marketing na gravadora Sony Music. Minha alma é da cultura e da música. Foram 11 anos lá. Era ainda na época do LP e do cassete; não havia nem CD. Começamos a implementar o CD no mercado brasileiro e tivemos o privilégio de lançar grandes nomes da música por aqui, como Daniela Mercury, Zezé de Camargo e Luciano, Skank, Cidade Negra e tantos outros. E também de lançar, no Brasil, grandes artistas internacionais, como Shakira, Pearl Jam, Mariah Carrey, Céline Dion e muitos outros. Isso além dos gigantes sagrados que não lancei, mas com quem trabalhei, como Roberto Carlos, Julio Iglesias, Bruce Springsteen e tantos outros. Foram 11 anos muito ricos no planeta da economia criativa, porque a música está em tudo: no shopping, cinema, no bar, no restaurante etc. Depois, nos anos 1990, eu já era Vice-presidente da companhia, com uma tremenda bagagem.”

Música digital

“No final dos anos de 1990, comecei a alimentar o sonho de abrir o meu próprio negócio. Até porque, naquela época e naquele momento, as gravadoras não compreenderam o fenômeno da chegada da Internet. E começaram até a remar contra! Entraram com uma ação em 1997 contra o Napster, que estava surgindo! Naquele momento, fiquei muito desgostoso da indústria da música – no Brasil e no mundo. Tanto que eu percebia que não era assim. Os executivos das gravadoras apostavam que o mercado de música digital não iria a lugar algum. Nosso negócio é vender CD, insistiam. E eu dizia: Não, gente! O CD é uma forma de fazer com que a música chegue à casa dos clientes, mas nós precisamos vender música! Tanto faz a forma com que chegará lá. Se existia um formato que poderia chegar de forma direta ao cliente, de forma digital – sem precisar de fábrica, do CD, da loja, etc. – era uma nova opção que surgia e iríamos caminhando como gravadora em paralelo. Percebi que o digital era um caminho sem volta! Eu era uma das poucas vozes que achava isso. Já era vice-presidente da Sony Music do Brasil – que era a quarta maior Sony do mundo – mas as gravadoras não acreditavam nisso. Entendi que as gravadoras estavam olhando para trás e não para a frente. Gosto de ter um olhar muito inovador e disruptivo. As gravadoras entraram em declínio por muitos anos e quem ocupou este lugar foi a Apple, que lançou o Ipod e o Itunes. Quem começou o caminho de venda de música através do formato digital foi a Apple, que não era nada perto das cinco grandes gravadoras globais – EMI, Universal, Sony, Warney e BMG -, que eram muito poderosas, as gigantes nos anos 1990. Quem deveria ter lançado um device para música era a indústria da música, não a Apple.”

Negócio próprio

“Foi assim que surgiu a L21 Corp! O nome está ligado ao L de Luiz. O número 21 é o DDD do Rio de Janeiro e também a soma, por três vezes, do número sete, que eu adoro. Até aquele momento, o Rio era muito poderoso para a cultura do Brasil. É bom que tenhamos também São Paulo e outras cidades, como Recife e outras.

O primeiro negócio que fiz foi o de rádio FM. Sempre acreditei no formato FM e no rádio. Ao contrário do que muitos pensam, o Spotify é uma grande biblioteca de música, mas tem que procurar a música. O modelo FM tem duas grandes características: uma FM pulsa e vive com a cidade; o rádio sempre é o tempo todo ao vivo e vai contando o que acontece, vivendo a cidade. Os locutores passam a fazer parte da vida da cidade. O rádio vibra. Mesmo as emissoras de rede têm muita programação local e conexão local. A segunda característica é que a FM te surpreende, tocando uma música que você nem lembrava. A segunda memória é a auditiva (a primeira é a do olfato). Isso é bárbaro! Você nem lembra de uma certa música; e a rádio te leva para uma viagem no tempo. E o terceiro fator - que não é nenhum desses dois vértices - é representado pelos aplicativos. A internet trouxe muitas vantagens para o meio rádio, como imagem, conexão, interatividade etc. O meio que melhor soube entender e navegar no mundo digital foi, definitivamente, o rádio.

As rádios

“O rádio está mais vivo do que nunca. Somando a MIX e a Paradiso, temos hoje mais de um milhão de aplicativos baixados. Ou seja: cada um tem, literalmente, um radinho de pilha! Quer dizer, passou a ter um radinho da pilha, que é o celular, com o aplicativo do rádio. A pessoa está no metrô... e está com um rádio. A MIX é uma rádio para o público jovem, qualificada; está presente no dia-a-dia, está nos maiores e melhores festivais – Noites Cariocas, Rock in Rio, etc. A Paradiso, nós resolvemos envelhecer - no melhor sentido da palavra. Achamos, inclusive, que esta palavra caiu em desuso. Quem tem 60 ou 70 anos hoje é jovem - e esta turma deseja determinadas direções artísticas que não encontra em outras FMs. Estamos fazendo isso há 70 dias; é uma jornada de transição e o resultado tem sido espetacular! Inclusive trazendo grandes clássicos, populares e icônicos, como Detalhes, do Roberto Carlos; Fio de Cabelo, de Chitãozinho e Xororó etc. Estamos enxertando essas músicas na programação e o resultado não poderia ser melhor! Tem também músicas lentas internacionais, como os Bee Gees, de segunda a sexta, de 22h até meia noite; é o Good Times Paradiso. Trouxemos para nós e é um sucesso! – comemora.

Blue Note no Rio e em São Paulo

“O Blue Note é um imenso, um gigante privilégio. Nos meus tempos de Sony, eu batia ponto no Blue Note em Nova York, nos anos 1990; e sempre entendi que trazer este conceito para o Brasil seria fantástico. Até porque temos uma incrível diversidade de sons, do xaxado ao pop, passando pelo rock, sertanejo, axé, samba, frevo etc. Os Estados Unidos chegam um pouco perto, mas o Brasil é disparado o primeiro. E tem o calor com que o público brasileiro curte música. O Blue Note começou em 1981, focado em jazz, mas depois abriu o leque. O importante é a excelência artística – e, do outro lado, a excelência em gastronomia. E a intimidade. Pela regra, a franquia permite no máximo 400 lugares, para ter a intimidade e a conexão, como se as pessoas estivessem assistindo ao show na sala de suas casas. Quando eu frequentava lá no Village, em NYC, sempre pensava que seria bárbaro trazer para o Brasil. Alguns grupos já tinham tentado, mas não tinham conseguido. Fui tocando meus negócios, sem nunca desistir daquele sonho. A família Bensusan, dona da marca, é muito ciosa. Eu consegui muito pela trajetória da Sony e aí tive várias indicações. Abrimos antes da pandemia, tanto no Rio quanto em São Paulo; na pandemia fechamos e depois reabrimos os dois. O Blue Note em São Paulo está na icônica Avenida Paulista, um verdadeiro fenômeno, um lugar de excelência como São Paulo nunca teve. E o Blue Note Rio também é um fenômeno, de frente para o mar de Copacabana, na Avenida Atlântica! São duas grandes referências, são plataformas de comunicação, de posicionamento para marcas, como Porto Seguro, Coca-Cola, Heineken, Azul Cia Aérea, etc. São duas casas muito emblemáticas. Antes era a Gallery, do José Victor Oliva, e o Hippopotamus, do Ricardo Amaral. Tenho dito que os dois Blue Notes estão ocupando estes lugares.”

Aventura é indicada ao Prêmio Caboré

“E o outro negócio que temos em arte, dramaturgia e cultura, é a Aventura, que está completando 16 anos. Não sei se você sabe, mas o Brasil já é o terceiro maior produtor de musicais do mundo, perdendo apenas para os EUA e para a Inglaterra. Temos o braço da produtora de grandes teatros musicais e também o braço dos teatros - como o Riachuelo, o Adolpho Bloch (no antigo prédio da Manchete, no Flamengo, Zona Sul do Rio); o Arena B3 multiconteúdo, em São Paulo; a EcoVillaRiHappy, no Jardim Botânico do Rio, um teatro com foco no público infantil de até 10 anos, com o olhar da sustentabilidade para crianças. E agora assumimos a gestão do Teatro Alfa, que reabrirá no segundo semestre de 2025. O conjunto desta obra foi coroado com a indicação ao Prêmio Caboré. É muito emblemático! O Caboré é o Oscar da publicidade e do marketing no Brasil. É uma grande premiação, brilhantemente feita há décadas pelo jornal Meio e Mensagem. Tem o foco de marketing e de publicidade. É a primeira vez que uma companhia deste segmento, com a jornada na arte e na cultura, é indicada ao Caboré. A indicação, para nós, já é uma imensa vitória! Reconhece que a economia criativa é uma disciplina muito importante para as áreas de marketing, para o posicionamento de marcas. Assim como a TV Globo, a Plurale e outros veículos são importantes, o equipamento cultural da Aventura pode ser muito importante para o planejamento de uma agência de publicidade e de marketing. É importantíssimo! Significa que mais empresas e agências vão olhar o segmento de arte e cultura como investimento. Considero esta indicação um divisor de águas. Vai abrir muitas frentes para a economia criativa. A votação dura um mês, até o dia 28 de novembro. É claro que vencer será sempre muito bom. Estamos saindo com um slogan em campanha para buscar votos: “Vote na Arte e na Cultura do nosso país. Vote Aventura Caboré 2024.”

Sustentabilidade

“Não vejo a sustentabilidade como um braço no vórtice dos negócios. Sustentabilidade/ESG estão no DNA dos meus negócios e dos meus sócios - e na natureza dos negócios que eu faço. Até porque a diversidade está diretamente ligada à lucratividade da empresa. Quanto maior for a diversidade em uma empresa, maiores serão os vórtices de ideias, de pensamentos distintos, que geram um caldeirão muito mais rico em termos de criatividade. Se todos pensam igual em uma empresa, a tendência é que esta empresa permaneça fazendo tudo igual! Vivemos em um mundo no qual a inovação precisa ser diária, semanal, mensal. Então, diversidade é absolutamente intrínseco em todos os meus negócios. Faz parte do DNA. Não tenho um diretor, um setor... faz parte das nossas cabeças. Nós somos assim! Precisamos dar oportunidade para quem não tem oportunidade. Estamos fazendo a Jornada da Amazônia para devolver à sociedade - e também com todos os teatros 100% acessíveis. Já é assim por natureza. É transversal. A sustentabilidade está sempre presente na nossa jornada!”







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1 comentário | Comente

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Marilene Lopes |
Destaco a entrevista do Calainho. Maravilhosa!!!!!!

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