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Ecoturismo

Diálogos para um turismo justo e solidário

POR BETINA DOWSLEY, DE PARIS

ESPECIAL PARA PLURALE

No último verão no Hemisfério Norte, o tema quente no universo de viagens e turismo foi o "overtourism" (turismo em excesso ou de massa, em bom português). Diante de taxas extras de entrada e permanência, limite de circulação e de aluguéis de curta duração e até ataques de pistolas de água, é reconfortante pensar em iniciativas responsáveis e em harmonia com o meio ambiente e a população. Esta era justamente a proposta do evento “Dialogues du Tourism Équitable”, promovido pela ATES (Associação para o Turismo Justo e Solidário), realizado em Paris no último mês de novembro.

Em sua terceira edição, o evento reuniu profissionais do turismo comprometidos com a causa, bem como agentes de desenvolvimento territorial, pesquisadores e ativistas para trocar experiências, refletir e buscar inovações coletivamente sobre as questões do setor e as práticas para um turismo justo e inclusivo. O encontro foi realizado na sede da Agência Francesa de Desenvolvimento e apresentou casos de como construir e manter parcerias justas e solidárias entre todos os agentes do turismo, com foco especial na atividade entre nações do Norte e do Sul, como os presentes se referiam aos países “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”.

Foi Coralie Marti, Diretora da ATES, quem abriu os trabalhos, destacando os 10 anos do selo “Turismo Justo”, que, até o momento, certificou 17 iniciativas na França. Para se enquadrarem no âmbito do comércio justo, os operadores turísticos e as comunidades anfitriãs estabelecem parcerias únicas, baseadas em relações equilibradas e remuneração sustentável e justa. Entre os mais de 50 critérios levados em consideração para a obtenção do selo estão a gestão responsável da infraestrutura utilizada; participação equilibrada de gêneros nas atividades turísticas, sem discriminação, privilegiando a capacidade dos indivíduos; escolha de destinos preparados para receber todo tipo de pessoa; e seleção de fornecedores de artesanato e alimentos locais.

As mesas redondas tiveram a participação de operadores de turismo internacional, que contaram suas motivações, dificuldades e soluções junto a parceiros locais para desenvolver relações de confiança e responsabilidade. Os diálogos começaram com Rodrigue Olavarria Tapia, representante da rede F3E, de cooperação internacional, que apresentou um estudo inédito sobre parcerias no turismo justo e os efeitos transformadores desta atividade nos destinos. Em seguida, Tattiana Angel, Robin Naël e Omar El Jid expuseram casos vivenciados por eles no Peru e no Marrocos.

Para falar sobre as relações entre iniciativas de turismo responsável e instituições públicas locais, a segunda mesa reuniu representantes de três agências que possuem o selo “Tourisme Équitable”: Patrick Wasserman, da Rencontres au Bout du Monde; Nathalie Turbé, da TDS Voyages; et Claude Travaillé, da A Tibo Timon; além de Gwen Prevot, Coordenadora de Projetos Internacionais da ONG Tetraktys. Aqui o tema foi viagens em grupos pequenos e solidárias para todas as faixas etárias. Infelizmente, além das dificuldades normais em estabelecer relações de confiança entre diferentes culturas, foram relatadas tentativas de corrupção e falta de interesse real de governantes em países como Benin, Cuba e Quirguistão.

Depois do café, o debate abordou mais de perto as relações de poder e como o turismo pode atuar para reduzir ou acentuar as desigualdades. Participaram Mélanie Geneste (Terres des Andes), Laurent Besson (Vision du Monde), Victoire Caïla, responsável pela defesa e referência de gênero da agência de Comércio Justo da França, e Yann Delaunay, Diretor Geral da organização France Volontaires.

Mas e o Brasil, país do Hemisfério Sul que tanto atrai os franceses, a começar pelo próprio presidente da República, Emmanuel Macron? Alguns dos presentes citaram projetos ainda em desenvolvimento, mas foi Claudie Ravel, presidente da associação Aequologie des Origines, fundadora e diretora da empresa Guayapi (que comercializa superalimentos e cosméticos à base de guaraná, urucum, camu camu, andiroba, entre outros produtos tropicais), quem manifestou grande interesse pela biodiversidade da Amazônia e pelo respeito e apoio aos povos autóctones, que visita anualmente. Depois de mais de 30 anos trabalhando pela autonomia política e econômica, bem como pela preservação do ecossistema, da cultura e da tradição do povo Sateré Mawé em terra indígena demarcada em 1986, ela sabe a importância de estabelecer uma relação comercial justa e responsável. Para isso, Claudie ampliou sua atuação na região e passou a apoiar também o ecoturismo promovido pelos próprios povos originários não só no Brasil, mas também no Peru e no Sri Lanka, também parceiros da Guayapi: “É fundamental conhecer para preservar”, constata ela, para quem o turismo justo e solidário só tem a somar.







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