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Eliane Brum é eleita pensadora do ano na revista britânica ‘Prospect’

Os editores apresentaram para a votação dos leitores uma restrita lista com 25 nomes de diversas partes do mundo que ajudam a pensar novas formas de existir na incerteza. Diretora de SUMAÚMA foi a escolhida pelo público

Do Sumaúma

Foto: Lela Beltrão/SUMAÚMA

No comecinho deste ano, Eliane Brum, cofundadora e diretora de redação de SUMAÚMA, usou as redes sociais para contar que havia sido escolhida como uma das 25 pensadoras mais importantes do mundo para 2025 na renomada revista britânica Prospect. “É uma enorme alegria, essa que é potência de agir, porque é um reconhecimento de um trabalho de décadas e também porque esse reconhecimento garante que as ideias circulem por outros mundos”, escreveu. Na mesma lista, estão nomes como os das escritoras Anne Applebaum e Rebecca Solnit, do especialista do MIT no mundo do trabalho David Autor e da pesquisadora em desinformação e manipulação digital Renée DiResta.

Poucos dias depois, Eliane estava em nossa redação em Altamira, no Pará, quando recebeu outra notícia vinda da Inglaterra: dos 25 escolhidos pela Prospect, ela ficou em primeiro lugar na votação dos leitores. Eliane Brum é a pensadora do ano para 2025.

Mas ainda não dava para contar a (quase) ninguém. Os colegas da revista inglesa explicaram que a informação ficaria embargada (não poderia ser divulgada, no jargão do jornalismo) até 29 de janeiro, data de publicação da próxima edição da Prospect impressa e online.

Mesmo contida, a alegria irrigava aos poucos as pessoas e as relações. Iluminava o contexto que semeou SUMAÚMA e faz nossa árvore crescer. É o reconhecimento do que Eliane pensa e realiza junto com a gente. A gente que ela toca. Em palavras e gestos.

Cada uma de nós que precisava ser informada sobre a notícia tinha uma nova compreensão da informação – em si e no todo. Como uma rede micelial, fomos luminescendo até chegar aqui. Vocês sabem, estamos em guerra. A guerra movida contra a Natureza, que atinge todas as pessoas humanas e também as não humanas – os Animais, as Plantas, os Fungos. A guerra que pôs a vida no planeta em território desconhecido.

E a guerra vai deixando suas rachaduras. Tal diz o verso de Leonard Cohen: There is a crack, a crack in everything/That’s how the light gets in (algo como “há uma rachadura, uma rachadura em tudo/é assim que a luz entra”). Às vezes, por meio de uma brecha chega a iluminura: é Eliane que vem ali, reconhecida em sua luta na linha de frente dessa guerra? Sim. E uma parte dessa Eliane somos nós e está em nós. Mas chegaremos lá. Ela vai falar melhor sobre isso.

Saber do reconhecimento da nossa cofundadora, coidealizadora e diretora de redação (não é sorteio, é resultado) animava cada pessoa que abraçava a novidade, que abraçava Eliane. Ela disse: “Dessa vez foi escolhida alguém que escolheu estar em Altamira, uma cidade no epicentro da destruição, dos incêndios, dos desmatamentos, de violências. E também de resistências. Eu não venho da academia, da tradição dos intelectuais. Eu venho da experiência visceral da reportagem, da escuta das oralidades, eu venho do chão”.

O livro Banzeiro òkòtó – Uma Viagem à Amazônia Centro do Mundo (Companhia das Letras), hoje traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e búlgaro, foi determinante para a escolha. “As ideias deste livro estão presentes na concepção de SUMAÚMA, que há mais de dois anos conta a Amazônia desde dentro, com a redação crescendo com jornalistas-floresta do nosso programa de coformação Micélio-Sumaúma.”

De onde vem esse reconhecimento?

“Eu defendo a recentralização do mundo. Não apenas a centralidade da Amazônia, mas de todos os biomas e dos Oceanos. Defendo o deslocamento do que é centro e do que é periferia. E isso não é nem pode ser apenas retórica. A recentralização do mundo é urgente”, diz. “Esse reconhecimento da Prospect me dá muita alegria porque esse deslocamento de centralidades parece estar presente nessa escolha, ao colocar no centro outros valores e outras ideias.”

A linguagem que destrói e constrói ruínas, o poder da imaginação, a defesa da recentralização do mundo. Conceitos como esses propostos por Eliane Brum – não vamos nos arriscar a esgotá-los aqui, mas trabalhamos com eles todos os dias em cada centímetro dos nossos pensamentos e ações, porque deles nasceu SUMAÚMA – são resultado de experiência de 37 anos de reportagem, 27 anos cobrindo as Amazônias, e de um entendimento de si mesma como floresta. “Na floresta, tudo é relação, tudo é conexão, tudo é interação, tudo é devoração. As ideias que eu proponho partem dessa experiência. O que eu quero dizer é que eu não ando só. Eu carrego todas essas pessoas que me ajudaram a pensar tudo isso. Eu carrego muitas vozes.”

As escolhas da ‘Prospect’

Desde 2005 – quando o mais votado pelo público foi o linguista e intelectual estadunidense Noam Chomsky –, a equipe editorial da revista Prospect, escritores e colaboradores regulares da publicação escolhem os chamados Top Thinkers globais. A lista chegou a ter 100, depois 50 e agora está com 25 nomes. O objetivo, segundo o veículo, é destacar pessoas cujas ideias moldam o planeta. “Há alguns pensadores que merecem um lugar nela por nos ajudar a entender como nosso mundo está mudando e como devemos responder.”

Selecionados os Top Thinkers, eles são apresentados aos leitores, que têm um prazo para votar e compor uma espécie de ranking dos intelectuais mais importantes de seu tempo.

Para 2025, além de Eliane Brum, foram apresentados outros 24 nomes – indivíduos ou grupos –, incluindo a jornalista e historiadora Anne Applebaum, especializada em análises de autoritarismo, o coletivo de ativistas KlimaSeniorinnen, da Suíça, formado por mulheres que têm em média 73 anos e combatem a catástrofe ambiental, e a escritora Rebecca Solnit, que “pensa nas mudanças climáticas como violência em escala global, não apenas contra outras espécies, mas também os seres humanos”.

Neste link, é possível conhecer mais sobre cada um dos Top Thinkers deste ano. São pessoas que se destacam no debate sobre clima, inteligência artificial, desigualdade, direitos humanos e política. Elas falam por meio da economia, da tecnologia, da música, da escrita.

Desde 2005, de Chomsky a Eliane Brum, a eleição da equipe da Prospect e seus leitores já destacou nomes como os economistas Daron Acemoglu (2024), que no ano passado recebeu o Nobel de Economia, e Thomas Piketty (2015), reconhecido por colocar a desigualdade no centro da discussão quando o assunto é economia. Voz importante nos debates de gênero e direito das mulheres, a filósofa Kathleen Stock, autora de Material Girls: Por que a Realidade Importa para o Feminismo (Editora Cassandra), foi a escolhida de 2022. Até agora, Eliane Brum é a única brasileira eleita pensadora global (no primeiro lugar). Estamos felizes. Com e por ela.

“Muitas vezes me perguntam: ‘O que posso fazer?’. Não sou eu que posso dizer. Aprendi muitos anos atrás que no momento-limite que nos foi dado viver é preciso fazer mais do que sabemos, é preciso fazer também o que não sabemos, é preciso criar coisas que não existem. Criamos coisas que não sabemos a partir do que sabemos. SUMAÚMA, por exemplo, começa a nascer como um exercício de imaginação meu e de Jonathan Watts durante a pandemia. Começamos a imaginar o que não sabemos a partir do que sabemos – e criamos juntos com todos vocês algo que não existia”, diz Eliane. “Eu não sou um indivíduo criando algo, eu represento um monte de gente pensando e criando junto.”

Nossa conversa termina aqui. Ainda vamos dar algumas risadas. Prontas para continuar imaginando presentes futuros e desafiando linguagens. Lutando juntas. Que alegria. Nota mental: lembrar dessa troca, desse dia, quando estivermos muito cansadas. Rir e agir.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA E OUTRAS REPORTAGENS NO SITE SUMAÚMA







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