POR SÔNIA ARARIPE, FELIPE ARARIPE E MAURETTE BRAND, DE PLURALE
FOTOS DE FELIPE ARARIPE/ PLURALE
Com a presença do Presidente Lula, do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin, de vários ministros brasileiros, de diversos empresários e autoridades dos 11 países que integram o Bloco BRICS foi realizado ontem o Fórum Empresarial do BRICS, no Rio de Janeiro. O comparecimento maciço de mulheres - empresárias e líderes em seus países - também chamou a atenção em um cenário que costuma ser quase sempre majoritariamente do público masculino. Este foi um dos mais importante eventos paralelos da Cúpula do BRICS, que, pela primeira vez, está sendo realizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
O encontro foi organizado pela CNI - Confederação Nacional da Indústria - como coordenadora do Conselho Empresarial do BRICS (CEBRICS) e da Women´s Business Alliance (WBA), grupos de engajamento do setor privado dos países membros, durante a presidência brasileira do bloco. Aconteceu no Armazèm 4, do Pier da Praça Mauá (Centro do Rio).
O presidente Lula abriu o evento destacando o papel das mulheres no avanço do diálogo e do empreendedorismo. "Não esperem de nós, homens, a mudança que vocês, mulheres, estão realizando no mundo dos negócios." Cumprimentou a todas representadas pela empresária pernambucana Mônica Monteiro, presidente da Aliança das Mulheres - Women´s Business Alliance (WBA).
Destacou a força do bloco BRICS para o comércio e desenvolvimento sustentável global. Lula reforçou que os países do BRICS foram decisivos - com a produção agrícola - de alimentos para combater a escassez diante de guerras e crises. E defendeu o multilateralismo, defendendo que o BRICS poderá ser fiador de um novo desenvolvimento sustentável. "Durante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional. Os Brics seguem como fiador de um futuro promissor", disse Lula.
Segundo Lula, esses países podem liderar um novo modelo de desenvolvimento pautado em agricultura sustentável, indústria verde, infraestrutura resiliente e bioeconomia.
"Nossos países já estão entre os maiores investidores de energia renovável do planeta. Há imenso potencial para ampliar a produção de biocombustíveis, baterias, placas solares e turbinas eólicas. Possuímos minerais estratégicos essenciais para a transição energética".
Também o vice-presidente Geraldo Alckmin discursou na abertura, falando de uma indústria brasileira "mais verde, inovadora e inclusiva".
De acordo com dados do governo brasileiro, os países do BRICS representam 48,5% da população mundial, 36% do território do planeta, 40% do PIB global e 21,6% do comércio (TradeMap; Banco Mundial). A corrente de comércio do Brasil com o BRICS totalizou US$ 210 bi, representando 35% do total em 2024. O bloco foi destino de US$ 121 bi das exportações brasileiras, representando 36% do total exportado pelo Brasil em 2024, e a origem de US$ 88 bi das importações brasileiras, representando 34% do total importado pelo Brasil no mesmo ano (ComexStat). No ano anterior, os investimentos dos países do bloco no Brasil totalizaram cerca de US$ 51 bilhões (Banco Central).
O Bloco do Brics funciona como foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas e reúne 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, frisou a força do bloco econômico. “Em 2023, com os últimos dados disponíveis, o comércio intra-grupo do BRICS movimentou cerca de 1 trilhão de dólares, correspondente a 20% do valor exportado e 30% do total importado pelos países que compõem o grupo. Por isso, o fortalecimento da cooperação é indispensável para a ampliação da integração produtiva”, colocou Alban, que ainda apontou ser este um volume de trocas pequeno, quando comparado com as potencialidades de um aprofundamento da articulação econômica.
Alban elogiou a Embraer - e seu CEO, Franciso Gomes da Costa, como case de sucesso brasileiro. O executivo discursou e falou sobre o papel decisivo do BNDES no financiamento de vendas E destacou os esforços de grupo de trabalho empresarial pelas Finanças sustentáveis, ininovação e cooperação empresarial por um futuro inclusivo e sustentável.
Representando as mulheres empresárias, Mônica Monteiro, destacou a força e a relevância deste grupo. "No bloco BRICS e no Brasil ainda somos minoria. Aqui somos apenas 14% da força de liderança empresarial. Mas estamos avançando e temos mostrado a força do olhar feminino nos negócios", disse. Segundo Mônica, de acordo com relatório da McKinsey Institute, a equiparação entre homens e mulheres no mercado de trabalho pode adicionar mais 28 trilhões de dólares no Produto Interno Bruto (PIB) global de 2025. "Nós, mulheres, ainda enfrentamos barreiras com falta de crédito, falta de rede, falta de acesso às grandes cadeias globais, mas como já disse em outras oportunidades, nós já estamos prontas”, concluiu Mônica.
Um grande desafio é a plena participação das mulheres na economia. Segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), 15% das empresas que atuam internacionalmente são lideradas por mulheres. O Women Entrepreneurs Finance Initiative (WE-FI) aponta que apenas um terço das pequenas e médias empresas no mundo é liderado por mulheres — e 70% dessas empresas enfrentam obstáculos significativos no acesso a crédito, redes de apoio e capacitação. A baixa presença feminina no empreendedorismo nos países do BRICS reflete um cenário marcado pela informalidade, normas culturais restritivas e dificuldades de acesso ao crédito. Na Índia, por exemplo, menos de 1% das mulheres é de empreendedoras formalizadas; na África do Sul, apenas 22% das empresas são lideradas por mulheres (BRICS Women's Development Report 2024).