Já são mais de 5.100 hectares que trazem a floresta de volta a uma das regiões mais desmatadas do estado
Do IPÊ/ Foto de Ana Lilian Pereira - Divulgação
Apenas no primeiro trimestre de 2025, a região do Pontal do Paranapanema/SP ganhou mais 1,4 milhão de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica plantadas via projeto Corredores de Vida, implementado pelo IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas há 25 anos. É o equivalente a 780 campos de futebol em pleno desenvolvimento. Ao todo, as 10 milhões de mudas estão trazendo a floresta de volta para 5.100 hectares, o equivalente a 5.100 campos de futebol. O projeto tem como base o Mapa dos Sonhos – um estudo do IPÊ que indica os locais mais estratégicos para restauração, na região do Pontal do Paranapanema, a fim de beneficiar a biodiversidade e o deslocamento da fauna, considerando também interesses socioeconômicos dos atores locais. A estratégia de restauração do Instituto conecta Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (RLs) de propriedades rurais às duas Unidades de Conservação (UCs) da região: o Parque Estadual Morro de Diabo (PEMD) e Estação Ecológica Mico-Leão-Preto (ESEC MLP), entre outros fragmentos.
As árvores plantadas nos primeiros três meses do ano estão distribuídas em APPs – Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais de 14 propriedades privadas, nos municípios de Teodoro Sampaio, Presidente Epitácio, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Anhumas, além do Assentamento Vale Verde, também em Teodoro Sampaio. Na região, o plantio em propriedades rurais é estratégico para a conectividade entre Unidades de Conservação na região e também no estabelecimento de corredores entre importantes fragmentos florestais.
Inicialmente, o Mapa dos Sonhos alcançava sete municípios: Euclides da Cunha Paulista, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Presidente Epitácio, Rosana, Sandovalina e Teodoro Sampaio. Em 2021, o mapa foi ampliado para outros municípios do Oeste Paulista, por meio do projeto ARR Corredores de Vida com objetivo de gerar créditos de carbono, em parceria com a Ambipar, líder global em soluções ambientais. Do total de 260 mil hectares de passivos ambientais, na região do Pontal, a meta é restaurar 75 mil hectares de áreas prioritárias até 2041. A expectativa é a remoção de 29 milhões de toneladas de CO2e em 50 anos. Municípios incluídos no Mapa dos Sonhos ampliado: Alfredo Marcondes, Alvares Machado, Anhumas, Caiabu, Caiuá, Emilianópolis, Estrela do Norte, Indiana, João Ramalho, Martinópolis, Narandiba, Piquerobi, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Rancharia, Regente Feijó, Ribeirão dos Índios, Santo Anastácio, Santo Expedito, Taciba e Tarabai.
A ampliação do projeto também ganhou outro ritmo. "Antes plantávamos de 100 a 200 hectares em 1 ano, hoje plantamos isso em um mês", destaca Laury Cullen Jr., coordenador do projeto Corredores de Vida.
Maior corredor restaurado na Mata Atlântica
Entre os destaques do projeto, estão as 2,4 milhões de árvores, em 12 km, que formam o maior corredor já restaurado no bioma conectando o Parque Estadual Morro do Diabo e a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto. A restauração florestal é executada de maneira integrada com participação social, geração de renda para a comunidade e benefícios para a biodiversidade e clima. A diversidade de espécies nativas utilizada é também parte importante do processo, para garantir o retorno de espécies da fauna à floresta, muitas delas ameaçadas de extinção, como o mico-leão-preto.
Clima, Comunidade e Biodiversidade
O projeto Corredores de Vida é baseado no tripé CCB – Clima, Comunidade, Biodiversidade. No quesito Clima, as árvores plantadas neutralizam carbono e gases equivalentes, como o metano. Na esfera da Comunidade, traz geração de emprego e renda. O projeto emprega diretamente 229 pessoas (56 jovens), divididas em três frentes: equipe técnica do IPÊ, viveiros comunitários e empresas florestais.
Já o aspecto Biodiversidade é estratégico para a conservação da fauna e da flora da Mata Atlântica. As mudas nativas empregadas no projeto são produzidas em 13 viveiros comunitários, com coleta de sementes em diferentes árvores matrizes distribuídas pela região, proporcionando um plantio com maior variabilidade genética.
"O projeto Corredores de Vida tem ganhos significativos tanto para o Clima como para Biodiversidade, no Pontal. Porém, envolver a Comunidade ao incentivar o empreendedorismo, por meio da criação de empresas que realizam os plantios e a manutenção dessas áreas, além de viveiros, é o ponto alto do projeto. Hoje, 18 empresas florestais e 13 viveiros comunitários prestam serviço para a cadeia da restauração florestal implementada pelo IPÊ", afirma Laury Cullen Jr.
Restauração florestal e os desafios globais
A restauração florestal é compromisso dos países que fazem parte da CDB - Convenção da Diversidade Biológica. Dentro das 23 metas globais do Marco Global de Biodiversidade de Kunning-Montreal, a regeneração e restauração de ecossistemas são primordiais. Uma das metas, por exemplo, estabelece que todos os 196 países signatários devem fazer um esforço de assegurar que, até 2030, pelo menos 30% das áreas de ecossistemas terrestres degradados, águas interiores, costeiras e marinhas estejam sob restauração eficaz, a fim de promover a biodiversidade, as funções e serviços ecossistêmicos, a integridade ecológica e a conectividade. O IPÊ coopera com mais de 70% das metas globais de biodiversidade.
A restauração e preservação de áreas florestais são essenciais também para que dê certo o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, que estabelece metas para conter o aquecimento global em 1,5ºC ou, no máximo, 2ºC em relação aos níveis pré-industriais.
Para conter os efeitos críticos do aumento da temperatura no mundo, a ONU aponta a necessidade de restauração de 1 bilhão de hectares de florestas no mundo, e 12 milhões de hectares de florestas só no Brasil. No entanto, o Observatório do Clima lançou em 2024 uma proposta mais atualizada para o Brasil cumprir com a redução das suas emissões, a restauração de 21 milhões de hectares de cobertura vegetal em seu território.