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Jorge Gerdau: ESG, voluntariado e propósito

Em entrevista exclusiva à Plurale, empresário que projetou a Gerdau como uma das maiores indústrias do aço global fala sobre novo livro e valores.

POR SÔNIA ARARIPE E FELIPE ARARIPE, DE PLURALE

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A capa do primeiro livro do empresário e filantropo Jorge Gerdau Johannpeter - A busca: os aprendizados de uma jornada de inquietações e realizações (Citadel Grupo Editorial, 176 páginas, R$ 62,90) surpreende os desavisados. Ele está com uma prancha de surfe; e não se trata apenas de uma peça decorativa. Jorge Gerdau surfa, sim, desde jovem, quando os avós e pais o levavam, com os irmãos, para o litoral gaúcho, catarinense e para as praias cariocas. Também é um amante do hipismo. Famoso por ter projetado o grupo Gerdau – fundado por seu bisavô João Gerdau – como uma inovadora locomotiva das siderúrgicas globais, ele não pensa em descansar. Conta para Plurale, em entrevista exclusiva, que está sempre engajado em novos projetos e revela sua opinião sobre a jornada ESG, voluntariado e governança.

Sem a pressão do dia-a-dia das empresas, Jorge Gerdau, aos 88 anos, mantém uma rotina de intenso envolvimento comunitário em mais de uma dezena de instituições - e o gosto por estudar sempre. Foi fundador do Movimento Brasil Competitivo e da ONG Todos pela Educação. Preside o conselho da Fundação Iberê Camargo e participa do Conselho do Hospital Moinhos de Vento. É membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial e do Conselho de Governança do Instituto Millenium. Integra o Conselho da Parceiros Voluntários. Foi o primeiro brasileiro indicado para o Global Business Hall of Fame da Junior Achievement Worldwide. E está sempre participando de grandes ações voluntárias, com no processo de reconstrução do seu estado, o Rio Grande do Sul, atingido severamente pela emergência climática.

“É o que me move”, conta. Não imaginem que ele vá se aposentar de vez. Nem está certo que se anime a escrever outro livro. "Estou muito curioso para ver a reação dos leitores." Os recentes eventos de lançamentos do seu primeiro livro em diferentes capitais – Porto Alegre, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte –, sempre ao lado da esposa Maria Elena Johannpeter, reuniram autoridades, políticos, empresários, executivos e vips. E também jovens que seguem as dicas e lições da liderança: Jorge Gerdau é, sem dúvida, um verdadeiro guru, não somente na seara empresarial, mas também na Filosofia e na vida.

Nesta entrevista exclusiva à Plurale por call, Jorge Gerdau fala de temas atuais e também faz uma reflexão sobre o que viveu na transformação da economia brasileira e global. Reconhece a força das palavras: o livro traz uma seleção de 23 conceitos com os quais mais destaca. Perguntamos com quais destes ele mais se identifica e selecionou três: amor, respeito e diálogo.

Confira os principais pontos da conversa de Jorge Gerdau com Plurale.

O livro - "Este é o meu primeiro livro. Levei três anos trabalhando nele, com um parceiro, o Túlio Milman. Estou muito feliz com a repercussão e curioso também para ver se será útil para outras pessoas. Explico no livro que o objetivo não é falar sobre economia, autoajuda ou fazer um relato da minha vida. Não é um livro promocional. Procurei falar um pouco sobre o que vivi, sobre o que acredito. Valores, filosofia - e também sobre as atividades diversas em que atuo ou atuei, como a atividade empresarial, saúde, o social, a cultura, a educação, os esportes… Não sei se escreverei outro (rs). Eu me movimento em atividades com foco em melhoria de gestão em várias frentes, como acabei de citar. São atividades sem limites. Vou tentar ser útil nesta área.”

Trabalho de equipe - “Uma solução inteligente quee evidência como conduzir as coisas. Na realidade, individualmente, qualquer um de nós tem limitações enormes. Todos estes campos de atividade nos quais atuei e ainda atuo são, por natureza, trabalhos que exigem mobilização de equipes, para que possa se construir os resultados. Consequentemente, qualquer uma destas atividades em que me envolvi e continuo me envolvendo são de capacitação de equipes, para que objetivos e propósitos sejam atingidos. Eu nem sei trabalhar sozinho! (rs) O sucesso passa muito pela coordenação de esforços coletivos, que nos levam a uma verdadeira prosperidade. Na Saúde, por exemplo; é uma área na qual estou muito envolvido, historicamente, com o Hospital Moinhos de Vento. Somos hoje o segundo melhor hospital do Brasil. Na área de Cultura, também, patrocinamos várias ações. O esforço sempre foi no sentido de procurar, de uma forma ou outra, a busca da excelência; e vou usar esta palavra com cuidado. Em qualquer uma destas atividades, sempre procuramos olhar o que existe de melhor no país e no exterior, para mirarmos. Com a equipe, o objetivo éprocurar maximizar resultados e buscar a eficiência".

Jornada ESG – “É um trabalho extremamente interessante e absolutamente necessário.Talvez a maior preocupação no ESG, por vivência pessoal, tem que se trabalhar as frentes e oportunizar as melhorias nessas frentes de trabalho, mas tenho convicção profunda de que, tanto quanto cada uma destas frentes, é essencial ter uma visão integrada. Gosto, particularmente, da palavra sustentabilidade, porque é preciso estender os conceitos de uma área às outras, para que elas se integrem. Não acho correto tratar cada um destes segmentos separadamente – ambiental, social, econômico e de governança. Estou convicto de que, para o sucesso pleno de qualquer tipo de instituição – tanto uma empresa como uma instituição social –, é preciso ter esta visão integrada. Acredito em uma integração operacional, nos propósitos que querem ser atingidos. Vejo com muita alegria este fortalecimento do ESG. O avanço deste debate, de forma ampla, mostra os caminhos e a evolução, no conceito importante dentro do integração das atividades sociais, ambientais e econômicas.”

Engajamento de cada indivíduo - “Estou convicto de que este é um problema de natureza cultural; e que precisamos fazer um processo educativo. Temos que incorporar isso na nossa cultura individual. Não interessa que função a pessoa exerce, qual o tamanho da empresa; temos TODOS que nos engajar; fazer um balanceamento destes fatores e incluí-lo como propósito de vida. É preciso buscar o equilíbrio. No Brasil, hoje, estamos precisando crescer no ambiental e no social; mas se não houver o crescimento econômico, a capacidade de melhorias nas atividades sociais e ambientais não virão. No Brasil, temos um índice global de crescimento de investimentos que está em torno de 7%, enquanto outros países, como a Índia, por exemplo, esse índice chefa a 26% ou 28% de capacidade econômica, para investimentos em projetos. E eles estão crescendo 7% ao ano, enquanto nós estamos crescendo a uma taxa em torno de 2,5%. “

Engajamento na recuperação do Rio Grande do Sul após a emergência climática e o voluntariado - “Tenho esta visão há anos. É indiscutível que este acidente que aconteceu mostrou uma capacidade de mobilização enorme. Mas os desafios da reconstrução são gigantescos. A mobilização foi extraordinária. Se me permite, acho muito importante falarmos de voluntariado. Eu, Maria Elena (esposa), filhos e toda a família estamos sempre engajados no voluntariado, trabalhando permanentemente. Tive a vivência das empresas americanas da Gerdau. O trabalho voluntário lá, na sociedade americana, floresce desde cedo - nas próprias empresas, na comunidade, na sociedade. È cultural. Acredito que, aqui, ainda temos uma lacuna cultural. Nasce no chão de fábrica, nem depende dos executivos. Acredito que não devemos trabalhar voluntariamente apenas no caos, na crise. Temos uma caminhada pela frente. Especialmente em um país que tem tantas carências como o nosso. Deve ser uma jornada permanente.”

Conselho para um jovem que está se formando e entrando no mercado de trabalho – “Acredito que, quanto mais cedo se começar a trabalhar no mercado, melhor. Sem prejuízo, claro, dos estudos. Comecei a trabalhar muito cedo, com 16 anos, na parte de emissão de notas da fábrica da família. Quando entrei na Faculdade de Direito, era um dos poucos que já tinha esta experiência. Sempre estudei também. Eu estudo até hoje! E tem um fator novo: existem vários cursos. E a evolução tecnológica é tão rápida que é preciso sempre se especializar. ”

A força das palavras – “Selecionei algumas palavras importantes que norteiam a minha vida. E recomendo que cada um faça o mesmo. Chegamos a um total de 23. Mas se tivesse que selecionar apenas duas, acho que ficaria com amor e respeito. São essenciais. Este exercício surgiu para fazer uma lista de palavras da minha visão, a minha filosofia; achei muito boa. Chegamos a 23. A palavra respeito é de uma dimensão, de uma importância, mas só cresce, no fundo, se estamos conversando, debatendo; temos capacidade de conversar. O meu pai respeitava o porteiro da igreja, ou da fábrica, da mesma forma. Este tema de respeito às leis, aos costumes ... há uma força. O livro foi construído desta forma. Com respeito aos leitores, aos meus antepassados, à família, aos amigos, à equipe etc. E o amor também é muito importante: os sucessos no mundo acontecem, pela paixão forte de pessoas em torno de um propósito. Depois somaria uma terceira palavra, também muito relevante, que tem feito muita falta: o diálogo. Muito do que está acontecendo hoje no mundo está conectado com a falta de diálogo. Eu converso com os cavalos, com o mar! O diálogo cria uma riqueza... Gostaria que os conflitos no mundo fossem resolvidos ampliando o diálogo. Isso é muito importante.”

FRASES DO LIVRO

“Quem se acha gênio ou superior perde a capacidade de aprender.”

“Entendo que envelhecer não é, por si só, algo bom ou ruim. Depende de como enfrentamos cada momento da vida, dentro da nossa dimensão e daquilo que podemos controlar. Desejo que a minha busca possa, de alguma forma, mesmo que mínima, contribuir com cada leitor na sua própria jornada.”

“Ter um propósito é encontrar, aceitar e trabalhar por aquilo que nos motiva a sair da cama todas as manhãs.”

“Quanto mais simples a posição do colaborador, mais importantes são a atitude e o respeito.”

“O exemplo dos meus pais foi fundamental no desenvolvimento da minha sensibilidade no campo da cultura.”

“A excelência não pode ser alcançada sem uma noção de equilíbrio e de sustentabilidade.”

“A Gerdau cresceu, de verdade, com participação dos nossos colaboradores, dos mais variados níveis.”

Ficha técnica do livro

Título: A Busca: os aprendizados de uma jornada de inquietações e realizações

Editora: Citadel Grupo Editorial
Autor: Jorge Gerdau
ISBN: 978-6550475437
Número de páginas: 176
Preço: R$ 62,90
Onde encontrar: Amazon e nas principais livrarias do país

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