TEXTO E FOTOS POR FELIPE ARARIPE
REPÓRTER ESPECIAL DE PLURALE (*)

Membras do projeto Pindowa com Clara Cruz, gerente executiva de sustentabilidade da Suzano e Marcia Alves Varanda, consultora de extrativismo sustentável da Suzano
Desde 2013, a cidade de Imperatriz, no Maranhão, vivencia uma transformação significativa. A mudança foi impulsionada pela chegada da Suzano, maior fabricante de celulose do mundo, que escolheu a cidade como sede de uma de suas unidades industriais. Com localização estratégica, no cruzamento entre os biomas Amazônico e Cerrado, na fronteira com o Tocantins e próxima ao Pará, a região passou por uma notável evolução econômica. Atualmente, Imperatriz detém o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do Maranhão e, com a instalação da unidade da Suzano, o PIB municipal teve um salto de 71%.

Espaço Sustentabilidade
O diferencial da unidade maranhense está no relacionamento com as comunidades locais. Localizada em uma área rica em diversidade cultural e social, por ser uma área próxima de muitos estados, a Suzano criou o Espaço Sustentabilidade, dentro da própria fábrica, para fomentar a interação comercial entre iniciativas sociais e seus trabalhadores. Desde sua criação, em 2024, mais de R$ 148 mil foram movimentados com a venda de produtos locais, como os derivados do babaçu produzidos por quebradeiras, açaí e o coffí, bebida feita com grãos de açaí torrados e moídos, semelhante ao café tradicional.
A fábrica de Imperatriz tem capacidade para produzir 1,7 milhão de toneladas de celulose por ano, destinadas à exportação para os Estados Unidos e Europa. A unidade emprega aproximadamente 6 mil pessoas, direta e indiretamente. Desde 2017, também conta com uma planta integrada de papéis sanitários, com produção anual de 60 mil toneladas.

Unidade da Suzano em Imperatriz
Além da produção, a Suzano atua de forma expressiva no desenvolvimento socioeconômico regional. Com cerca de 360 fazendas distribuídas entre Maranhão, Tocantins e Pará, a empresa administra mais de 500 mil hectares nessas regiões. Um dos principais compromissos da companhia é retirar 200 mil pessoas da linha da pobreza até 2030.
Em 2024, a Suzano investiu R$ 28,6 milhões em projetos sociais, sendo 32% desses recursos destinados a ações em áreas do bioma Amazônico. Atualmente, já são cerca de 120 mil pessoas que deixaram a linha da pobreza com apoio da empresa. A atuação se dá em parceria com o setor público, privado e organizações do terceiro setor, através de coinvestimentos que atraem instituições como BNDES, Sofitel, CIRAD, Trias e a Plataforma Parceiros da Amazônia, entre outras.
A gerente executiva de sustentabilidade da Suzano, Clara Cruz, destaca o papel dessas alianças: “Quando você constrói um espaço de governança onde essas comunidades têm espaço onde eles podem expor isso, desencadeia um arranjo de políticas públicas no território. Não andamos sozinhos, o recurso inicial da Suzano chama a atenção para outros irem juntos, ampliando o investimento.”
As quebradeiras de coco e o protagonismo feminino

Quebradeiras de coco babaçu
Uma das iniciativas de maior destaque é o Projeto Pindowa, desenvolvido pela Cooperativa de Extrativistas e Agricultores Familiares da Estrada do Arroz (COOPEAFE), situada nos arredores da fábrica. “Pindowa” é como se denomina o babaçu ainda pequeno, planta típica da região. O babaçu é uma palmeira de até dois metros de altura, cujos frutos são fundamentais para a subsistência de muitas famílias, principalmente mulheres, chamadas de quebradeiras de coco babaçu.
O trabalho das quebradeiras de coco é marcado pelo esforço físico e pela tradição cultural. Em geral, as mulheres se sentam ao chão para quebrar os cocos manualmente, utilizando um machado fixo e um porrete. Apesar de antes sofrerem preconceito, hoje a profissão é motivo de orgulho. Dona Teresinha de Souza Cruz, 64 anos, que começou a quebrar coco ainda criança, aos 10 anos, relata: “Hoje não somos só quebradeiras de coco, somos quebradeiras de preconceitos; por ser uma profissão de muita luta, muito trabalho, mas hoje temos orgulho de dizer que somos quebradeiras de coco”. Ela também destaca o papel ambiental do grupo: “Pra mim não é só a renda do babaçu, mas ver a floresta de babaçu em pé, que foi a única que nós ajudamos para evitar a derrubada.”
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A quebradeira Dona Teresinha de Souza Cruz apresentando os produtos da marca
Com 4.820 participantes, o projeto Pindowa promove práticas sustentáveis, resgate cultural e fortalecimento do empreendedorismo local. As mulheres são capacitadas em oficinas de biojoias, sabonetes artesanais, óleo de babaçu e outros produtos, ampliando a autonomia de sete comunidades.
Clara Cruz reforça a relevância do projeto e a importância para a Suzano, em apoiar estes projetos próximos de suas unidades: “Essa ação de boa vizinhança é quase um dever cívico da companhia, mas a gente vai para além disso, temos aqui uma um projeto que desenvolve o território, que torna esse território mais resiliente, mais empoderado, traz para a gente não só o orgulho, mas também um negócio mais próspero. O negócio é delas, o território é próspero, que inclui a gente e a comunidade. Então, acho que esse é o verdadeiro valor do que a gente faz, é trazer essa prosperidade para um território que é compartilhado entre a Suzano e as comunidades. Acho que isso fala muito com os nossos valores, com a ideia de ter um valor compartilhado, das nossas ações terem esse impacto positivo no mundo. Isso faz muito sentido para Suzano, por isso que a gente investe tanto e tem tanto orgulho de mostrar”.
O projeto teve início a partir de uma ação civil pública, com aporte inicial de R$ 1 milhão. Desde então, a Suzano ampliou o investimento, viabilizando, por exemplo, o primeiro moinho de babaçu da região. Bárbara Medeiros, 29 anos, presidente da cooperativa e filha da quebradeira Zuleide, lembra como a parceria com a Suzano foi transformadora: “Quando a Suzano chegou aqui, tínhamos um conselho das quebradeiras de coco e o conselho fez a demanda na comunidade do que podia melhorar. Havia uma forrageira que soltava muito pó; e aí fomos atrás de um moinho que a Suzano trouxe para nós. Eles sempre recebem a gente de braços abertos; e toda vez agradecemos muito por escutar a gente e as nossas necessidades na Estrada do Arroz. A gente conseguiu depois dessa parceria a unidade. Estamos fazendo uma sede de cooperativa, hoje temos um carro, estamos aprimorando”.

Bárbara Medeiros, presidente do projeto, com sua mãe, Zuleide, quebradeira.
Para Marcia Alves Varanda, consultora de extrativismo sustentável da Suzano na região, o empoderamento comunitário é essencial: “Olhamos que uma comunidade unida por várias pessoas consegue atrair mais recursos e esforços. São muitas famílias na rota da Suzano, que é grande, não conseguimos chegar em 100%, mas para deixar algo consolidado precisamos auxiliar, mas aparecer no cenário até que a comunidade esteja em poder”. Segundo Bárbara, a qualidade dos produtos levou a proposta de parceria com uma grande marca de cosméticos.

Marcia Alves Varanda, consultora de extrativismo sustentável da Suzano na região
O projeto oferece ainda um livro de receitas gratuito no site pindowa.com.br e seus produtos, como óleo, farinha de mesocarpo, sabonetes e artesanato, também podem ser adquiridos pelo Instagram @pindowa_extrativismo.
O reconhecimento chegou também na qualidade de vida para a aposentadoria. Graças ao apoio jurídico obtido, quebradeiras passaram a ser oficialmente reconhecidas como tal na aposentadoria. “Agora temos orgulho que conseguimos uma advogada na questão de aposentadoria de mulheres, que eram reconhecidas como agricultoras, mas eram quebradeiras. Não havia esse tipo de identificação para o perito no momento da aposentadoria. Agora, com a advogada que conseguimos, duas mulheres já se aponsetaram”, conta Mauriana Sobrinho, diretora financeira da cooperativa.
Projeto Sumaúma e a força do empreendedorismo rural
A 70 km de Imperatriz, em Ribamar Fiquene, está localizada a Associação Frei Tadeu, que coordena o Projeto Sumaúma. A iniciativa beneficia mais de 600 pessoas, promovendo empreendedorismo rural e geração de renda, com apoio da Suzano e da empresa italiana Sofidel.
O município que fica localizado na sede da associação já foi um garimpo de diamantes. Após o fim da extração, famílias passaram a depender da agricultura familiar, especialmente da produção de melancia, principal produto produzido. Hoje, o projeto atua em três eixos: capacitação, produção e comercialização. As ações incluem cursos de culinária, produção de queijos artesanais e derivados da apicultura.
Dentre as 150 famílias que são beneficiadas no projeto, está a queijeira Raquel Souza Silva, de 39 anos. O queijo da região é famoso por ser uma mistura entre um queijo mussarela e um queijo coalho, ela conta como de queijeira, ela passou a produzir diversos produtos derivados do leite graças aos cursos que foram oferecidos: “Antes de vir para cá, eu só fazia o queijo, quando comecei aqui, eu fui abrindo minha mentalidade e me qualificar mais ainda e as pessoas foram me enxergando de ter uma capacidade de ser uma pessoa que pode vender um produto que pode manter a saúde da pessoa, como tipos de queijo que eu não fazia anteriormente, como a ricota. Vendo também iogurte grego que eu faço com geléia como abacaxi, cupuaçu, maracujá e manga. Aprendi a fazer doce de leite e manteiga”.

A queijeira Raquel Souza Silva
O município de Ribamar Fiquene, inspirado pela evolução do projeto, prepara sua primeira Feira do Agricultor. Atualmente o projeto também visa trazer qualificação maior para os produtos das queijeiras através de certificados, a Associação já consegue adequar as produtoras com certificado de venda para todo o estado do Maranhão e o município quer criar o selo para as queijeiras do projeto: “O foco de toda essa movimentação foi quando chegou a Suzano, porque nosso recurso era pequeno. Nossos produtos estão obtendo a qualidade, tanto que o município está preparando a primeira feira do agricultor de Ribamar Fiquene”, explica Joucelita Rolim Fagundes, a Dona Jo, vice-presidente da associação e coordenadora do Sumaúma.

Dona Jo, vice-presidente da associação e coordenadora do Sumaúma
Inovação sustentável no campo
A Fazenda Natividade, próxima a Imperatriz, é exemplo da aposta da Suzano em tecnologias sustentáveis na silvicultura. O antigo campo de pecuária agora abriga plantações de eucalipto com uso de biocontroladores para o combate a pragas e irrigação com lodo primário, através do resíduo de um subproduto industrial.
Só em 2024, o uso de biocontroladores evitou o gasto de R$ 22 milhões e a aplicação de 17,1 mil quilos de pesticidas. Segundo Marina Valim, gerente de operações florestais da Suzano: “A gente acredita muito na na companhia que o uso dos pesticidas vai cair em desuso ao longo dos anos. Pensamos na sustentabilidade do negócio, falamos muito na Suzano de inovação e sustentabilidade. Então os biocontroladores vem, claro, no intuito também de redução de custo, mas principalmente trazer uma alternativa mais sustentável no controle de pragas e que seja mais perene, mais perpétua. Quando você faz um combate químico é para aquele momento e já os biocontroladores controlam isso ao longo do ciclo da floresta”.

Marina Valim, gerente de operações florestais da Suzano
Outro método que a Suzano realizou nesta fazenda e que realiza em algumas de suas terras é a irrigação com lodo primário. Essa irrigação utiliza um resíduo orgânico, resultado do processo industrial da Suzano, que ao invés de ser descartado, e ir para aterros, o resíduo acabou sendo pesquisado e foi verificado que ele poderia contribuir no plantio. Esta irrigação é utilizada no começo do plantio do eucalipto, que tem jornada de sete anos até a sua colheita. Sobre a irrigação com lodo, Marina detalha: “Foi verificado que o resíduo era um produto ambientalmente adequado, que não tinha nenhum risco, né, por ser classe 1 e ser inerte, verificamos que tinha sucesso dele até de personalizar em larga escala. Um produto que oferece conforto térmico para o solo, ele ajuda a regular a umidade no momento de plantio da muda, sendo utilizado bem na fase inicial do estabelecimento do plantio”.

Irrigação com lodo primário na prática.
A prática já evitou o consumo de 60 milhões de litros de água, é de autoria da unidade de Maranhão da Suzano, sendo a marca proprietária desta inovação e foi reconhecida com o Prêmio ABTCP 2022 na categoria de inovação e sustentabilidade.
Conservação e restauração ambiental
A Suzano destina cerca de 40% de suas terras, 1,1 milhão de hectares, à conservação ambiental. A empresa também lidera projetos de restauração em 44 mil hectares de áreas degradadas, com mais de 14 milhões de árvores nativas plantadas.O programa de conservação e restauração da Suzano foi considerado pela ONU como um dos 15 projetos mais transformadores do Brasil no tópico da sustentabilidade .
Se tratando da área da Amazônia Legal, na qual está a unidade do Maranhão, a marca amplia o conceito de resgate de mata nativa de um dos biomas mais importantes. Para além dessa obrigação legal de conservação, a Suzano realiza corredores ecológicos, que tem a meta de conectar 500 mil hectares conectando Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Eles possuem um projeto de corredor na Amazônia que vai conectar 200 mil hectares de mata nativa, ao conectar, a empresa preserva a biodiversidade brasileira. A Suzano também possui a maior RPPN do Maranhão, a RPPN Nova Descoberta, que compõem o Mosaico do Gurupi, conjunto de áreas preservadas entre Maranhão e Pará, região com muitos territórios indígenas e originários.
Em 2024, o BNDES aprovou um financiamento de R$ 250 milhões via Fundo Clima para a restauração de 24.304 hectares, o maior já aprovado no país. Esse foi o maior aporte de dinheiro do Fundo Clima para a recuperação de mata nativa degradada no país. Cerca de 60% da área total são de imóveis de terceiros, parceiros da Suzano. De acordo com a vice-presidente executiva de Sustentabilidade, Comunicação e Marca da Suzano, Malu Paiva, esse aporte mostrou a importância da parceria entre o setor público e privado para que soluções para o meio ambiente tenham alcance ampliado: “Esse financiamento contribuirá diretamente para o avanço de algumas metas assumidas pela Suzano, como conectar 500 mil hectares de vegetação nativa até 2030”, afirma Malu Paiva.
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O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, a vice-presidente executiva de Sustentabilidade, Comunicação e Marca da Suzano, Malu Paiva, a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, e o diretor de Planejamento do Banco, Nelson Barbosa. Foto: André Telles/BNDES
(*) O repórter viajou para Imperatriz (MA) a convite, em press trip.










