POR FELIPE ARARIPE, REPÓRTER ESPECIAL DE PLURALE
ARTE DE DIVULGAÇÃO
Além do megaevento e de todo impacto que o show deste sábado de Lady Gaga na Praia de Copacabana provocará, há uma jornada de compromisso com a sustentabilidade. Gestão de resíduos, a questão da energia e outras ações integram a estratégia ESG do show que promete ser histórico.
Plurale ouviu, com exclusividade, KALLEL KOPP, CEO da IS.ECO, consultoria referência em estratégia de sustentabilidade para grandes eventos e organizações. Como Diretor de Sustentabilidade do projeto Todo Mundo no Rio, liderou a agenda ESG no histórico show da Madonna em Copacabana e também em produções de destaque como o Mita Festival, o Festival Doce Maravilha e a reabertura do tradicional Canecão.
PLURALE - A própria Lady Gaga mencionou recentemente que tem pensado muito mais em sustentabilidade, inclusive em relação ao seu figurino. Vocês precisaram atender a algum pedido da equipe da cantora relacionado à sustentabilidade?
Sem dúvida, a questão da sustentabilidade está cada vez mais presente no universo dos grandes artistas, e Lady Gaga não é exceção. Desde as primeiras reuniões de alinhamento com a equipe da cantora, notamos um cuidado especial em garantir que todos os aspectos ligados à sustentabilidade fossem respeitados.
Além disso, trabalhamos em um sistema de logística reversa para qualquer material trazido pela equipe internacional, assegurando que tudo tivesse destinação apropriada e sustentável, seja via reciclagem, reuso ou doação.
PLURALE - O projeto de ESG do evento continuará sendo realizado nesse mesmo formato nos próximos anos?
Sim, nosso objetivo é perpetuar e aprimorar esse formato de ESG para os próximos eventos. O projeto "Todo Mundo no Rio" foi desenhado justamente para ser um laboratório de excelência em sustentabilidade aplicado a grandes produções culturais. A ideia é criar um legado positivo, tanto no aspecto ambiental quanto social e de governança e que isso se torne a norma para eventos de grande porte na cidade.
Aprendemos muito com o show da Madonna em 2024, que já foi um marco, e agora, com Lady Gaga, elevamos ainda mais o nível de comprometimento, alinhando o evento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Pretendemos continuar evoluindo a cada ano: ampliando práticas de economia circular, fortalecendo ações de acessibilidade e acolhimento, sempre medindo e compartilhando os resultados de forma transparente.
Nosso modelo inclui a publicação de relatórios e uma governança colaborativa com poder público e parceiros privados, reforçando a responsabilidade compartilhada.
3. A energia utilizada no show vem de fontes renováveis?
A preocupação com a matriz energética foi um dos pilares do planejamento do evento. Todo o consumo de energia das estruturas do show foi rigorosamente mapeado e compensado em 110% através da aquisição de créditos de carbono certificados pela ONU, assegurando uma neutralização efetiva das emissões. Para além da compensação, implementamos ações concretas para reduzir o consumo, como a adoção de iluminação de baixa energia em toda a ambientação e o uso de tecnologias eficientes para sonorização e projeções visuais.
Outro diferencial importante foi o uso exclusivo de biodiesel em todos os geradores, uma escolha que contribui diretamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a diminuição do impacto ambiental do evento. Reconhecemos que, devido à magnitude do projeto, ainda há certa dependência de sistemas convencionais de fornecimento de energia, mas priorizamos fornecedores com histórico comprovado de utilização de fontes renováveis sempre que possível. Para os próximos anos, nossa meta é ampliar ainda mais o uso direto de energia renovável na matriz do evento, consolidando o compromisso com a sustentabilidade em todas as etapas da realização.
4. Grandes eventos geram um impacto significativo nas cidades, como resíduos, segurança e transporte. De que forma é possível estruturar um evento para reduzir esse impacto?
Estruturar um grande evento com responsabilidade exige uma abordagem sistêmica e integrada. No "Todo Mundo no Rio", adotamos um plano robusto de sustentabilidade que envolve desde a escolha dos materiais até a experiência dos participantes e a destinação correta dos resíduos.
No campo dos resíduos, investimos na utilização de materiais reutilizáveis e biodegradáveis em todas as áreas de alimentação, substituímos plásticos descartáveis por versões compostáveis e estabelecemos parcerias com cooperativas de catadores para a triagem e recuperação de recicláveis. O lixo orgânico das praças de alimentação é destinado à compostagem, transformando-se em adubo, e materiais de cenografia são reaproveitados ou doados.
A segurança é tratada de maneira participativa, contando com parcerias estratégicas com o poder público que incluem ações como o Centro de Atendimento Exclusivo e a Patrulha Não é Não, reforçando o combate ao assédio e à violência contra as mulheres. Além disso, equipes treinadas trabalham em toda a extensão do evento para garantir acessibilidade, acolhimento e bem-estar, reforçando o apoio a públicos em situação de vulnerabilidade.
Para lidar com o impacto no transporte, incentivamos o uso de transporte coletivo e modal ativo, comunicando de forma ampla para que o público venha de metrô, VLT e ônibus.
Por fim, valorizamos a transparência e o monitoramento contínuo, utilizando indicadores para medir e aperfeiçoar todos os processos, de modo a transformar cada edição em uma referência de impacto positivo.
5. As empresas patrocinadoras têm se mobilizado em relação à sustentabilidade do evento? De que maneira?
Sem as empresas patrocinadoras engajadas, seria impossível alcançar a magnitude de resultados sustentáveis que atingimos. Um dos grandes diferenciais do "Todo Mundo no Rio" é que a sustentabilidade não é apenas uma diretriz, mas faz parte do contrato e das metas dos patrocinadores.
Empresas como Corona, por exemplo, participaram ativamente na construção das iniciativas de resíduos zero, promovendo campanhas de conscientização ambiental ligadas à marca e fomentando o uso de materiais reutilizáveis em todas as ativações.
Além disso, todas as contratações e parcerias realizadas dentro do evento, seja com fornecedores ou colaboradores, incluem cláusulas obrigatórias sobre práticas sustentáveis, conformidade trabalhista e políticas de inclusão e equidade de gênero, ampliando o impacto positivo para além dos limites do evento.
Os patrocinadores também apoiam diretamente a comunicação de temas ambientais e sociais. A soma desses esforços demonstra que eventos desse porte só podem ser transformadores quando cada elo da cadeia, do setor público ao privado, assume uma postura proativa em relação à sustentabilidade.
Kallel Kopp é CEO da IS.ECO, consultoria referência em estratégia de sustentabilidade para grandes eventos e organizações. Como Diretor de Sustentabilidade do projeto Todo Mundo no Rio, liderou a agenda ESG no histórico show da Madonna em Copacabana e também em produções de destaque como o Mita Festival, o Festival Doce Maravilha e a reabertura do tradicional Canecão.