TEXTO DE FELIPE ARARIPE, REPÓRTER ESPECIAL DE PLURALE
DA ILHA GRANDE, COSTA VERDE RJ
FOTOS DE FELIPE ARARIPE E DE DIVULGAÇÃO
Time da Prio com a equipe da Brigada Mirim de Ilha Grande, projeto apoiado pelo TAC Frade - Foto de Felipe Araripe/ Plurale
Separada por uma viagem de cerca de uma hora do continente até o destino final, a Ilha Grande tem conseguido preservar a aura de paraíso. O tempo parece andar mais devagar e a natureza exuberante da Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro pode ser melhor apreciada em praias procuradas por turistas e preservadas por moradores locais. A Ilha Grande, parte do município de Angra dos Reis, Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco, é um dos locais compensados pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) Frade. A Prio, maior empresa independente de petróleo e gás do Brasil, especializada na exploração e produção de petróleo e gás em campos maduros, com 10 anos de mercado e DNA do Rio de Janeiro, já investiu em mais de 100 projetos socioambientais em vários municípios.
Ao comprar o Campo Frade da Chevron, em 2019 a Prio assumiu também o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) Frade. O Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a Chevron e o Ministério Público Federal, com o acompanhamento da ANP (Agência Nacional doe Petróleo) e do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) devido aos derramamentos de óleo em 2011 e 2012 na Bacia de Campos. Ao tomar posse da gestão do Campo, a Prio também assumiu as medidas compensatórias no valor de R$40 milhões de investimentos em municípios da costa fluminense, com gestão da Funbio.
Um novo capítulo dessa história está sendo escrito com projetos socioambientais na Ilha Grande apoiados pelo TAC Frade. A Brigada Mirim Ecológica de Ilha Grande, foi ajudada no TAC, e prepara jovens entre 14 e 17 anos para a formação socioambiental e cidadã. O projeto, que oferece uma bolsa mensal equivalente a meio salário mínimo, exige bom desempenho escolar dos participantes para ingresso e permanência nas atividades.
Parte da equipe da Brigada Mirim de Ilha Grande. Foto de Felipe Araripe/ Plurale.
Os jovens brigadistas atuam em diversas frentes, como o cultivo de alimentos em uma horta comunitária, aprendizado de maricultura, cursos de ensino a distância e o “Recicla Ilha” – projeto responsável pela destinação correta de resíduos sólidos na comunidade, com apoio de comércios e moradores locais. As ações incluem coleta de lixo nas praias e o uso de grandes ecobags de papel para o transporte até locais de tratamento adequado.
Em 2023, a iniciativa recebeu apoio por meio de um edital do TAC Frade, voltado à modernização da fazenda marinha da Brigada. Os recursos possibilitaram a capacitação em mergulho dos brigadistas, a aquisição de equipamentos subaquáticos, além de um lava-jato industrial e embarcações para apoio às atividades.
Maria Luísa Nascimento, de 15 anos, é uma das integrantes da Brigada há um ano. Filha e irmã de ex-brigadistas, participa do projeto de maricultura e faz cursos na sala de informática da instituição. “Todo dia eu aprendo coisas novas, amplio meu conhecimento e consigo ensinar questões ambientais para outras pessoas além da Brigada”, conta.
Beatriz Mattiuzzo, da Marulho. Foto de Felipe Araripe/ Plurale.
Outro exemplo de impacto positivo é o apoio à Marulho, fundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo. A iniciativa nasceu na comunidade de Matariz, que possui cerca de 250 moradores. O negócio, de impacto socioambiental sustentável no longo prazo, trabalha na retirada de redes de pesca descartadas no mar - que são transformadas em novos produtos, com o apoio da comunidade local. “A ideia foi começar a pegar as redes de pesca descartadas desta região e transformar em novos produtos pelas mãos dos próprios pescadores e da comunidade local, que são os mais afetados por essa poluição marinha, além da desvalorização da sua cultura e do território”, explica.
Em uma antiga fábrica de sardinhas desativada desde 1994 — que funcionava sob administração de japoneses e encerrou as atividades após o fechamento do complexo penitenciário Cândido Mendes — funciona hoje o espaço de criação, gestão e armazenamento da Marulho.
A empresa reutiliza redes de pesca descartadas para criar colares, chapéus, bolsas, pochetes, sandálias, chaveiros, sacolas para hortifruti e outros produtos. O processo de criação é coletivo e inclui costureiras e redeiras da própria comunidade, como destaca Bia: “Um dos nossos princípios é garantir autonomia para a comunidade local. Não faz sentido recolher as redes e enviá-las para um designer de fora. Por isso, realizamos oficinas de capacitação para que a própria comunidade possa desenvolver os produtos com excelência”.
Entre os artesãos da Marulho está o experiente pescador Paulo, de 73 anos, que cruzou o litoral brasileiro, da Ilha Grande até o Chuí. Aposentado, ele se envolveu no projeto há cinco anos para ajudar um amigo que era redeiro e nunca mais parou. Hoje, Seu Paulo produz cerca de 100 sacolas sustentáveis para hortifruti feitas de redes reutilizadas em apenas três dias.“Eu não paro. Sou marinheiro, tenho barco e bote. A gente tem que trabalhar. Se não for bom na costura, não dá certo”, afirma com orgulho.
Seu Paulo. Foto de Felipe Araripe/ Plurale.
A Marulho foi uma das iniciativas beneficiadas pelos editais do TAC Frade, que destinaram recursos para oficinas com costureiras no Rio de Janeiro, parcerias com marcas sustentáveis e apoio financeiro às 22 pessoas envolvidas na operação.
Aline Almeida, coordenadora de Meio Ambiente e Socioeconomia da Prio. Foto de Felipe Araripe/ Plurale.
Segundo Aline Almeida, coordenadora de Meio Ambiente e Socioeconomia da Prio, embora os editais do TAC Frade tenham sido encerrados, a empresa pretende seguir apoiando projetos ambientais. “A Prio pretende dar uma continuidade, mas agora como responsabilidade social, uma ação voluntária da marca. A gente tem um resultado muito bom dos projetos, a ideia é que a gente faça uma seleção deles e que sigamos apoiando alguns, mas ainda não se sabe qual vai ser o tema deste próximo passo”, afirmou à Plurale.
Em visita aos projetos apoiados, Aline relembrou a origem da ideia de investir em maricultura, que surgiu a partir da realidade de mulheres marisqueiras em Arraial do Cabo. “Estar aqui hoje e ver isso se concretizando me fez pensar: ‘Caramba, a gente pensou nisso lá atrás baseado em somente um grupo específico que estava perdendo espaço’”, relatou. Ela também comentou os desafios do processo: “Avaliamos mais de 100 projetos, criamos câmaras técnicas específicas para cada edital. Conseguimos ver que eles tiveram uma repercussão nesses lugares, que normalmente esses projetos não costumam alcançar. Para a maioria deles este foi o primeiro recurso que receberam”, relata.
Algas ganham força com apoio do TAC Frade
Felipe Barbosa e Eduardo Macedo, da AMBIG. Foto de Felipe Araripe/ Plurale.
Outra frente impulsionada pelo mesmo edital é a Associação dos Maricultores da Baía da Ilha Grande (AMBIG), que utilizou os recursos para estruturar oito fazendas marinhas. A produção inclui a alga Kappaphycus alvarezii, com alto potencial econômico e ambiental, na Fazenda Marinha da Patrícia.
Eduardo Macedo, biólogo, e Felipe Barbosa, veterinário, integrantes da associação, explicam os múltiplos usos da alga — desde o consumo direto, semelhante ao de um repolho cru, até aplicações nas indústrias alimentícia, agrícola e pecuária. A ideia comum de que as algas são somente utilizadas para virar parte da comida japonesa não é verdade. Suas propriedades vão muito além, como explica Eduardo: “Já existem estudos que comprovam o aumento de produtividade; e a alga é produto natural. Na prática isso deu um boom, na pandemia que fechou fronteiras. Há gente que importa milhões de dólares anualmente em carragenina, que é um gel extraído de algas. Já tem um movimento muito forte, com demanda nacional do produto”.
A carragenina é um espessante utilizado como aditivo alimentar em diversas tabelas nutricionais de produtos que talvez você ainda não tenha notado, como em produtos lácteos, embutidos e gelatinas.
Além do uso alimentício, as algas podem ser utilizadas na captura de carbono e também na agricultura e pecuária. Até existe um estudo da Universidade da Califórnia em Davis que demonstra que, ao aplicar a alga Asparagopsis taxiformis na dieta dos bois, houve redução de aproximadamente 82% na emissão de metano. “Quanto às outras algas que estão sendo utilizadas lá fora - e que certamente a Kappaphycus pode ter esse potencial-, só não posso afirmar porque a gente ainda não tem essas pesquisas publicadas aqui no Brasil. É que, por meio das algas, o boi arrota e o peida menos - porque é o grande problema da da pecuária é o metano produzido pelo boi”.
A relevância da alga para a agricultura também chegou ao Congresso. A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado realizou, em julho de 2024, uma audiência pública sobre o uso da Kappaphycus alvarezii como bioinsumo. O debate resultou no Projeto de Lei nº 1348/2024, que propõe alterações legais para ampliar o uso de bioestimulantes agrícolas, como a carragenina. Os benefícios incluem menor necessidade de água, maior resistência a pragas e melhoria na produtividade das lavouras.
Entrevista com LEANDRO BRANDÃO, Gerente de Sustentabilidade da Prio
Leandro Brandão, gerente de Sustentabilidade da Prio. Foto de Divulgação.
Sustentabilidade na prática, chegando na ponta. É assim que Leandro Brandão, gerente de Sustentabilidade da Prio, resume o trabalho que vem sendo desenvolvido na Ilha Grande (Angra dos Reis/RJ), como parte de uma grande ação envolvendo também outros municípios do litoral fluminense, dentro do escopo do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) Frade. O compromisso foi assumido pela Prio ao comprar o Campo do Frade da Chevron, em 2019. “Temos procurado fazer além do que foi estipulado no TAC. E a forma de fazer, a governança, é que tem sido diferenciada. Fazemos questão que o benefício chegue na ponta, para cada comunidade”, explica. Confira a entrevista à Plurale.
Plurale - A Prio, ao assumir a operação da Chevron no Campo do Frade, em 2019, assumiu também o TAC Frade. Qual a importância destes projetos visitados na Ilha Grande?
Leandro Brandão - Se você me permite, eu posso dar um passo atrás? Acho importante trazer um contexto um pouco mais macro. A Prio é uma empresa independente que está completando 10 anos. Pode parecer pouco, mas é uma história que tem muito a ver inclusive com a sinergia e o crescimento do brasileiro, do carioca. Como se fala muito do ESG, acredito que é preciso tangibilizar essa realidade para as pessoas, para a população como um todo. Assim, trazendo um pouco mais de história, vamos dizer assim, acho que o Brasil hoje é não é um mercado, entre aspas, tão “maduro”, comparado com outros mercados internacionais. No Brasil, a Petrobras tem 71 anos de história: é a precursora. Em outros lugares do mundo, é muito comum o mercado se desenvolver a partir de projetos em que operadores muito grandes entendem que campos maduros não são mais viáveis para eles. É neste mercado que a Prio - e outros operadores menores, vamos dizer assim-, são chamados de juniores ou independentes. Desta forma, entendo que é super positivo para o Brasil, especialmente para o Rio de Janeiro, que tem uma economia bastante dependente do mercado de energia. Quando se transiciona um projeto ou um empreendimento dessa magnitude para um outro operador, esse novo operador, teoricamente, vem com uma gestão diferente. Uma gestão mais eficiente, com todos os benefícios que um operador independente traz para o mercado em crescimento no Brasil.
Se não há o crescimento de investimentos como estes, poderia haver descontinuidade ou gerar impacto para emprego, renda, royalties, etc. No mundo é bem comum acontecer este tipo de negociação - acontece no Mar do Norte, no Golfo do México. Mantemos a chama viva, acesa. Agora, entrando na pergunta sobre o TAC Frade: herdamos de um operador anterior. Temos uma preocupação genuína de que o recurso chegue na ponta. Na Prio, temos uma diversificação maior de projetos, que tocam as comunidades com valores até menores, mas que trazem um conceito mais amplo para os projetos.
A nossa busca é pela eficiência, pela sustentabilidade, pela manutenção das melhores práticas. Houve continuidade no projeto, com uma transição e adequação metodológica. Queremos que aquelas pessoas lá na ponta possam receber o benefício do recurso. Parece muito simplista, e realmente é. Tem funcionado muito bem.
Plurale – A Prio está completando 10 anos. A jornada ESG tem avançado, sendo vista como estratégica, sendo levada para toda a companhia e para a sociedade?
Leandro Brandão – Tenho muita convicção de que uma empresa é muito simbiótica com a sociedade. Uma empresa existe por uma sociedade, como parte da sociedade. Toda empresa é feita de pessoas. Então, no caso da Prio e de outras do ramo, como a operação é offshore, está distante da costa, da população, acho importante que a sustentabilidade tenha esta visão, que toque a sociedade. É lógico que há uma influência neste sentido, especialmente econômica, porque a população, às vezes, não percebe muito bem de que forma este mercado é desenvolvido no Brasil, não conhece melhor este mercado porque não está próxima dele". Por isso nos preocupamos sempre em trazer a temática ESG um pouco mais para o dia-a-dia. Assim, passa a criar uma conexão muito forte com as pessoas impactadas, pelo desenvolvimento sustentável, tanto da Prio quanto de qualquer empresa do mercado.
Vemos isso nos projetos da Ilha Grande e nos outros também. Os pescadores e maricultores não acreditavam que os recursos fossem chegar para eles. Ao mudar um pouco a metodologia, sabemos que as pessoas influenciadas/impactadas passaram a ter mais esta percepção. Conseguimos fazer o ciclo da economia circular, reaproveitando tambores de flutuação industriais que foram totalmente higienizados e doados para os produtores. A renda cresceu, o turismo cresceu.
- Plurale – Vocês seguem o que foi acertado no TAC ou procuram ir além?
- Leandro Brandão – Procuramos fazer além. Acreditamos que só essa mudança na gestão, na forma com que esse recurso chega na ponta, isso já praticamente já é uma prova do que a gente está indo além, entende? Temos algumas referências de mercado, pares, parceiros, concorrentes. Vemos como eles lidam. Queremos colocar a nossa personalidade nos projetos e trazer um pouco da conexão com aquela pessoa lá na ponta, recebendo o recurso.
Eles comentam nas reuniões. Não vamos citar aqui outros projetos de outros operadores, mas, alguns, até possuem menos projetos, com “tíquetes” (valores) maiores. Nós acreditamos que mais pulverizado, podemos atingir mais pessoas. Isso já é uma grande diferença.
- Plurale – Ano de COP30 no Brasil, emergência climática assolando diferentes pontos do planeta ... pressão forte de ONGs e de camadas da sociedade civil por redução em investimentos em energia fósseis e aumento na busca pela transição para energias renováveis. Questionamento da exploração na Foz do Amazonas. Neste cenário, como justificar investimentos em petróleo com riscos para regiões como Ilha Grande e litoral do Brasil?
- Leandro Brandão – Essa é uma discussão muito importante. Eu, particularmente, tento sempre buscar as referências internacionais. Quando surgem perguntas como esta, em rodas de conversa, gosto de trazer alguns números que reforçam a importância da atividade em si, né, para o Brasil. No contexto das metas globais, 2050, fala-se de meta zero. E como se encaixa o Brasil neste cenário? Nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo, com 47,4% de fontes renováveis, enquanto no mundo são 14,3%. Dados de 2022, de acordo com a EPE (Empresa de Pesquisa). E a matriz elétrica brasileira é ainda mais renovável do que a energética, porque grande parte da energia gerada no Brasil vem de usinas hidrelétricas, chegando a 58,9% em 2023. Temos hidrelétricas, solar, eólica, biomassa e nuclear.
Então, o Brasil é bem mais diverso em termos de matriz energética. Muitos países querem chegar nesse nível em 2050. E até menor, inclusive. Eu gosto muito de falar que, quem é do Estado do Rio e quem é carioca, têm ainda mais motivos para se orgulhar, porque boa parte do desenvolvimento nacional da energia vem da Bacia de Campos. Portanto, temos uma indústria de óleo e gás forte, que gera renda, recursos, royalties, etc. O Brasil, como um todo, é um país cuja matriz energética é muito limpa. Ou seja, a gente já alcançou a meta global, agora nesse ano. Temos uma matriz energética muito plural e limpa.
A indústria de óleo e gás tem um papel muito importante para essa transição. O Rio de Janeiro tem uma dependência econômica dessa indústria de 80% a 85%; e o Brasil não está em uma posição de inferioridade e sim de protagonismo, se observarmos o desenvolvimento econômico com base em um indicador específico: a quantidade de quilowatts/hora que cada pessoa consome. Se compararmos o Brasil com países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a China, a Inglaterra e a Europa como um todo, utilizando este indicador específico, por exemplo.
Enxergo como uma oportunidade gigante para o país. Acredito que produzir petróleo no Brasil - comparativamente com o mercado internacional - pelo indicador de carbono, é mais barato. Estamos falando de sustentabilidade, desenvolvimento econômico, geração de empregos, etc.
Está muito claro que o Brasil precisa desse recurso, que é um recurso natural importante para o desenvolvimento e cada vez mais esse recurso vai sustentar o desenvolvimento de outros recursos mais limpos e essa transição para acontecer. Para podermos ser – um pouco mais independente do óleo de gás. Em termos globais, o Brasil está produzindo um petróleo mais verde. Melhor produzir aqui do que depois precisar importar de outros países que produzem um petróleo com um nível de carbono maior. E, só para finalizar, temos um ambiente muito bem regulado pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) e fiscalizado pelo Ibama, que trazem muita segurança de como está sendo produzido este recurso no Brasil.
(*) Plurale viajou em press trip de jornalistas a convite da Prio.